Calvície: o quão perto estamos de uma cura?

Por , em 13.07.2015

O famoso aeroporto de mosquito não é mais o exílio social que costumava ser, mas a experiência de perda de cabelo ainda é estressante e frustrante para muitas pessoas.

Cerca de 70% dos homens e 40% de mulheres passam por algum grau de queda de cabelo à medida que envelhecem, quase geralmente como um resultado da alopecia androgênica (AAG), também conhecida como a calvície padrão masculina ou feminina. Apesar de atualmente existir uma série de produtos e tratamentos para lutar contra este problema, a chamada “cura” permanente provavelmente seria uma descoberta científica que deixaria muita gente feliz – lado a lado com comer bacon sem aumentar o colesterol ou chaves de casa imperdíveis.

Mas tal cura é realmente possível? E se for, o quão longe disso nós estamos?

Com cabelo hoje, careca amanhã

Pelos padrões convencionais, a linha atual de tratamentos de perda de cabelo é muito eficaz, embora em última análise, tenha capacidade limitada. Finasterida e minoxidil são medicamentos muito seguros que aumentam significativamente e até mesmo regeneraram a capacidade de crescer cabelo.

Em resumo: o cabelo cresce continuamente a partir de um único folículo por um período de cerca de quatro anos, o tempo todo sendo alimentado por células circundantes. O folículo, em seguida, passa por uma curta fase de hibernação de cerca de três meses, se recupera e solta o fio de cabelo atualmente anexado a ele antes de iniciar a produção de um substituto. Em qualquer momento, cerca de 10% dos nossos folículos estão nesse estado de repouso, enquanto o resto está feliz e contente bombeando tubos de queratina.

No entanto, o ciclo pode ser interrompido ou encurtado por um certo número de coisas, incluindo quando os níveis sanguíneos do andrógeno dihidrotestosterona (DHT) são elevados demais, tal como acontece com a AAG, ou quando o sistema imunitário é compelido erroneamente a atacar o folículo, tal como acontece com alopecia areata (AA). Ele também pode ser permanentemente desligado quando os folículos estão danificados além do que é possível reparar (nós nascemos com todos os folículos pilosos que teremos ao longo da vida, portanto, uma vez que um para de funcionar, não temos outro para colocar no lugar).

O minoxidil contorna a perda de cabelo em grande parte aumentando o fluxo sanguíneo (e a nutrição) dos folículos, restaurando-se, crê, alguns folículos dormentes a um estado saudável de crescimento. A finasterida, por outro lado, é um inibidor de DHT e restaura um grau de função normal dos folículos. Mas os dois tratamentos devem ser aplicados diariamente para funcionar, têm um limite da quantidade de cabelo que podem restaurar (eles não vão funcionar em folículos permanentemente danificados) e perdem a sua eficácia ao longo do tempo em um subconjunto de usuários. A dutasterida, outro inibidor de DHT, enfrenta a mesma limitação.

O transplante de cabelo, no qual folículos produtivos do resto da cabeça ou corpo são implantados nas áreas de calvície, é uma opção mais permanente. Longe da velha percepção de aparência falsa, estas técnicas se tornaram uma imitação muito boa do cabelo “natural”. Nos últimos anos, houve o advento de tecnologias robóticas que ajudam o cirurgião na extração e transplante precisos de enxertos foliculares com cicatrizes mínimas. Mas estas cirurgias são muito caras, custando mais de US$ 10 mil, e não param a perda de outros fios.

Outros tratamentos, como a laserterapia de baixa intensidade, ou suplementos nutricionais, tem mais provas básicas ou plausíveis apoiando a sua utilização. Mas calma; tudo pode mudar em breve.

Crescer cabelo

Cerca de um ano atrás, ficamos sabendo da história de Kyle Rhodes, um homem de 25 anos cuja cabeça havia se tornado totalmente careca, incluindo seus cílios, por causa de sua alopecia areata, diagnosticada pela primeira vez quando ele tinha dois anos. No entanto, uma vez que Rhodes foi tratado com tofacitinib, uma droga comumente usada para a artrite reumatoide, seu cabelo voltou a crescer após meros oito meses.

Curiosamente, o seu dermatologista, Brett King da Universidade de Yale, prescreveu a medicação apenas para ajudar a tratar a psoríase severa de Rhodes, outro uso alternativo da droga. “Eu estava em êxtase”, contou King à CNN. “Eu estava realmente muito feliz por ele”. Mais tarde, o médico publicou um estudo que documentava a recuperação capilar do paciente no “Journal of Investigative Dermatology”.

“Os resultados são exatamente o que se esperava”, disse o pesquisador em um comunicado divulgado pela universidade. “Este é um enorme passo em frente no tratamento de pacientes com esta condição. Embora seja um caso, nós antecipamos o sucesso do tratamento deste homem com base em nossa compreensão atual da doença e da droga. Nós acreditamos que os mesmos resultados poderão ser duplicados em outros pacientes e pretendemos tentar”.

