Como Jesus morreu: rara evidência de crucificação romana é encontrada

Por , em 5.06.2018

Cientistas da Universidade de Ferrara e da Universidade de Florença, na Itália, descobriram o corpo de um homem que aparentemente morreu da mesma forma e na mesma época que Jesus: pregado em uma cruz de madeira.

Depois da crucificação, o esqueleto foi enterrado. Os arqueólogos o encontraram no norte da Itália, na cidade de Gavello, próximo à Veneza.

Duas crucificações conhecidas pela ciência

O homem morreu há 2.000 anos e mostra sinais de ter sofrido uma execução do mesmo método usado contra Jesus, conforme descrito na Bíblia cristã.

Embora a crucificação fosse uma forma comum de punição capital para criminosos e escravos na Roma Antiga, a nova descoberta marca apenas a segunda vez que evidências arqueológicas diretas dessa prática são encontradas.

A única outra ocasião em que os restos mortais de uma vítima crucificada foram encontrados foi em 1968, durante uma escavação de túmulos da era romana em Jerusalém. Nessas escavações, o arqueólogo grego Vassilios Tzaferis descobriu que um prego de 18 centímetros havia atravessado o osso do calcanhar de um homem encontrado em uma das tumbas.

O prego foi descoberto dentro do osso, preso a um pequeno pedaço de madeira de oliveira, provavelmente parte da cruz onde o homem havia sido fixado para morrer.

Evidências semelhantes no calcanhar do novo esqueleto

Os restos do esqueleto, encontrados em 2007 durante escavações arqueológicas em preparação para a colocação de um oleoduto, revelam uma lesão e fratura não curada em um dos ossos do calcanhar. Isso sugere que seus pés foram pregados em uma cruz.

“Encontramos uma lesão em particular no calcâneo direito (osso do calcanhar) passando por todo o osso”, disse Emanuela Gualdi, uma das pesquisadoras do estudo da Universidade de Ferrara.

Os cientistas alertam, porém, que esses achados não são conclusivos por causa das más condições dos ossos e do fato de que alguns deles estão faltando.

Eles também não encontraram evidências de que o corpo foi pregado pelos pulsos, outra ação comum na crucificação romana descrita na Bíblia. Em vez disso, seus braços podem ter sido amarrados à cruz com corda, o que também era feito na época.

Quem era a vítima?

O corpo foi enterrado diretamente no chão, em vez de ser colocado em um túmulo, e sem nenhum material funerário.

Os pesquisadores realizaram testes genéticos e biológicos nos restos mortais, descobrindo que pertenciam a um homem de baixa estatura (abaixo da média) que tinha entre 30 e 34 anos quando morreu.

A falta de bens e a estrutura corporal relativamente pequena do homem indicam que ele pode ter sido um escravo subnutrido enterrado sem as cerimônias fúnebres romanas – geralmente parte da punição para prisioneiros executados.

Crucificação: o que a história nos diz?

Gualdi e seus colegas explicam que os romanos aprenderam a realizar crucificações com os cartagineses, usando esse tipo de execução como uma forma de punição capital por quase mil anos, até o Imperador Constantino a banir no século IV dC.

Crucificações romanas eram planejadas para causar dor máxima por um período prolongado – os pés e os punhos das vítimas geralmente eram pregados em uma cruz de madeira, o que os mantinha em pé enquanto sofriam uma morte lenta e agonizante, que podia levar vários dias.

Por conta dessa característica, tais procedimentos eram geralmente realizados apenas em escravos; seus corpos eram frequentemente deixados na cruz para apodrecer ou ser comidos por animais, mas, em alguns casos, eram removidos e enterrados.

Embora a utilização desse método fosse frequentemente descrita em registros históricos dos tempos antigos romanos, incluindo quando soldados executaram 6.000 escravos capturados após a revolta liderada pelo gladiador Espártaco no primeiro século aC, temos poucas evidências arqueológicas de crucificações.

Sem dúvida, a crucificação mais infame foi a execução de Jesus de Nazaré, descrita na Bíblia cristã como ocorrendo em Jerusalém sob o domínio romano no início da era cristã (entre 30 e 36 dC). Até hoje, nenhuma evidência arqueológica confirmada desse evento foi encontrada. Mas os relatos bíblicos de tal crucificação são uma crença cristã central, e a cruz tem sido um símbolo do cristianismo ao longo da história.

Dificuldades científicas

Os cientistas que estudaram os restos recentemente descobertos disseram que as vítimas das crucificações da era romana são difíceis de identificar por causa do estado dos ossos antigos e das dificuldades de se fazer uma interpretação científica dos ferimentos.

De acordo com Gualdi, ossos com esses tipos de lesões são mais facilmente fraturados, difíceis de preservar e difíceis de reconhecer.

Além disso, pregos de metal usados em crucificações eram frequentemente recuperados de um corpo após sua morte.

O enterro irregular do homem crucificado também apresenta muitas questões: “Não podemos saber se ele era um prisioneiro, mas a marginalização de seu funeral indica que ele provavelmente era um indivíduo considerado perigoso ou difamado na sociedade romana”, explicou a pesquisadora.

Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista Archaeological and Anthropological Sciences. [LiveScience]

1 comentário

  • Darley Vieira Lages:

    O crucificado não morria pelo ato da crucificação em sí, já que os ferimentos não mãos e nos pés não eram letais. A morte ocorria lentamente, por desidratação e sufocação, esta causada pelo peso do próprio corpo. Para prolongar o sofrimento, os pés eram pregados a um suporte, deste modo o supliciado conseguia elevar-se o suficiente para respirar por mais tempo. Os que tinham os braços amarrados à cruz, morriam mais lentamente ainda. Jesus provavelmente não morreu na cruz, pois foi retirado poucas horas depois do hediondo instrumento mortal. O ferimento lateral causado pelo centurião, tinha apenas a intenção de impedir que ele se sustentasse pelos braços por um tempo maior. O centurião queria diminuir o tempo de sofrimento de Jesus.

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