Misteriosa nuvem de radiação cobre grande parte da Europa

Por , em 22.11.2017

A Europa passou o último mês tentando desvendar um mistério: como surgiu uma nuvem radioativa que cobriu a maior parte do continente?

Depois de semanas de silêncio e negativas, a Rússia finalmente confirmou ter detectado evidências de tal radiação, observando um pico dramático acima de suas Montanhas Urais.

O reconhecimento veio depois que várias outras nações europeias sugeriram que o país era a origem provável da nuvem, identificada pela primeira vez em setembro.

Ops… está aqui sim

De acordo com a BBC, diversas estações europeias mediram, entre 29 de setembro e 13 de outubro, níveis elevados de rutênio-106, uma substância que não ocorre na natureza, mas é fabricada em instalações nucleares, sobre grande parte da Europa.

O ponto de origem do vazamento de rutênio parecia ser a Rússia, mas as autoridades russas seguiam dizendo que não tinham conhecimento de nenhum acidente nuclear no seu território, uma vez que nenhuma empresa registrou níveis de radiação que excediam a norma.

Agora, o serviço meteorológico do país, Roshydromet, confirmou pela primeira vez os resultados obtidos pelo Instituto Francês de Proteção contra Radiações e Segurança Nuclear.

Eles reconheceram a “contaminação extremamente alta” acima das Montanhas Urais, detectando níveis do isótopo radioativo de rutênio-106 até quase 1.000 vezes maiores do que a quantidade normal.

Mea culpa ou sua culpa?

Apesar de admitir uma alta contaminação em seu território, a Rússia segue afirmando que não produziu o aumento, sugerindo que níveis elevados de radiação acima da Itália, Romênia e Ucrânia poderiam significar que esses países eram responsáveis pelo vazamento.

“Os dados publicados não são suficientes para estabelecer a localização da fonte de poluição”, disse o chefe da Roshydromet, Maxim Yakovenko.

Enquanto o pico de radiação se encontra na região de Chelyabinsk, perto da fronteira com o Cazaquistão, a investigação francesa sugeriu que “a zona de liberação mais plausível seria entre o [rio] Volga e as [montanhas] Urais” dentro da Rússia.

Inofensiva

A boa notícia é que a nuvem de radiação é provavelmente inofensiva.

“É importante colocar isso em contexto”, explica o físico médico Malcolm Sperrin, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “O rutênio é muito raro e, portanto, sua presença pode sugerir que ocorreu um evento de alguma natureza. Dito isto, a abundância é tão baixa que mesmo um fator de 900 acima dos níveis naturais ainda é muito baixo”.

Pensa-se que o material pode ter sido liberado devido a um acidente não declarado em um local de tratamento de combustível nuclear, ou em um centro de fabricação de materiais médico-farmacêuticos radioativos.

Um acidente mais perigoso em um reator nuclear é improvável, porque tal incidente teria liberado outros elementos radioativos, não apenas o rutênio-106.

Histórico

Os russos detectaram a nuvem de radiação usando duas estações de monitoramento em torno da instalação nuclear de Mayak, uma das maiores plantas do país.

Em 1957, Mayak foi o local do “Desastre de Kyshtym”, o terceiro acidente nuclear mais grave já registrado no mundo, atrás apenas de Fukushima e Chernobyl.

O evento dispersou partículas radioativas em uma região que abrange aproximadamente 52 mil quilômetros quadrados, mas as autoridades soviéticas mantiveram o acidente em segredo por quase duas décadas.

Desta vez, os porta-vozes de Mayak negaram ser responsáveis pelo vazamento, e Rosatom, órgão estatal que supervisiona a indústria nuclear da Rússia, também disse que não há nada ocorrendo por lá.

Cautela

Esse mau costume russo de olhar para o outro lado ou jogar a sujeira para debaixo do tapete é certamente preocupante.

Ainda que a nuvem não fosse considerada um problema para a saúde humana e para o meio ambiente, o Instituto Francês de Proteção contra Radiações e Segurança Nuclear concluiu que, se a liberação acidental de tanto rutênio-106 tivesse ocorrido em solo francês, evacuações da área imediata até alguns quilômetros em torno do ponto de origem teriam ocorrido.

Ou seja, esse ainda foi um evento significativo que deveria ter sido tratado com mais cautela. [ScienceAlert, BBC]

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