Ainda em 2014, mais pesquisadores publicaram um artigo na revista “Nature Medicine” seus próprios milagres capilares. Os cientistas relataram que uma preparação oral de ruxolitinib, droga usada no tratamento de câncer de medula óssea, tinha restaurado mais de metade do cabelo perdido por três pacientes carecas por causa da AA depois de cinco meses de tratamento, validando estudos animais anteriores.

Quando a esmola é demais…

No entanto, raramente vemos milagres sem algumas ressalvas. Os medicamentos provavelmente funcionaram para reverter a perda de cabelo por causa dos seus efeitos imunossupressores – as duas drogas pertencem a uma nova classe conhecidas como inibidores de JAK. Na época, nem Rhodes nem os pacientes do estudo da “Nature” relataram quaisquer efeitos adversos, mas sabe-se que o uso contínuo desses tipos de medicamentos podem ter inconvenientes graves, como um aumento do risco de infecções – como qualquer pessoa que passou por quimioterapia pode atestar.

Também não se sabe se tirar alguém destas drogas vai, como no caso do minoxidil, fazer o cabelo voltar a cair. Em uma entrevista de acompanhamento com o portal WebMD, os autores do estudo da “Nature” explicaram que, das 12 pessoas que se trataram com ruxolitinib, apenas seis entre nove experimentaram o milagroso crescimento do cabelo como relatado à princípio (os três últimos não tinham sido tratados por tempo suficiente para chegar a qualquer conclusão). Sendo uma invenção recente, esses medicamentos também seriam bastante caros para prescrever regularmente.

Alguns desses problemas podem ser atenuados se um inibidor de JAK for disponibilizado em forma tópica. Na época de seu estudo, King esperava investir em um ensaio clínico utilizando uma versão em creme do tofacitinib.

Em outubro passado, mais pesquisadores esperavam ansiosamente avaliar outros inibidores de JAK em um estudo controlado por placebo. “Pacientes com alopecia areata estão sofrendo profundamente, e estes resultados marcam um passo significativo para eles. A equipe está totalmente comprometida com o avanço de novas terapias para pacientes com uma grande necessidade não atendida”, disse a autora do estudo, Angela M. Christiano, professora dos Departamentos de Dermatologia e de Genética e Desenvolvimento do Centro Médico da Universidade de Columbia, em um comunicado.

Infelizmente, o maior ponto de discórdia para estes tratamentos é que eles provavelmente não fariam diferença para a maioria das pessoas que sofrem de perda de cabelo. AA, como a artrite reumatóide e a psoríase, é uma doença autoimune e o mecanismo pelo qual a calvície acontece nessas pessoas é diferente daquele que provoca a AAG.

Curar permanentemente a calvície, sem dúvida, precisa de uma abordagem muito mais radical.

Cabelo “ilimitado”

O grande obstáculo a qualquer cura para a queda de cabelo está em restaurar a funcionalidade completa dos folículos. Nenhum dos tratamentos atuais ou propostas que nós temos disponíveis podem ajudar com isso.

Muitos pesquisadores acreditam que a única maneira de contornar este problema é criar novas células do zero que estimulem o crescimento do cabelo através da terapia com células-tronco. As células-tronco têm sido elogiadas como um meio potencial de regeneração de órgãos e não há nenhuma razão lógica para que elas não possam se transformar também em restauradoras de cabelo.

Células embionárias

No início deste ano, os autores de um estudo publicado na “PLOS One” podem ter dado um salto gigantesco na compreensão de como atingir esse objetivo. A partir de células-tronco pluripotentes (embrionárias) humanas, eles criaram células que lembravam as células da papila dérmica, que ficam por baixo e regulam nossos folículos, e conseguiram enxertá-las na pele de ratos albinos. Eles descobriram que estas células eram capazes de estimular o crescimento de folículos.

“Nosso método de células-tronco fornece uma fonte ilimitada de células do paciente para transplante e não é limitado pela disponibilidade de folículos pilosos existentes”, explica o autor do estudo, Alexey Terskikh, professor associado do Programa de Desenvolvimento, Envelhecimento e Regeneração da Universidade de Sanford-Burnham.

Embora a pesquisa esteja apenas nos estágios iniciais, segundo seus autores ela “representa o primeiro passo para o desenvolvimento de um tratamento à base de células para as pessoas com doenças de perda de cabelo. “Nosso próximo passo é transplantar as células de volta em seres humanos”, diz Terskikh. A equipe busca parcerias para conseguir atingir essa meta final.

Saúde em primeiro lugar

Nesse meio tempo, enquanto os carecas esperam por esta cura, há várias coisas que podem ser feitas para garantir a saúde do cabelo. Uma dieta saudável, exercício e garantir que seu cabelo não seja muito puxado por pentes ou prendedores vai ajudar a manter a sua viçosidade. Da mesma forma, se você notar que ele começou a ficar mais ralo, a melhor coisa a fazer é visitar seu dermatologista, uma vez que a finasterida e minoxidil são muito mais eficazes quando a perda de cabelo é descoberta cedo.

E, como a maioria das coisas, relaxar irá ajudá-lo a longo prazo. Afinal, qual uma das causas mais conhecidas de perda de cabelo? Estresse. [Medical Daily]

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