Novas Evidências Destacam uma Falha Séria na Nossa Percepção do Autismo

Por , em 22.01.2024

À medida que avançamos na compreensão do autismo, percebemos o quão equivocadas eram nossas antigas concepções. Estudos recentes com roedores indicam que o autismo pode afetar cérebros masculinos e femininos igualmente, o que sugere que a incidência do transtorno em mulheres pode ter sido bastante subestimada.

Essa descoberta ressalta a importância de incluir indivíduos de ambos os sexos nas pesquisas sobre Transtorno do Espectro Autista (TEA), conforme destacado por uma equipe liderada pelo neurocientista Manish Kumar Tripathi, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Historicamente, o autismo era considerado e investigado principalmente como um distúrbio masculino. Meninos são diagnosticados com autismo mais frequentemente que meninas, e os critérios de diagnóstico refletem predominantemente características masculinas do transtorno.

No entanto, nos últimos anos, essa percepção começou a ser questionada por especialistas. Eles sugerem que os critérios de diagnóstico centrados no masculino podem levar a um ciclo de exclusão das meninas. Esse ciclo resulta em mais meninos sendo avaliados e diagnosticados, numa proporção de cerca de quatro meninos para cada menina. Assim, os meninos tornam-se o foco principal das pesquisas sobre autismo, perpetuando a noção de que o transtorno é específico de um gênero.

As causas exatas do autismo ainda são desconhecidas. Contudo, a equipe de pesquisa decidiu investigar o comprometimento sináptico em dois modelos de TEA em roedores, ambos portadores de mutações genéticas similares às humanas.

Os pesquisadores observaram as interações sociais, o desenvolvimento cerebral e os níveis de proteínas essenciais para a comunicação sináptica nesses roedores. Comparados aos seus pares não mutantes, os roedores geneticamente alterados apresentaram menor densidade de espinhas dendríticas e níveis reduzidos de proteínas de sinalização.

Esses resultados sugerem que o desenvolvimento cerebral dos roedores modificados geneticamente difere dos roedores típicos, apresentando também dificuldades nas interações sociais.

Importante ressaltar que o estudo não encontrou diferenças entre os cérebros dos roedores machos e fêmeas em relação a essas características ou comportamentos sociais.

Pesquisas anteriores atribuíam a disparidade no diagnóstico ao chamado ‘efeito protetor feminino’, que supostamente impede as meninas de manifestarem traços autísticos. A causa exata desse efeito ainda é desconhecida. Algumas teorias sugerem que as meninas necessitam de uma carga maior de mutações para exibir traços autísticos, proporcionando-lhes uma resistência biológica maior ao autismo.

Outras perspectivas apontam que as mulheres são igualmente afetadas, tendendo a apresentar transtornos mais internalizados que os homens, mas muitas vezes apenas aquelas com autismo mais grave são diagnosticadas, pois os sintomas em mulheres se manifestam de maneira diferente. Por exemplo, enquanto meninos autistas podem exibir comportamentos solitários, meninas autistas podem inicialmente participar de interações sociais típicas. Contudo, com o tempo, as diferenças são percebidas por seus pares, levando a desafios na manutenção de relacionamentos de longo prazo.

A pesquisa de Tripathi apoia esta última visão, revelando que os cérebros femininos são tão suscetíveis ao autismo quanto os masculinos. O estudo sugere que as meninas podem ser mais habilidosas em mascarar seus traços autísticos em comparação aos meninos, um fenômeno que tem sido amplamente negligenciado e pouco estudado.

O neurocientista Haitham Amal, da Universidade Hebraica de Jerusalém, enfatiza: “Nosso estudo destaca a necessidade de incluir ambos os sexos na pesquisa do TEA.”

“As alterações sinápticas observadas em roedores machos e fêmeas com TEA desafiam o foco tradicional no masculino, instigando a comunidade científica a ampliar seu escopo de pesquisa para abranger ambos os sexos.” [Science Alert]

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