Finalmente parece que sabemos o que causa Alzheimer e como pará-la

Por , em 24.01.2019

Um novo estudo americano pode finalmente ter descoberto a elusiva causa da doença de Alzheimer: Porphyromonas gingivalis, a principal bactéria da doença gengival crônica.

A má notícia é que doenças da gengiva afetam cerca de um terço da população. A boa é que um medicamento que bloqueia as principais toxinas da P. gingivalis já está em fase de testes clínicos, e pesquisas recentes indicam que pode parar e até reverter o Alzheimer.

A hipótese

A doença de Alzheimer é um dos maiores mistérios da medicina. A demência é hoje a quinta maior causa de morte em todo o mundo, e o Alzheimer constitui cerca de 70% desses casos.

No entanto, não sabemos o que o causa. A condição frequentemente envolve o acúmulo de proteínas chamadas amiloides e tau no cérebro. Logo, a principal hipótese era de que a doença surgia de algum desiquilíbrio nessas duas substâncias.

Só que as pesquisas realizadas nos últimos anos revelaram que as pessoas podem ter acúmulo de placas amiloides sem ter demência. Além disso, tantos esforços para tratar o Alzheimer moderando essas proteínas falharam que a teoria foi seriamente questionada.

Novas evidências indicaram que a função das proteínas amiloides poderia ser uma defesa contra bactérias, o que levou a uma série de estudos sobre as bactérias que poderiam estar envolvidas no Alzheimer. Foi assim que os pesquisadores descobriram que as que causam doenças nas gengivas pareciam ser um importante fator de risco para a condição.

P. gingivalis

Diversas bactérias, incluindo as envolvidas em doenças da gengiva, foram encontradas no cérebro de pessoas que tinham Alzheimer após sua morte.

No começo, os cientistas não sabiam se essas bactérias causavam a doença ou se simplesmente atingiam o órgão através de danos cerebrais causados por ela.

Estudos separados investigaram o papel da P. gingivalis e descobriram que:

  • A bactéria invade e infla regiões afetadas pelo Alzheimer;
  • Infecções da gengiva podem piorar os sintomas de Alzheimer em ratos;
  • A bactéria pode causar inflamação do cérebro semelhante à de Alzheimer, dano neural e placas amiloides em ratos saudáveis.

Essas evidências, vindas de laboratórios diferentes, todas convergem para sugerir que a P. gingivalis desempenha um grande papel na doença.

O novo estudo

Um novo estudo da Cortexyme, uma empresa farmacêutica da Califórnia (EUA), encontrou as enzimas tóxicas que P. gingivalis usa para se alimentar de tecido humano, chamadas gengivinas, em 96% das 54 amostras de cérebro com Alzheimer que analisaram.

Os cientistas também encontraram as próprias bactérias em três cérebros com Alzheimer cujo DNA examinaram.

As bactérias e suas enzimas foram descobertas em níveis mais elevados nos indivíduos que sofriam de pior declínio cognitivo e tinham mais acúmulos de amiloide e tau.

A equipe ainda encontrou as bactérias no líquido espinhal de pessoas vivas com doença de Alzheimer, sugerindo que essa técnica pode fornecer um método há muito procurado para diagnosticar a doença.

O tratamento

Em outro experimento, a equipe da Cortexyme infectou ratos com P. gingivalis e observou que a bactéria levou a infecção cerebral, produção de amiloide, emaranhados de proteína tau e dano neural nas regiões e nervos normalmente afetados pela doença de Alzheimer.

O laboratório já havia desenvolvido moléculas que bloqueiam as gengivinas. Uma vez que os ratos foram tratados com elas, isso reduziu as infecções, interrompeu a produção de amiloide, diminuiu a inflamação cerebral e até curou neurônios danificados.

A equipe descobriu que um antibiótico que mata a P. gingivalis obteve resultados semelhantes, mas com menos eficácia, uma vez que as bactérias rapidamente desenvolveram resistência a ele. Não resistiram aos bloqueadores da gengivina, contudo.

Achamos a cura?

Infecções nas gengivas são muito mais comuns que a doença de Alzheimer. Pode ser que a condição ataque pessoas que acumulam gengivinas e danos no cérebro rápido o suficiente para desenvolver sintomas durante suas vidas.

A Cortexyme afirmou que seu melhor bloqueador de gengivina havia passado nos testes iniciais de segurança com humanos em outubro passado. No final deste ano, a companhia lançará um teste maior do medicamento, procurando P. gingivalis no líquido espinhal de pacientes e checando por melhorias cognitivas antes e depois da administração do bloqueador.

A empresa também planeja testá-lo contra as próprias doenças da gengiva. Outra equipe em Melbourne, na Austrália, desenvolveu uma vacina para P. gingivalis com esse fim, e os testes já se iniciaram. Se essa vacina para a doença da gengiva também for capaz de deter o Alzheimer, o impacto será enorme.

Um artigo sobre a pesquisa da Cortexyme foi publicado na revista científica Science Advances. [NewScientist]

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