Aroma popular parece inverter a calvície em estudo

Por , em 19.09.2018

Um novo estudo descobriu que sândalo sintético, ingrediente frequente em produtos como pot-pourri e perfumes, tem um efeito inesperado sobre o crescimento do cabelo.

Pesquisadores de uma equipe internacional fizeram testes laboratoriais no tecido do couro cabeludo humano e concluíram que o aroma estimula o crescimento após apenas seis dias.

Estranhamente, acredita-se que os folículos pilosos contêm “receptores de cheiros” que respondem ao odor, acionando a principal proteína do cabelo a se multiplicar.

Surpreendente

O estudo, patrocinado em parte pela Giuliani Pharma, uma empresa farmacêutica italiana que vende sândalo sintético, mostrou que as células em torno da raiz de cada cabelo podem “cheirar” e, mais importante, responder ao aroma.

“Este é realmente um achado bastante surpreendente”, disse o professor de medicina cutânea e um dos autores do estudo Ralf Paus, da Universidade de Manchester (Reino Unido). “Esta é a primeira vez que foi demonstrado que a remodelação de um mini-órgão humano normal (cabelo) pode ser regulada por um odorante simples e cosmeticamente amplamente utilizado”.

Cheiro e cabelo

Os folículos capilares, o pequeno aglomerado de células que circundam a raiz de todo cabelo, contêm um sensor molecular chamado OR2AT4, encontrado em todo o corpo.

Normalmente, ele é estimulado por moléculas odoríferas no nariz e desencadeia uma reação que resulta na percepção do olfato.

Mas tais receptores são na verdade antigos sistemas de sinalização química que evoluíram antes que os humanos desenvolvessem o sentido do olfato. Ou seja, embora só possamos cheirar pelo nariz, receptores no cabelo, no esperma e até no intestino são capazes de reconhecer substâncias químicas em certos aromas.

Como os cientistas constataram, os receptores OR2AT4 ainda ficam excitados pelo cheiro mesmo quando estão na sua cabeça.

O experimento

Estudos já haviam mostrado anteriormente que a exposição das células da pele humana ao sândalo fazia com que a proteína queratina se multiplicasse, o que acelera a cicatrização de feridas.

Intrigados se o aroma também poderia impulsionar o crescimento do cabelo, pesquisadores no Laboratório Monasterium, em Münster (Alemanha), expuseram o tecido do couro cabeludo humano ao odor artificial Sandalore.

O tecido veio de doadores, com idades entre 38 e 69 anos, que haviam sido submetidos recentemente a cirurgias plásticas de lifting facial.

Seis dias após o tecido ser exposto ao Sandalore, seus níveis de queratina começaram a aumentar. Acredita-se que isso se deve ao fato de o óleo bloquear os genes que levam células de queratina a “cometer suicídio”, em um processo conhecido como apoptose.

Os resultados também sugerem que o óleo aromático estimula a liberação de “fatores de crescimento”, que podem incluir vitaminas ou hormônios necessários para as células se multiplicarem e prosperarem.

Em detalhes

Os pesquisadores concluíram que o Sandalore pode influenciar o ciclo de vida do cabelo. Na primeira fase, o cabelo começa a crescer profundamente no folículo piloso.

Na segunda fase, as células foliculares lentamente param de se transformar em células ciliadas e começam a morrer. Exaustos de toda essa atividade, os folículos literalmente ejetam a haste do cabelo de sua cabeça e entram em um período de descanso, durante o qual se preparam para recomeçar o ciclo.

No estudo, os cientistas notaram que expor os folículos pilosos (e seus receptores OR2AT4) ao sândalo sintético prolonga a fase de crescimento do ciclo capilar, mediando uma molécula-chave que impulsiona esse ciclo: uma proteína chamada IGF-1.

A hipótese, portanto, é de que expor OR2AT4 a Sandalore cria mais IGF-1, o que, por sua vez, tende a impedir que as células morram na fase dois, teoricamente mantendo-as crescendo na fase um.

No futuro

As descobertas podem levar a um tratamento de calvície à base de sândalo que pode beneficiar homens que começam a perder cabelo desde os 25 anos.

É importante observar que Sandalore é um produto sintético, não de sândalo natural. O sândalo real provavelmente não estimula o crescimento do cabelo, uma vez que não se liga ao OR2AT4. São os componentes sintéticos do Sandalore que conduzem a esse efeito.

Felizmente, odorantes de sândalo sintético são mais prevalentes no mercado dos cosméticos e perfumes, já que o sândalo natural é mais caro e mais sensível (ou seja, pode causar alergias).

Por enquanto, mais estudos e ensaios clínicos precisam confirmar as potencialidades desta terapia. Um deles já está acontecendo agora mesmo, com resultados que devem chegar por volta de janeiro de 2019.

Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Nature Communications. [Inverse, DailyMail]

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