Descoberta uma inesperada função dos pulmões

Por , em 27.03.2017

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco (EUA) descobriram que os pulmões desempenham um papel muito mais complexo nos corpos de mamíferos do que pensávamos.

Eles não apenas facilitam a respiração, como também possuem funções fundamentais na produção de sangue.

Em ratos, e provavelmente em nós também

Em experimentos envolvendo ratos, os cientistas concluíram que os pulmões produzem mais de 10 milhões de plaquetas (pequenas células sanguíneas) por hora, o que equivale à maioria das plaquetas em circulação nos animais.

Isso vai contra o pressuposto de décadas de que era a medula óssea que produzia praticamente todos os nossos componentes sanguíneos.

Os pesquisadores também descobriram que um conjunto de células-tronco sanguíneas que acreditávamos residir principalmente na medula óssea na verdade são as responsáveis por fabricarem as plaquetas dentro do tecido pulmonar.

“O que observamos em ratos sugere fortemente que o pulmão pode desempenhar um papel fundamental na formação de sangue em seres humanos também”, disse o pesquisador Mark R. Looney.

Nova tecnologia

Células formadoras de plaquetas chamadas megacariócitos já tinham sido vistas nos pulmões antes, mas pensávamos que eles só podiam produzir quantidades limitadas, e que a maioria das células responsáveis pela fabricação de sangue eram mantidas dentro da medula óssea.

No entanto, o que os cientistas viram neste estudo foram megacariócitos funcionando dentro do tecido pulmonar para produzir não poucas, mas a maioria das plaquetas do corpo.

A descoberta foi possível graças a uma nova tecnologia baseada na imagem intravital de dois fótons.

O processo envolve a inserção de uma substância chamada proteína verde fluorescente (PVF) no genoma dos ratos – uma proteína que é produzida naturalmente por animais bioluminescentes, como águas-vivas, e é inofensiva para as células vivas. As plaquetas dos animais, assim, começam a emitir um brilho verde enquanto circulam em torno do corpo, permitindo que a equipe rastreie seus caminhos.

Surpresa

Os pesquisadores notaram uma população surpreendentemente grande de megacariócitos produzindo plaquetas dentro do tecido pulmonar.

O enorme suprimento fabrica mais de 10 milhões de plaquetas por hora nos pulmões de camundongos, o que significa que pelo menos metade da produção total de plaquetas do corpo está ocorrendo ali.

Outras experiências também revelaram vastas quantidades de células-tronco sanguíneas nos arredores do tecido pulmonar – cerca de 1 milhão.

Quando os pesquisadores rastrearam todo o “ciclo de vida” dos megacariócitos, descobriram que eles provavelmente se originam na medula óssea e fazem seu caminho até os pulmões, onde começam a produção de plaquetas.

Implicações

A equipe queria saber quais as implicações desta descoberta no tratamento de condições como inflamação pulmonar e transplante, por exemplo.

Assim, eles começaram transplantando pulmões com células progenitoras de megacariócitos fluorescentes em ratos com baixa contagem de plaquetas. Os transplantes produziram uma explosão maciça de plaquetas que rapidamente restaurou a contagem dos animais para níveis normais. O efeito durou vários meses.

Outra experiência testou o que aconteceria se a medula óssea não estivesse desempenhando um papel na produção de sangue. A equipe implantou pulmões com células progenitoras de megacariócitos fluorescentes em ratos projetados para não possuírem células-tronco do sangue em sua medula óssea.

As células fizeram o seu caminho para a medula óssea, onde não só ajudaram a produzir plaquetas, como outros componentes-chave do sangue, tais como neutrófilos, células B e T também.

Próximos passos

As descobertas precisarão ser replicadas em seres humanos antes que possamos dizer com certeza que o mesmo processo ocorre dentro de nosso corpo, mas é provável que sim.

No futuro, os cientistas querem estudar mais detalhadamente como a medula óssea e os pulmões trabalham juntos para produzir nosso suprimento de sangue.

A pesquisa foi publicada na prestigiada revista científica Nature. [ScienceAlert]

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