O fotógrafo belga Paul Bulteel sempre foi fascinado pela intersecção entre indústria e sustentabilidade. É por isso que decidiu passar cerca de 18 meses visitando 50 operações de reciclagem em cinco países para a sua série de fotos “Cycle and Recycle” (em tradução livre, algo como “Ciclo & Reciclar”).
“[Quero] confrontar o espectador com os volumes e variedade de sobras de nossa sociedade, e documentar os esforços em curso para a reciclagem”, disse o artista ao site The Wired.
Os locais fotografados ficam todos na Europa, um continente que tem sido um líder na reciclagem desde 1975, quando passou uma legislação tornando a reutilização de resíduos uma prioridade séria. Ainda assim, cerca de 1,6 bilhões de toneladas de lixo (dos 2,5 bilhões gerados pela União Europeia por ano) são queimados ou despejados em aterros sanitários anualmente.
Para reduzir ainda mais esse número, a Comissão Europeia adotou novas regras em dezembro destinadas a passar a reciclar 65% de todos os seus resíduos urbanos em 2030.
O Brasil, no final de 2014, lançou o Plano Nacional de Resíduos Sólidos como uma forma de incentivar a reciclagem de todo tipo de lixo. De acordo com o site G1, os brasileiros jogam fora 76 milhões de toneladas de lixo por ano, 30% dos quais poderiam ser reaproveitados, mas só 3% vão para a reciclagem.
Arte no lixo
Bulteel passou mais de três décadas trabalhando no setor da energia. Depois de se aposentar em 2007, tomou a fotografia como principal ocupação e começou a explorar a relação entre as pessoas e seu ambiente urbano.
A série “Cycle and Recycle” foi iniciada no final de 2013, quando ele registrou velhos materiais de construção em Antuérpia e percebeu que fotografar a reciclagem era uma maneira mais otimista de falar sobre resíduos.
Durante o próximo ano e meio, Bulteel visitou operações de reciclagem na Bélgica, Holanda, Alemanha, França e Luxemburgo. Algumas eram parte de conglomerados multinacionais, enquanto outras eram empresas locais. Os materiais reciclados foram igualmente diversos.
As imagens finais são tão lindas que é fácil esquecer que estamos olhando para o lixo. Uma pilha de cabos laranja e rosa se assemelha a uma instalação escultórica artística. Cobre estanhado puxado de motores elétricos se parece com cabelo humano. Pneus empilhados ordenadamente criam um padrão quase hipnótico.
Bulteel espera suas imagens levem as pessoas a querer saber o que acontece com as coisas que elas jogam fora. “Eu não sou um apóstolo com a missão de pregar para o resto do mundo, mas se esse projeto puder trazer uma pequena contribuição para uma melhor compreensão da questão, então eu seria uma pessoa muito, muito feliz”, disse. [Wired, G1]
Fotos
Cacos de vidro verdes esperam para ser derretidos em uma fábrica de vidro para fazer frascos para a indústria de bebidas. Eles foram recolhidos de habitações e empresas por uma companhia especializada em reciclagem de vidro
Embalagens de bebidas de papelão, polietileno e alumínio comprimidas em uma fábrica especializada em reciclagem de papel. Durante o processo de reciclagem, cada material é isolado. O papelão se torna produtos como toalhas de papel e papel higiênico. O alumínio e o polietileno são enviados para outros lugares
Empresas especializadas inspecionam pneus usados e os preparam para o mercado de segunda mão
Cabos recuperados para serem usados em instalações críticas, para evitar congelamento e manter a temperatura da tubulação
Radiadores de carros sucateados contêm cobre e outros metais. Eles são separados num processo pirometalúrgico para serem reutilizados. As cinzas resultantes do processo são reutilizadas para estabilizar concreto na construção de estradas, entre outras coisas
Recortes de alumínio são compactados em grandes blocos atados com laca de ouro usada para embalagem de latas de cerveja. Na fundição de uma reciclagem, a laca é queimada e o alumínio fundido é reconvertido em novos blocos que podem ser usados para produzir novas latas
Resíduos industriais de poliuretano e lã serão picados para ser reutilizados em várias coisas, desde embalagem a isolamento acústico e almofadas de choque
Placas de circuito recuperadas são trituradas e fundidas. Através de processos especiais, metais preciosos como ouro, prata, platina, paládio e ródio, bem como chumbo, cobre, estanho, níquel, selênio e outros elementos são recuperados
Veículos esperam para ser triturados. O metal será usado para fazer aço
Para-brisas usados são reciclados. O processo envolve a separação do vidro a partir da camada laminada de plástico que o impede de despedaçar. O vidro transformado pode ser usado para fazer novos para-brisas, enquanto o metal é reciclado e o plástico é utilizado em telhados e colas de tapete
Fio de cobre estanhado tirado de motores elétricos
Celulares velhos são destruídos, e derretidos em um forno. Os metais são extraídos para reutilização. Trinta e cinco mil telefones celulares produzem cerca de um quilograma de ouro, cinco quilos de prata, 150 gramas de paládio e 350 quilos de cobre
Vidro que será usado para fabricar garrafas transparentes ou vidro arquitetônico
Os resíduos orgânicos a partir de alimentos, jardins e fraldas são recolhidos em habitações e empresas. O composto será usado como adubo no setor da agricultura
Resíduos de gesso cartonados e da produção de placas de gesso serão reciclados para fazer novas placas
Metal recuperado a partir das cinzas de um forno de leito fluidizado será usado para fazer aço
Nessa instalação, frigoríficos são desmontados para separar suas várias partes para reciclagem