Essa pode ser a origem do humor humano

Por , em 15.02.2024

Bonobos, orangotangos, gorilas e chimpanzés se envolvem em comportamentos como provocar, fazer cócegas e subtrair itens de seus companheiros de forma lúdica e brincalhona. A análise dessas ações travessas desses primatas pode ser uma chave para os cientistas compreenderem as origens do senso de humor humano.

Pesquisas anteriores sugerem que os chimpanzés podem praticar provocações conflituosas ou importunação para afirmar suas posições na hierarquia social. No entanto, quando há um equilíbrio entre diversão e agressão, a provocação pode se transformar em uma atividade alegre e lúdica. Isabelle Laumer, do Instituto Max Planck de Comportamento Animal na Alemanha, ressalta essa dualidade.

“Até o momento, não houve um estudo sistemático sobre o lado divertido da provocação”, afirma Laumer. “Portanto, nosso objetivo era desenvolver e aplicar critérios para identificar a provocação lúdica entre os primatas.”

Para atingir esse objetivo, Laumer e sua equipe coletaram gravações de vídeo de cinco espécies de grandes primatas: bonobos (Pan paniscus), orangotangos de Sumatra (Pongo abelii), gorilas ocidentais e orientais (Gorilla gorilla e Gorilla beringei) e chimpanzés (Pan troglodytes), todos habitando zoológicos.

Eles analisaram 75 horas de filmagem, documentando 504 interações entre esses animais. Dessas, 142 foram identificadas como episódios de provocação lúdica, envolvendo ações como cutucar, bater, puxar cabelo, obstruir movimento e roubar objetos.

“A provocação envolve um elemento de desafio”, observa Laumer. “Geralmente parte do provocador e é frequentemente unilateral, com repetições constantes.”

Os pesquisadores notaram que os provocadores geralmente olhavam para o rosto do alvo imediatamente após uma ação, indicando a expectativa de uma reação. Se não houvesse resposta do alvo, o provocador normalmente intensificava suas ações, como cutucar mais insistentemente.

Um indicador importante de que a provocação era lúdica, em vez de hostil, era que geralmente ocorria em ambientes tranquilos e relaxados. “Durante essas interações, os indivíduos pareciam estar à vontade”, comenta Laumer.

Casos de roubo foram considerados lúdicos quando o objeto roubado não apresentava valor claro para o provocador ou se o interesse no objeto diminuía rapidamente após a apropriação.

“A provocação lúdica é um comportamento comum entre os quatro grandes primatas”, afirma Laumer. Assim como o jogo em geral, esse comportamento pode ser útil para desenvolver relacionamentos entre membros do grupo e explorar limites sociais, sugere ela.

O último ancestral comum entre humanos e esses grandes primatas também pode ter se engajado em provocações lúdicas, o que pode ter sido o precursor da nossa afinidade por piadas, acrescenta Laumer.

“Estudar os grandes primatas é fundamental para entender quais características do pensamento e comportamento humano são compartilhadas e provavelmente evoluíram há milhões de anos com um ancestral comum”, menciona Christopher Krupenye da Universidade Johns Hopkins em Maryland. “Esta pesquisa não apenas demonstra que todos os primatas participam de comportamentos de provocação lúdica, mas também traça um caminho para futuras pesquisas em outras espécies.”

Essa abordagem mais profunda no estudo dos primatas não apenas ilumina aspectos do comportamento animal, mas também fornece insights valiosos sobre a evolução do comportamento e da cognição humana. Ao observar esses animais em seus habitats naturais ou em ambientes controlados como zoológicos, os cientistas podem desvendar mistérios sobre a nossa própria natureza e como nossos ancestrais podem ter interagido e se comunicado.

A natureza lúdica da provocação entre os primatas sugere uma complexidade em suas interações sociais que vai além da mera sobrevivência e hierarquia. Essas brincadeiras, embora pareçam simples, carregam camadas de significado e função dentro do grupo, desde estabelecer e testar laços sociais até o desenvolvimento de habilidades cognitivas e emocionais.

Essa pesquisa abre portas para novas perguntas e investigações sobre como os primatas, incluindo os humanos, utilizam a brincadeira e a provocação não apenas para entretenimento, mas como ferramentas essenciais para o desenvolvimento social e cognitivo. A interação lúdica, portanto, não é apenas um meio de passar o tempo, mas um componente vital na construção e manutenção de comunidades saudáveis e funcionais, tanto para os primatas não-humanos quanto para os humanos.

Consequentemente, estudos futuros podem explorar mais a fundo como esses comportamentos se manifestam em diferentes espécies e ambientes, e o que eles podem nos ensinar sobre as raízes evolutivas do comportamento social e do desenvolvimento cognitivo. Essa compreensão mais profunda da natureza lúdica dos primatas não só enriquece nosso conhecimento sobre o reino animal, mas também oferece uma janela para o entendimento de aspectos fundamentais da natureza humana. [New Scientist]

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