“Eduardo Mãos de Tesoura”, criatura que viveu há 230 milhões de anos, é descoberta no Brasil

Por , em 18.08.2023
Ilustração artística de Venetorapter gassenae, que viveu cerca de 230 milhões de anos atrás. (Crédito da imagem: Caio Fantini)

Um réptil pré-histórico com mãos desproporcionalmente grandes e garras alongadas semelhantes a espadas foi descoberto na região sul do Brasil. As garras do réptil, lembrando aquelas vistas no personagem Edward Mãos de Tesoura, possivelmente tinham papéis na caça ou escalada em árvores, de acordo com Rodrigo Müller, um paleontólogo da Universidade Federal de Santa Maria no Brasil.

Os restos desse criatura incomum foram encontrados por Müller e sua equipe em uma fazenda de arroz no estado do Rio Grande do Sul, localizado no sul do Brasil. Esse réptil antigo viveu aproximadamente 230 milhões de anos atrás, durante o período Triássico, que abrangeu de 252 a 201 milhões de anos atrás. Müller propõe que o bico grande e afiado da criatura era usado para consumir insetos, frutas e pequenos animais como lagartos. As garras da criatura, ele sugere, provavelmente tinham funções multifuncionais, servindo tanto para escalar quanto para manipulação de presas.

Em uma referência ao bico distintivo semelhante a raptores e suas garras agarradoras, os pesquisadores apelidaram o réptil de “Venetorapter gassenae”. A análise dos fragmentos esqueléticos preservados indica que V. gassenae tinha cerca de 27,5 polegadas (70 centímetros) de altura e media cerca de 39 polegadas (1 metro) de comprimento. Essas características sugerem que o espécime era um adulto.

Caracterizado por uma pelagem semelhante a penas e uma cauda comprida, V. gassenae pertence à categoria de lagerpetídeos. Esses répteis serviram como precursores dos pterossauros, os répteis voadores que dominaram os céus durante a era dos dinossauros. Um quarto dígito alongado nas garras fossilizadas da mão direita de V. gassenae fornece uma característica única não observada anteriormente nos lagerpetídeos. Esse aspecto indica uma ligação estreita entre V. gassenae e pterossauros, com Müller propondo que esse dígito alongado desempenhou um papel no suporte das asas dos pterossauros.

Tradicionalmente, acredita-se que os lagerpetídeos eram menos variados em termos de anatomia em comparação com os pterossauros e dinossauros. No entanto, após analisar fósseis de 18 espécies de dinossauros, 10 espécies de pterossauros e seus predecessores reptilianos, incluindo V. gassenae, a equipe encontrou evidências que sugerem que os lagerpetídeos podem ter exibido diversidade comparável aos pterossauros e até mesmo superando os dinossauros que existiram durante o período Triássico.

À medida que mais fósseis de V. gassenae forem descobertos, Müller acredita que uma compreensão mais abrangente da dieta, aparência e habitat da criatura possa surgir.

A descoberta do réptil pré-histórico “Venetorapter gassenae” no sul do Brasil revela detalhes intrigantes sobre a fauna do passado distante. Sua anatomia única, com garras impressionantemente alongadas e um bico afiado, oferece insights sobre suas estratégias de caça e comportamento. A presença de um quarto dígito alongado em sua mão direita sugere uma relação evolutiva estreita com os pterossauros, levantando questões sobre como essa característica contribuiu para sua capacidade de voo.

Além disso, a diversidade surpreendente dos lagerpetídeos, da qual V. gassenae faz parte, coloca em perspectiva as narrativas tradicionais sobre a evolução desses répteis. Sua diversidade comparável aos pterossauros e, possivelmente, até superior à dos dinossauros do período Triássico desafia nossas concepções prévias sobre a complexidade das formas de vida daquela época.

Com mais escavações e descobertas futuras, poderemos esclarecer mais sobre o estilo de vida de V. gassenae, sua interação com o ambiente e até mesmo sua possível relação com outras criaturas contemporâneas. Essas descobertas não apenas ampliam nosso conhecimento sobre o passado da Terra, mas também oferecem pistas importantes para entender como os organismos se adaptaram e evoluíram ao longo de milhões de anos.

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