Desvendando o Mito: A Verdadeira Capacidade e Consumo Energético do Cérebro Humano

Por , em 24.02.2024

A ideia equivocada de que os seres humanos utilizam apenas 10% da capacidade cerebral já foi amplamente refutada. Essa crença talvez persista por ser atraente a ideia de que, ao acessarmos os 90% supostamente inativos, poderíamos alcançar um patamar de gênio. No entanto, é importante entender que cada segmento do cérebro é vital e está sempre em funcionamento, inclusive durante o sono ou em momentos de pouca reflexão.

Contrariando o que se pode pensar, o consumo de energia do cérebro não é constante e varia conforme o estado mental em que nos encontramos. Tarefas que exigem maior raciocínio podem causar uma sensação de cansaço mental. Embora pareça uma atividade exaustiva, a utilização de energia cerebral é mais complexa do que parece à primeira vista.

O cérebro é, sem dúvida, um órgão que demanda muita energia. Conforme aponta Nilli Lavie, da University College London, “é a parte do corpo que mais consome energia”. Embora represente cerca de 2% do peso corporal, ele utiliza aproximadamente 20% da energia consumida pelo corpo em repouso.

Essa energia é usada principalmente para manter os níveis de carga elétrica nas membranas dos neurônios. Esse estado de desequilíbrio precisa ser restaurado após a ativação de um neurônio, um processo que demanda uma quantidade significativa de energia, como destaca Ewan McNay, da University at Albany, em Nova York.

De forma intrigante, o cérebro não faz distinção significativa no uso de energia entre tarefas consideradas mentalmente desafiadoras e aquelas mais rotineiras. Estudos realizados na década de 1950 demonstraram que o nível de atividade metabólica cerebral é surpreendentemente constante, seja em momentos de cálculos mentais complexos ou em períodos de devaneio. “Até mesmo divagar consome energia neural”, observa Lavie.

O cérebro aloca recursos energéticos para suas diferentes partes de acordo com a atividade mental executada. Contudo, existe um equilíbrio nesse processo. “Quando a demanda de uma tarefa mentalmente exigente aumenta, observamos um aumento do metabolismo nos neurônios responsáveis pela tarefa”, explica Lavie. Simultaneamente, ocorre uma diminuição da atividade em outras áreas cerebrais. Por exemplo, em um estudo conduzido por Lavie e sua equipe, foi observada uma redução no uso de energia na área cerebral responsável pelo devaneio quando os voluntários realizavam tarefas que exigiam atenção concentrada.

Portanto, pensar intensamente eleva o consumo de energia na região cerebral envolvida, mas isso é compensado pela economia de energia em outras partes do cérebro. No entanto, as quantidades de energia envolvidas são mínimas. McNay menciona que uma tarefa de autocontrole, como manter a mão em água gelada pelo maior tempo possível, “consome cerca de 1 caloria de glicose”. Embora seja uma quantidade pequena de combustível, o cérebro a percebe de maneira significativa, preocupando-se com um possível desequilíbrio entre oferta e demanda de energia. Isso leva à sensação de exaustão após um foco prolongado.

A fadiga mental está parcialmente associada à adenosina, um subproduto do metabolismo do adenosina trifosfato (ATP). “Quando o cérebro está consumindo ATP rapidamente, ele produz adenosina, sinalizando para si mesmo um estado de cansaço”, explica McNay. Pesquisas de 2022 também revelaram que pensar intensamente por várias horas leva ao acúmulo de um composto chamado glutamato – o principal neurotransmissor usado pelos neurônios – na parte frontal do cérebro. Um excesso de glutamato pode ser prejudicial, e o cérebro parece se proteger evitando esforços mentais adicionais, gerando assim a sensação de fadiga mental.

Assim, após uma prova difícil, a sensação de ter consumido uma quantidade enorme de energia é real, mesmo que o cérebro tenha utilizado poucas ou nenhuma caloria extra no geral. “Existe uma taxa constante de uso de energia neural no cérebro”, afirma Lavie. “Isso não muda, seja a energia gasta em uma tarefa que exige concentração ou em uma distração.” [New Scientist]

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