Essas 3 coisas vão permitir fazer o upload da sua mente para um computador

Por , em 6.12.2023

Visualize um futuro onde a tecnologia de escaneamento cerebral avance a ponto de nos permitir observar a comunicação entre neurônios individuais.

Pense na possibilidade de registrar esses dados para construir uma réplica digital de um cérebro humano.

Este conceito é o cerne da “transferência mental” – uma teoria que sugere a potencialidade de transpor a consciência humana de um ente biológico para uma plataforma digital.

Essa noção surgiu do movimento transumanista e é apoiada por personalidades como Ray Kurzweil, especialista em ciência da computação, Nick Bostrom, filósofo, e Randal Koene, neurocientista.

Os transumanistas almejam elevar a experiência humana através de avanços científicos e tecnológicos. Eles especulam que a transferência mental poderia oferecer uma longevidade indefinida (embora não imortalidade).

Essa tecnologia poderia potencialmente aprimorar as capacidades humanas, permitindo que cérebros digitais operem de forma mais rápida e eficiente que seus equivalentes biológicos. Esta visão representa um sonho utópico para o futuro, mas sua praticidade ainda é incerta.

A viabilidade da transferência mental depende de três hipóteses fundamentais.

A primeira é tecnológica – a crença no desenvolvimento de tecnologias de transferência mental num futuro próximo.

A segunda é a noção de uma mente sintética – a crença de que um cérebro digital poderia manifestar uma consciência genuína.

A terceira diz respeito à preservação da identidade – a crença de que a entidade criada por esse processo representaria autenticamente “você”, permitindo a continuidade da sua consciência.

Quão realistas são essas suposições?

O Desafio Tecnológico

Simular o cérebro humano representa um desafio imenso devido à sua complexidade sem paralelo no universo conhecido.

Ele contém aproximadamente 86 bilhões de neurônios e um número igual de células não-neuronais, com uma estimativa de trilhões de conexões sinápticas. Para comparação, a Via Láctea tem cerca de 200 bilhões de estrelas.

Os esforços atuais em neurociência envolvem a criação de modelos tridimensionais (“conectomas”) dos cérebros de organismos simples.

O conectoma mais complexo mapeado até agora é o de uma larva de mosca-da-fruta, composto por cerca de 3.000 neurônios e meio milhão de conexões. Mapear um cérebro de rato pode ser possível dentro de uma década.

Contudo, o cérebro humano é cerca de mil vezes mais complexo que o de um rato. Isso significa que levaríamos 10.000 anos para mapear um cérebro humano? Não necessariamente, considerando os avanços rápidos em campos semelhantes, como o Projeto Genoma Humano.

Decodificar o primeiro genoma humano levou anos e um investimento financeiro substancial, mas agora pode ser feito em horas por uma fração do custo. Seguindo essa trajetória, as tecnologias de transferência mental poderiam surgir dentro de algumas gerações.

No entanto, desafios permanecem. Além de mapear o cérebro, observar neurônios individuais em ação é essencial para simular um cérebro funcional, e não está claro se isso é alcançável em breve.

O Debate da Mente Sintética

A questão surge: uma simulação digital do cérebro poderia dar origem a uma mente consciente como a nossa? Isso depende da relação entre nossas mentes e corpos.

Ao contrário do filósofo do século XVII, René Descartes, que via mente e corpo como fundamentalmente distintos, a maioria dos filósofos contemporâneos vê a mente como uma entidade física. Essencialmente, sua mente é seu cérebro.

Mas uma mera simulação do cérebro poderia gerar uma mente real?

Muitos cientistas cognitivos argumentam que é a estrutura neural complexa do cérebro, e não sua composição biológica, que cria a consciência.

Uma simulação de cérebro em computador espelharia essa estrutura. Cada neurônio simulado e conexão sináptica corresponderia a um componente no hardware do computador, replicando a estrutura do seu cérebro e, consequentemente, sua consciência.

Os sistemas de inteligência artificial atuais, funcionando em redes neurais artificiais que emulam algumas estruturas cerebrais, são capazes de realizar tarefas cognitivas complexas, oferecendo algum suporte à teoria estrutural da mente.

O Enigma da Identidade

Supondo que um cérebro humano possa ser simulado e tal simulação crie uma mente consciente, a questão se torna: essa entidade digital realmente seria você ou apenas um duplicado cognitivo?

Este dilema relaciona-se a uma questão filosófica sobre identidade pessoal: o que garante a continuidade do eu de um dia para o outro?

Os filósofos geralmente se dividem em dois grupos em relação a isso. Um grupo, a perspectiva biológica, argumenta que a continuidade é mantida através de processos biológicos. O outro, a perspectiva mental, acredita que é nossa vida mental – memórias, crenças, traços de caráter – que define nossa identidade.

Para testar sua intuição, imagine seu cérebro transplantado para o corpo de outra pessoa. O indivíduo resultante, possuindo suas memórias e personalidade, seria você (como sugere a perspectiva mental), ou seria o doador do corpo (conforme a visão biológica)?

Em essência, um transplante de cérebro equivale a adquirir um novo corpo ou instilar uma nova mente? Isso tem implicações significativas.

Se a perspectiva biológica for correta, a transferência mental pode não ser viável, dado seu pressuposto de abandonar a biologia. Por outro lado, se a perspectiva mental prevalecer, a transferência mental poderia de fato ser uma continuação da vida mental atual.

Uma Complicação Crucial

Mas e se, após a transferência, seu eu biológico original também sobreviver? Seu consciente se dividiria entre as formas biológica e digital, resultando em duas versões de “você”?

Logicamente, você não pode se dividir em duas entidades separadas e ser idêntico a ambas. Após tal divisão, é provável que sua forma biológica seja considerada o eu autêntico, com a versão digital sendo apenas uma cópia cognitiva. Mas a destruição da sua forma biológica validaria a cópia digital como o verdadeiro você? Essa noção, embora filosoficamente considerada, parece improvável.

Um Salto de Fé

Infelizmente, não podemos verificar empiricamente as hipóteses da mente sintética e da preservação da identidade sem realmente passar pela transferência mental.

Assim, decidir transferir a própria mente é um salto monumental de fé. Pessoalmente, tal decisão só pareceria viável se minha existência biológica estivesse chegando ao fim. [Science Alert]

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