Estrela anã super fria possui três planetas potencialmente habitáveis em sua órbita
Usando o telescópio TRAPPIST, do Observatório Europeu do Sul (ESO, do inglês European Southern Observatory), em La Silla, Chile, astrônomos descobriram três planetas orbitando uma estrela anã ultrafria a apenas 40 anos-luz da Terra. Esses mundos têm tamanhos e temperaturas semelhantes a Vênus e a Terra e são os melhores alvos encontrados até agora em nossa busca de vida fora do sistema solar. Eles são os primeiros planetas já descobertos em torno de uma estrela tão pequena e fraca. Os novos resultados foram publicados nesta segunda-feira, dia 2, na revista “Nature”.
Uma equipe de astrônomos liderada por Michaël Gillon, do Instituto de Astrofísica e Geofísica da Universidade de Liège, na Bélgica, usou o telescópio remoto belga TRAPPIST para observar a estrela 2MASS J23062928-0502285 – agora também conhecida como TRAPPIST-1.
Os pesquisadores descobriram que esta estrela fraca e fria apagava-se um pouco em intervalos regulares, indicando que vários objetos estavam passando entre ela e a Terra. A análise detalhada mostrou que os responsáveis eram três planetas com tamanhos semelhantes ao da Terra. As informações são do portal Science Daily.
A TRAPPIST-1 é uma estrela anã ultrafria – muito mais fria e mais vermelha do que o sol e um pouco maior do que Júpiter. Essas estrelas são muito comuns na Via Láctea e duram muito tempo, mas esta é a primeira vez que planetas foram encontrados em torno de uma delas. Apesar de estar tão perto da Terra, a estrela é muito fraca e muito vermelha para ser vista a olho nu ou mesmo com um grande telescópio amador – situa-se na constelação de Aquário.
Vida extraterrestre
Emmanuël Jehin, coautor do novo estudo, está animado com a perspectiva que a descoberta traz. “Esta é realmente uma mudança de paradigma no que diz respeito à população de planetas e o caminho em busca de vida no universo”, aponta em entrevista ao Science Daily. “Até agora, a existência de tais ‘mundos vermelhos’ orbitando estrelas anãs ultrafrias era puramente teórica, porém não temos apenas um planeta em torno de uma estrela vermelha fraca, mas um sistema completo de três planetas!”.
“Por que estamos tentando detectar planetas como a Terra em torno das menores e mais frias estrelas da vizinhança solar?”, questiona Michaël Gillon, principal autor do artigo. “A razão é simples: os sistemas em torno destas pequenas estrelas são os únicos lugares onde podemos detectar vida em um exoplaneta do tamanho da Terra com a nossa tecnologia atual. Portanto, se queremos encontrar vida em outros planetas, este é o lugar onde devemos começar a procurar”.
Os astrônomos vão procurar por sinais de vida estudando o efeito que a atmosfera de um planeta em trânsito tem sobre a luz que chega à Terra. Para planetas do tamanho da Terra orbitando a maioria das estrelas, este efeito minúsculo é inundado pelo brilho da luz das estrelas. Apenas no caso de estrelas anãs vermelhas fracas ultrafrias – como a TRAPPIST-1 – é que esse efeito é grande o suficiente para ser detectado.
Nossos parentes distantes
Observações de acompanhamento com telescópios maiores, incluindo o instrumento HAWK-I no Very Large Telescope do ESO, no Chile, de 8 metros, mostraram que os planetas que orbitam a TRAPPIST-1 têm tamanhos muito semelhantes ao da Terra. Dois dos planetas têm períodos orbitais de cerca de 1,5 dias e 2,4 dias, respectivamente, e o terceiro tem um período que ainda não está bem determinado, na faixa de 4,5 a 73 dias.
“Com períodos orbitais tão curtos, os planetas estão entre 20 e 100 vezes mais perto de sua estrela do que a Terra do sol. A estrutura deste sistema planetário é muito mais semelhante em escala ao sistema das luas de Júpiter do que ao sistema solar”, explica Gillon.
Embora eles orbitem muito perto de sua estrela, os dois planetas mais próximos dela só recebem quatro vezes e duas vezes, respectivamente, a quantidade de radiação recebida pela Terra, porque a sua estrela é muito mais fraca do que o sol. Isso os coloca mais próximo da estrela do que a zona habitável ditaria, embora ainda seja possível que existam regiões habitáveis em suas superfícies. O terceiro planeta, mais exterior, tem uma órbita que ainda não é bem conhecida, mas provavelmente recebe menos radiação do que a Terra, contudo talvez isso ainda seja o suficiente para ficar dentro da zona habitável.
O futuro
“Graças a vários telescópios gigantes atualmente em construção, incluindo o E-ELT do ESO e o James Webb Space Telescope da NASA/ESA/CSA, que deve ser lançado em 2018, nós em breve seremos capazes de estudar a composição da atmosfera desses planetas e explorá-los primeiro em busca da água e, em seguida, de traços de atividade biológica. Isso é um passo de gigante na procura de vida no universo”, conclui Julien de Wit, coautor do estudo e integrante do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA.
Este trabalho mostra uma nova direção na caça aos exoplanetas, já que cerca de 15% das estrelas próximas ao sol são anãs ultrafrias, e também serve para destacar que a busca por exoplanetas já entrou no reino dos primos potencialmente habitáveis da Terra. A pesquisa do TRAPPIST é um protótipo para um projeto mais ambicioso chamado Speculoos, que será instalado no Observatório do Paranal do ESO. [Science Daily]