Só 43% do seu corpo é humano

Por , em 10.04.2018

Células humanas representam apenas 43% da contagem total de células em seu corpo. O resto são de microrganismos que vivem em você.

O nosso microbioma está se tornando uma área de estudo cada vez mais importante, permitindo que os cientistas transformem a nossa compreensão da saúde humana.

“Os micróbios são essenciais para a sua saúde. Seu corpo não é só você”, disse a professora Ruth Ley, do departamento de microbiologia do Instituto Max Planck (Alemanha), à BBC.

Onde esses micróbios estão?

Originalmente, os cientistas pensavam que estávamos em desvantagem de 10 para 1, ou seja, que só 10% do nosso corpo era realmente humano.

“Isso foi refinado para algo mais próximo de 1 para 1, então a estimativa atual é de que você seja 43% humano”, explicou Rob Knight, da Universidade da Califórnia (EUA), à BBC. “Você é mais micróbio do que humano”.

Não é uma questão de higiene: quase todos os cantos do seu corpo estão cobertos de criaturas microscópicas e você não pode lavá-las para longe.

Isso inclui bactérias, vírus, fungos e arqueias (organismos originalmente classificados erroneamente como bactérias). A maior concentração dessa vida microscópica está nos nossos intestinos.

Genes

Geneticamente falando, estamos em maior desvantagem ainda. O genoma humano é composto de 20.000 instruções chamadas genes.

Se juntarmos todos os genes do nosso microbioma, temos um número entre 2 e 20 milhões de genes microbianos.

“Nós não temos apenas um genoma. Os genes do nosso microbioma representam essencialmente um segundo genoma que aumenta a nossa própria atividade genética. O que nos torna humanos é, na minha opinião, uma combinação de nosso próprio DNA mais o DNA de nossos micróbios intestinais”, argumentou Sarkis Mazmanian, microbiologista do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA).

De fato, seria ingênuo pensar que carregamos tanto material microbiano à toa, sem que ele interaja ou tenha algum efeito em nossos corpos.

Bom micróbio x mau micróbio

Já entendemos um pouco, por exemplo, sobre o papel que o microbioma desempenha na digestão e na regulação do nosso sistema imunológico.

Isso é importante porque muitas vezes os micróbios são nossos aliados, e não rivais. Até hoje, nosso relacionamento com os micróbios tem sido em grande parte uma guerra financiada por antibióticos e vacinas.

Claro, esses desenvolvimentos salvaram um grande número de vidas. Mas alguns pesquisadores estão preocupados de que nosso ataque aos bandidos tenha causado danos incalculáveis às nossas “boas bactérias”.

Enquanto fizemos um ótimo trabalho na eliminação de doenças infecciosas nos últimos 50 anos, também temos visto um enorme aumento de doenças autoimunes e alergias.

O microbioma também está sendo associado a doenças inflamatórias, mal de Parkinson, câncer, depressão, autismo e até obesidade.

Obesidade

Por exemplo, uma dieta de hambúrgueres e chocolate pode afetar tanto o seu risco de obesidade quanto o tipo de micróbios que crescem em seu trato digestivo.

Knight realizou experimentos com ratos que nasceram no mundo mais higienizado imaginável – toda a sua existência é completamente livre de micróbios.

Em seguida, ele e seus colegas inseriram nesses ratos o microbioma de humanos magros ou obesos. Isso, por sua vez, levou os ratos a se tornarem mais magros ou mais gordos.

Inserir “bactérias magras” em ratos obesos também lhes ajudou a perder peso.

“Este é um achado incrível, mas a questão agora é se isso pode ser traduzido para [um tratamento para] humanos”, disse Knight.

Medicina microbiana

Esta é a grande esperança para esse campo de estudo: que os micróbios que habitam nossos corpos se transformem em uma nova forma de medicina.

Há evidências crescentes de que manipular o microbioma de uma pessoa pode praticamente curar doenças como a colite ulcerativa, um tipo de doença inflamatória intestinal, por exemplo.

A medicina microbiana está em seus estágios iniciais, mas os pesquisadores acham que monitorar nossos micróbios em breve se tornará um exame de rotina que fornecerá uma mina de ouro de informações sobre nossa saúde.

“É incrível pensar que cada colher de chá de suas fezes contém mais dados de DNA desses micróbios do que literalmente uma tonelada de DVDs pode armazenar”, compara Knight.

Em um futuro ideal, a parte não humana de seu corpo deve poder ser lida instantaneamente para dizer se sua saúde está indo em uma boa ou má direção, e isso pode de fato mudar a medicina para melhor. [BBC]

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