Nossa percepção do tempo pode agilizar a cura de ferimentos

Por , em 8.01.2024

A duração do processo de cicatrização das feridas parece estar vinculada à mentalidade do indivíduo: estudos indicam que a cura acontece mais rapidamente quando as pessoas percebem que o tempo está passando mais depressa do que realmente está.

Os psicólogos Peter Aungle e Ellen Langer, da Universidade de Harvard, descobriram provas que apoiam a ideia de uma relação recíproca entre mente e corpo. Eles destacam a importância de se levar em conta os fatores mentais no auxílio à recuperação de lesões e doenças.

Embora os mecanismos exatos de como o estado mental afeta o bem-estar físico ainda estejam sendo investigados, esse estudo específico oferece uma visão reveladora em condições de laboratório. Ele demonstra que a ligação entre o cérebro e o corpo pode ser mais ampla do que se acreditava anteriormente.

Os pesquisadores explicam em seu estudo que, baseados na “teoria da unidade mente-corpo” – que pressupõe uma influência contínua e bidirecional da mente sobre o corpo e vice-versa –, esperavam que as feridas cicatrizassem mais rapidamente ou mais lentamente, dependendo se o tempo percebido fosse alterado para parecer mais longo ou mais curto.

Para a pesquisa, Aungle e Langer envolveram 33 indivíduos que passaram por um procedimento padronizado de ventosaterapia, criando hematomas na pele e fornecendo uma lesão menor para observação.

Esses participantes foram submetidos a essa pequena lesão três vezes: uma em um cenário de ‘Tempo Normal’ de 28 minutos, outra em um cenário de ‘Tempo Lento’, também com duração de 28 minutos, mas percebido como 14 minutos (metade da duração), e uma última vez em um cenário de ‘Tempo Rápido’ de 28 minutos, mas sentido como 56 minutos (o dobro da duração).

Para manipular a percepção do tempo, técnicas como a alteração da velocidade dos cronômetros, exibição de vídeos aos participantes e variação dos intervalos de questionamento sobre suas lesões foram empregadas.

Os autores observaram em seu relatório que, “Apesar do tempo real ser de 28 minutos em todos os cenários, diferenças significativas na cicatrização foram observadas: mais cicatrização no ‘Tempo Normal’ comparado ao ‘Tempo Lento’, no ‘Tempo Rápido’ comparado ao ‘Tempo Normal’ e no ‘Tempo Rápido’ comparado ao ‘Tempo Lento’.”

A complexa interação entre mente e corpo sempre intrigou os pesquisadores, explicando em parte por que placebos ainda são usados em experimentos: às vezes, a simples crença de estar recebendo tratamento pode gerar resultados positivos para a saúde.

Enquanto emoções são reconhecidas por impactar a saúde (como o estresse que pode levar à inflamação), elementos psicológicos menos tangíveis, como a percepção do tempo, ainda não foram completamente investigados.

Aungle e Langer concluem, em última análise, que a influência do tempo na cicatrização física está diretamente ligada à experiência psicológica individual do tempo, independentemente do tempo real decorrido.

Este estudo abre caminhos para uma compreensão mais profunda da relação entre nosso estado mental e a saúde física. Sugere que o modo como percebemos e vivenciamos o tempo pode ter um papel crucial na forma como nosso corpo reage e se recupera de diferentes condições. Isso levanta questões interessantes sobre como intervenções psicológicas podem ser efetivamente utilizadas para melhorar os processos de recuperação e cicatrização.

Além disso, a pesquisa reforça a necessidade de uma abordagem holística na medicina, onde fatores psicológicos são considerados tão importantes quanto os físicos no tratamento de doenças e lesões. A descoberta de Aungle e Langer não apenas desafia as noções tradicionais de cicatrização, mas também abre portas para novas formas de terapia que integram a mente e o corpo de maneira mais eficaz.

Essa interação mente-corpo, tão complexa e ainda pouco compreendida, destaca a importância de uma visão mais ampla da saúde, uma que abarca não apenas os aspectos físicos, mas também os mentais e emocionais. Isso ressalta a importância de considerar o bem-estar mental como parte integrante da saúde geral, reconhecendo que nossa percepção do mundo ao nosso redor, inclusive do tempo, pode ter um impacto significativo no processo de cura.

Os resultados deste estudo têm implicações significativas para a prática clínica e para a compreensão da saúde humana de uma maneira mais ampla. Eles apontam para a necessidade de mais pesquisas nessa área, explorando como diferentes aspectos da psicologia podem influenciar a saúde física e, potencialmente, levando ao desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas. [Science Alert]

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