Diário secreto brutalmente honesto é descoberto sob o piso de um castelo francês

Por , em 28.07.2020
trecho do diario de joachim martin do piso do castelo chateau pimcontal
“1880. Martin J, da vila Crottes. 38 anos.” Crédito: BBC

Quando você precisa esconder coisas importantes — seja dinheiro ou diários secretos sobre infanticídio — colocar debaixo das tábuas do assoalho pode ser uma boa opção. Foi literalmente o que um carpinteiro do século 19 fez: escreveu um diário cheio de segredos sob as tábuas de um piso que instalou em um castelo, na França, logo antes de pregá-lo.

A descoberta

Os compradores do Chateau de Picomtal, um castelo próximo da fronteira da Suíça, estavam trocando o assoalho e quando removeram as tábuas do velho piso tiveram uma surpresa interessante: um diário secreto.

Naturalmente era o diário do carpinteiro Joachim Martin, que vivia em Les Crottes, uma pequena vila rural próxima, e tinha muito tempo livre em suas mãos.

As 72 mensagens foram feitas a lápis, datadas entre 1880 e 1881 e escritas no decorrer de meses na parte de trás das tábuas do piso que instalava.

Castelo Chateau de Pimcontal, na França
Crédito: Alamy

Padre mulherengo e infanticídios

Em sua maior parte eram fofocas da sua vila. Inúmeros trechos mencionam o padre como “mulherengo”. O diário do piso também inclui fatos chocantes em que o autor admite saber sobre uma série de infanticídios. Um antigo amigo de Martin matou quatro filhos recém-nascidos que teve com a amante: a horrenda antiga solução para falta de controle de natalidade. Ele também disse que os bebês teriam sido enterrados no solo de estábulos. Martin disse que deveria levar o segredo até a morte por causa da lealdade inconveniente. “Ele é meu velho amigo de infância”, o carpinteiro escreveu em conflito. “E a mãe dele é a amante do meu pai.”

trecho do diario de joachim martin do piso do castelo chateau pimcontal
“Este verdadeiro discípulo de Troppman, companheiro de Dumollard e Vitalis [três assassinos famosos da época] tentou várias vezes estragar meu casamento. Tudo o que preciso fazer é dizer uma palavra e apontar o dedo para os estábulos, e eles todos iriam para prisão. Mas não, ele é meu amigo de infância. Eu não o farei. A mãe dele é a amante do meu pai. ” Crédito: BBC

Criticando a corrupção

As elucubrações das tábuas não eram exclusivamente sobre traições e mortes. Datado pouco antes da Revolução Francesa, Martin criticava veementemente a corrupção da Igreja e da administração pública local. Sua raiva era muito específica em relação ao abade, que dizia ser um pervertido. Afirmava que o homem usava o confessionário como seu disque sexo particular. As fiéis eram obrigadas a detalhar ao abade Lagier quando haviam transado e detalhes sobre posições sexuais. O padre era “um mulherengo, lá está ele se curvando para as mulheres, enquanto os pobres maridos cornos precisavam ficar calados”.

É raríssimo encontrar diários antigos de pessoas não aristocratas narcisistas. A bruta honestidade de Martin (ele finaliza suas entradas sobre o abade com: “O porco deve ser enforcado) faz desses registros uma interessante janela na vida de um plebeu do século 19.

Se dirigindo aos futuros leitores de seus segredos

O carpinteiro sagaz também compreendia essas implicações já que se dirige aos leitores em várias passagens: “Feliz Mortal. Quando você ler isso, não estarei mais aqui”, incluindo: “Minha história é curta, sincera e franca, porque ninguém além de você verá meus escritos”.

trecho do diario de joachim martin do piso do castelo chateau pimcontal
“Feliz Mortal. Quando você me ler, eu não estarei mais aqui. Seja mais sábio do que eu era dos 15 aos 25 anos, quando vivi por nada além de amor e bebida, fazendo pouco e gastando muito. Eu era um violinista.” Crédito: BBC

É possível que Martin, um carpinteiro plebeu, soubesse que o único jeito de garantir que suas palavras seriam preservadas para eras posteriores seria escondê-las no lugar em que tinha certeza que permaneceria em bom estado: no castelo de um rico aristocrata. [Cracked, BBC]

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