Estudos encontram “super bactérias” em praias e lagoa olímpicas no Rio de Janeiro

Por , em 13.06.2016
Esgoto em Copacabana

Esgoto em Copacabana

Pesquisadores afirmaram que “super bactérias” resistentes a drogas perigosas estão presentes nas principais praias e lagoas do Rio de Janeiro, que vão acolher eventos de natação, remo e canoagem nos Jogos Olímpicos deste ano, que começam em 5 de agosto.

Esses resultados são de dois estudos acadêmicos inéditos que ainda não foram publicados, mas foram revisados por outros cientistas. O primeiro foi feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e o segundo pela Fundação Oswaldo Cruz.

As pesquisas aumentam a preocupação de que os cursos de água infestados de esgoto do Rio de Janeiro não são seguros.

Primeiro estudo

Um dos estudos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, divulgado no final de 2014, encontrou super bactérias em uma das praias da Baía de Guanabara onde eventos de vela e windsurf serão realizados durante os Jogos.

Também mostrou a presença de micróbios em cinco das principais praias turísticas do Rio, incluindo Copacabana, onde provas de natação em água aberta e triátlon ocorrerão, além de Ipanema, Leblon, Botafogo e Flamengo.

As amostras foram colhidas entre setembro de 2013 e setembro de 2014. As super bactérias eram mais presentes na praia de Botafogo, onde todas as amostras foram positivas. No Flamengo, estavam presentes em 90% das amostras; em Ipanema, em 50%; no Leblon em 60%; e em Copacabana, em 10%.

As super bactérias podem causar infecções urinárias, gastrointestinais, pulmonares e de corrente sanguínea difíceis de tratar, juntamente com meningite.

Esses resultados foram revisados em setembro por cientistas da Conferência de Interciência sobre Agentes Antimicrobianos e Quimioterapia, em San Diego, nos EUA.

Renata Picao, principal pesquisadora do estudo, disse que a contaminação das praias mais famosas do Rio de Janeiro é o resultado de uma falta de saneamento básico na área metropolitana de 12 milhões de pessoas.

Segundo estudo

O segundo estudo, feito pelo laboratório da Fundação Oswaldo Cruz do governo federal brasileiro, que será publicado no próximo mês na revista American Society for Microbiology, descobriu os genes de super bactérias na lagoa Rodrigo de Freitas e em um rio que esvazia na Baía de Guanabara.

O estudo é baseado em amostras de água colhidas em 2013. Constatou-se que o lago é um potencial terreno fértil para super bactérias e sua propagação através da cidade.

Embora ambos os estudos usem amostras de água de 2013 e 2014, Picao e outros especialistas disseram não ter visto nenhum avanço na infraestrutura de saneamento básico do Rio de Janeiro para melhorar a situação.

De quem é a culpa?

Resíduos de inúmeros hospitais, além das casas de centenas de milhares de famílias, caem em bueiros, rios e córregos que cruzam o Rio de Janeiro, permitindo que as bactérias se espalhem.

A limpeza das vias da cidade deveria ser um dos maiores legados dos Jogos Olímpicos e uma promessa do documento oficial de 2009 da candidatura do Rio, usado para ganhar o direito de sediar a primeira Olimpíada da América do Sul.

Essa meta tem se transformado em um fracasso embaraçoso, com os atletas lamentando o mau cheiro do esgoto e reclamando sobre detritos que atingem seus barcos na Baía de Guanabara, o que atrapalha uma competição justa.

A contaminação levou a Polícia Federal e o Ministério Público a investigarem se a concessionária de água do Rio, Cedae, está cometendo crimes ambientais e mentindo sobre quanto esgoto de fato trata. Os investigadores também estão analisando para onde bilhões de reais foram desde o início da década de 1990, verba destinada a melhorar os serviços de esgoto e a limpar a Baía de Guanabara.

O Cedae negou qualquer irregularidade e disse em um comunicado enviado por e-mail à Reuters que quaisquer super bactérias encontradas nas praias ou na lagoa devem ser o resultado de despejo ilegal em bueiros.

O órgão ambiental do estado, Inea, também disse em um comunicado que segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde para testar a segurança de águas recreativas, e que a procura por super bactérias não está incluída nessas diretrizes. Afirmou ainda que há uma falta de estudos sobre as bactérias envolvidas nos resultados e seus efeitos de saúde.

Qual o real perigo para as pessoas?

De acordo com a Reuters, que consultou cinco cientistas, o risco imediato para a saúde das pessoas depende do estado de seus sistemas imunológicos.

As super bactérias são micróbios oportunistas que podem entrar no corpo, ficar adormecidas e atacar mais tarde, quando uma pessoa saudável fica doente por outro motivo.

Super bactérias infectam não apenas seres humanos, mas também bactérias de outra forma inofensivas presentes nas águas, transformando-as em germes resistentes a antibióticos.

Por exemplo, Valerie Harwood, especialista em bactérias de águas recreativas e resistentes aos antibióticos da Universidade do Sul da Flórida, nos EUA, disse que os genes das super bactérias descobertas na lagoa olímpica provavelmente não são perigosos se ingeridos sozinhos: eles precisam ser encapsulados dentro de outra bactéria.

“Esses genes são como doces. São moléculas orgânicas comidas por outras bactérias, outros organismos”, disse Harwood à Reuters. “É aí que o perigo mora – se uma pessoa ingere, em seguida, o organismo infectado, ele chega em seu trato gastrointestinal e, potencialmente, deixa a pessoa doente”.

Especialistas em saúde afirmam que a gestão de águas residuais do Rio já criou doenças endêmicas associadas com esgoto, que desproporcionalmente afetam a população mais pobre da cidade, incluindo problemas gastrointestinais e respiratórios, hepatite A e doenças cardíacas e cerebrais graves. [Reuters]

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