O Brilho do Glitter Esconde um Problema Mais Grave do Que Imaginávamos

Por , em 15.03.2024

Contrariando sua imagem divertida, o glitter demonstra um aspecto negativo no ambiente. O estudo recente descobriu que pequenas partículas de purpurina diminuem a penetração de luz solar em corpos d’água, afetando potencialmente a fotossíntese de algumas plantas aquáticas.

O glitter é, na verdade, um tipo de microplástico que, com sua aparência atraente, mascara suas contribuições nocivas à poluição por plásticos. Recentemente, houve uma mudança nessa percepção, especialmente com a proibição do uso de glitter microplástico na União Europeia.

Como microplástico, o glitter é resistente à degradação, o que contribui para sua persistência e acumulação no meio ambiente. Seu tamanho diminuto também impede que seja filtrado nas estações de tratamento de águas residuais, resultando em sua presença em rios e lagos, onde pode prejudicar a vida aquática, além de poluir os oceanos.

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos, no Brasil, conduziram o estudo e identificaram um problema adicional. As partículas de glitter, normalmente feitas de Mylar, costumam ter um revestimento metálico, que inclui alumínio, bismuto, ferro ou titânio. Esse revestimento metálico pode bloquear a luz solar necessária para a fotossíntese das plantas aquáticas.

O estudo focou na grande elódea (Egeria densa), uma planta aquática nativa de países como Argentina, Brasil e Uruguai. Essas plantas desempenham funções importantes no ecossistema, como fornecer alimento, abrigo, sombra e oxigênio para os seres vivos ao seu redor. Além disso, são essenciais em projetos de fitorremediação, ajudando na desintoxicação de locais contaminados, e são amplamente utilizadas em aquários e lagos artificiais.

No experimento, 400 amostras da grande elódea foram incubadas em frascos com água do reservatório Monjolinho, na UFSCar. Utilizou-se glitter comum, aquele encontrado em lojas de varejo, com partículas de 0,14 milímetro quadrado de área. A pesquisa comparou o crescimento da planta em água com 0,04 gramas de glitter por litro e sem glitter, tanto em ambientes iluminados quanto escuros.

Descobriu-se que as taxas de fotossíntese eram 1,54 vezes maiores na ausência de glitter, indicando que as partículas minúsculas reduziam a quantidade de luz na água. Isso afetava não apenas a fotossíntese das plantas, mas também sua respiração, embora em menor grau.

A pesquisa sugere que se uma planta como a grande elódea é afetada, os impactos podem se estender por todo o ecossistema. Observou-se que a interferência física do glitter afeta as plantas aquáticas e que isso pode ter implicações mais amplas no ecossistema e na cadeia alimentar.

Devido à limitação de estudos sobre as concentrações e características do glitter nos ecossistemas aquáticos, ainda é difícil quantificar o alcance total do problema. Os resultados deste estudo abrem caminho para futuras pesquisas que possam fornecer dados mais concretos.

Fica claro que mais investigações são necessárias para determinar o impacto do glitter na natureza e como isso afeta os ecossistemas. Entretanto, é essencial repensar nosso uso do glitter. Há alternativas mais sustentáveis, e a mudança para essas opções pode ajudar a minimizar os impactos ambientais negativos.

O estudo foi publicado no New Zealand Journal of Botany.

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