Milhões são investidos em esquisitices quânticas

Por , em 7.10.2012

O mundo quântico é um tanto quanto estranho, principalmente porque as leis da física quântica parecem desafiar certas concepções que nós temos do universo.

Em geral, a física ou mecânica quântica estuda os eventos que ocorrem nas camadas atômicas e subatômicas, ou seja, entre as moléculas, átomos, elétrons, prótons, e outras partículas. Esse mundo invisível para nós parece ser, no entanto, a resposta para muitos dos nossos problemas.

“Parece ser”, é claro. Isso porque ainda não conhecemos ou podemos utilizar por completo propriedades estranhas de fenômenos como teletransporte, emaranhamento e superposição.

Ainda assim, há quem acredite que esses fenômenos poderiam revolucionar a computação, a comunicação bancária e muito mais. Tanto que estão dispostos a gastar milhões de dólares para transformar essas teorias “malucas” em realidade.

Física quântica e segurança

Alguns cientistas acreditam que a física quântica pode ser a solução contra fraudes de cartão de crédito.

Em um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisadores sugeriram que os bancos e seus clientes poderiam usar delicados sistemas quânticos para verificar transações.

Os dois métodos estudados envolviam a transmissão de sinais ou bilhetes “quânticos” que são essencialmente inúteis após serem lidos para compará-los com os códigos que são mantidos de forma segura pelos bancos.

Uma das questões-chave é determinar quantos erros devem ser tolerados nessa transmissão. “Podemos deduzir a partir da teoria de que, em média, não mais do que 83% dos dígitos secretos podem ser duplicados corretamente por um falsário, enquanto o próprio usuário deve ser capaz de recuperar 95% dos dígitos. Se o verificador definir o nível de tolerância a 90%, vai ser quase impossível aceitar transações fraudulentas ou rejeitar uma autêntica”, explica Fernando Pastawski, do Instituto Max Planck de Óptica Quântica (Alemanha).

Teletransporte quântico

Uma “corrida espacial pelo teletransporte quântico” foi iniciada nos últimos anos: pesquisadores do mundo todo estão à procura de um sistema que permita a transmissão de dados impossíveis de serem rastreados entre pontos distantes do globo, através do envio de estados quânticos, normalmente sob a forma de fótons emaranhados.

Apenas alguns meses atrás, pesquisadores europeus bateram um recorde de distância para o teletransporte quântico: 143 quilômetros.

Agora, vários países estão planejando experimentos que envolvam o teletransporte quântico a partir do espaço.

Pesquisadores japoneses supostamente já estão trabalhando em um experimento de pequena escala com o satélite Sócrates, previsto para lançamento em 2014. Entretanto, os chineses parecem ser os mais prontos para provar a tecnologia, com planos de lançar um satélite com capacidade de teletransporte quântico em 2016. Os EUA estão aparentemente para trás nesse assunto, embora haja sugestões de que pesquisas em comunicação quântica espacial estão sendo feitas em segredo por lá.

Computação quântica

Computadores quânticos seriam muito bem-vindos no mercado tecnológico, uma vez que eles são promessa para realizar todo o tipo de cálculo hoje considerado complexo demais.

Porém, apesar da extensa pesquisa na aérea, até hoje nenhum computador quântico comercial chegou aos mercados com força total. Talvez isso não demore.

A empresa de computação quântica D-Wave, baseada no Canadá, atraiu US$ 30 milhões (cerca de R$ 60 mi) em investimentos recentemente. Entre os investidores, estão figuras como o bilionário da Amazon.com Jeff Bezos, e a empresa In-Q-Tel, que controla os investimentos da CIA (agência de inteligência norte-americana).

Porque a CIA está interessada em computação quântica? “Nossos clientes da comunidade de inteligência tem muitos problemas complexos demais para a arquitetura de computação clássica”, explicou Robert Ames, vice-presidente encarregado das tecnologias de informação e comunicação da In-Q-Tel. “Nós acreditamos que eles podem se beneficiar da promessa da computação quântica, e este investimento em D-Wave é um primeiro passo nessa direção”.

Mundo do senso comum x mundo quântico

Como já dissemos, a física quântica às vezes parece ir contra princípios físicos bem estabelecidos. Um deles é a causalidade.

Aparentemente, a física quântica distorce um pouco esse conceito. A causalidade define que se A causa B, então B não pode causar A. Mas, segundo um estudo publicado no periódico Nature Communications por pesquisadores da Universidade de Viena (Áustria) e da Université Libre de Bruxelles (Bruxelas), a física quântica permite situações em que A causa B que causa A.

Tais situações envolveriam sistemas quânticos que estão em um estado de superposição – por exemplo, o gato de Schrödinger (que pode estar vivo ou morto “ao mesmo tempo”), ou um bit quântico, que tem um valor de 1 e 0 simultaneamente.

Os cientistas estão estudando um futuro circuito que ligaria portas lógicas quânticas com “fios” em superposição. Tal circuito poderia permitir a criação de situações em que os eventos não estariam localizados no tempo.

Isso significa que seria, teoricamente, possível voltar no tempo? Os pesquisadores dizem que não. Trabalhando com construção linear e de acordo com a mecânica quântica, paradoxos são evitados, como voltar no tempo e matar seu avô, por exemplo (impedindo que você nasça e o mate).[NBCNews, InfoEscola]

1 comentário

  • Lucio Flavio:

    Fico extasiado em imaginar a escala em que as velocidades de comunicação de dados poderão chegar com tecnologia quântica. Acho que para termos uma ideia da escala que isso pode afetar o nosso modo de vida nos próximos 10 anos basta lembrar que há 20 anos apenas as grandes corporações tinham como trocar dados a incrível velocidade de 9.600 kbps.

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