O mundo está ficando sem café, e esse é o motivo

Por , em 5.12.2017

Amantes de café, trago más notícias: é possível que a bebida perca sua qualidade, mas ganhe valor, tornando-se mais cara nos próximos anos.

De acordo com cientistas dos Reais Jardins Botânicos de Kew, em Londres, o clima em aquecimento do planeta está diminuindo a quantidade de terra adequada para a produção de café, enquanto a demanda mundial cresce.

A situação

Além do problema da mudança climática, demora de 4 a 5 anos para que uma planta de café amadureça antes que os grãos possam ser colhidos para assar. Com menos áreas adequadas para o cultivo, os especialistas dizem que a indústria precisa de investimento e de uma nova estratégia, mas isso pode levar anos.

Ao mesmo tempo, o consumo de café cresce anualmente – segundo a International Coffee Organization (Organização Internacional do Café), o consumo dobrou nos últimos 35 anos, passando de 4,9 bilhões de quilos em 1980 para 9,5 bilhões de quilos em 2016.

A produção de café na Etiópia, local de nascimento do grão de alta qualidade Arábica e o maior exportador da África, pode estar em séria ameaça durante o próximo século. Prevê-se que o consumo ultrapasse a produção pelo terceiro ano consecutivo.

Temores iniciais sobre o clima deste ano no Brasil e no Vietnã, os dois maiores produtores de café do mundo, diminuíram. Apesar disso, algumas preocupações meteorológicas imprevistas nos próximos meses podem significar uma falta do produto a curto prazo.

A longo prazo…

Mas é a perspectiva de longo prazo que é motivo de real preocupação para agricultores e bebedores de café.

Em algumas áreas, as temperaturas já aumentaram o suficiente para começar a ter impactos na qualidade do cultivo. O resultado lógico é que os preços precisarão aumentar, especialmente para os cafés de alta qualidade, que são os mais ameaçados.

As áreas atuais de cultivo de café na Etiópia podem diminuir em até 60% devido ao aumento de temperatura de 4 graus Celsius até o final do século, prevê o estudo dos Jardins Kew. Esse aumento é baseado em um cenário no qual as emissões de gases de efeito estufa permanecem altas a partir de agora até 2100, segundo o Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Apesar do cenário sombrio, os pesquisadores destacaram que, se determinadas ações forem tomadas, esta situação pode ser evitada. A realocação de áreas de cultivo de café, combinada com conservação e replantação de florestas, poderia ver um crescimento substancial (de até quatro vezes e meio) na região adequada para o plantio do café na Etiópia.

Brasil

Alguma medida é certamente necessária, não somente por conta da demanda mundial de café, mas também porque a bebida fornece meio de subsistência para cerca de 15 milhões de etíopes, o equivalente a 16% da população.

E, se a Etiópia parece longe demais para ser um problema para você, saiba que o país não está sozinho ao experimentar potenciais dificuldades com a produção de café. As pesquisas do IPCC descrevem preocupações semelhantes para o Brasil.

Um aumento da temperatura de 3 graus Celsius e um aumento de 15% nos níveis de chuva pré-industriais em dois dos principais estados produtores de café do país, Minas Gerais e São Paulo, podem levar a uma diminuição da área potencial de produção de 70 a 75% para 20 a 25%.

Nos últimos anos, o pior período de seca já observado no Brasil desde que os registros começaram a ser feitos, quase um século atrás, causou danos nas principais regiões produtoras do país. No início deste ano, o governo chegou a discutir a possibilidade de importar café, o que não ocorreu por conta da pressão dos cafeicultores brasileiros.

A produção brasileira de Arábica caiu bastante entre 2014 e 2015. Secas prolongadas, juntamente com altas temperaturas no estado do Espírito Santo, também resultaram em colheitas mais baixas da variedade mais amarga, Robusta.

O desafio do clima

Uma única seca não pode ser atribuída às mudanças climáticas, mas esses eventos climáticos extremos constituem um grande desafio para a indústria do café.

Enquanto o clima severo impacta cafeicultores na Etiópia e no Brasil e os cientistas preveem uma redução nas áreas onde café de alta qualidade pode crescer, vários outros países produtores estão vendo colheitas recordes. A razão é o desmatamento.

“Em quase todos os países em que a produção de café está atualmente se expandindo rapidamente, o desmatamento é a principal fonte de novas terras. Isso é diferente do Brasil, onde melhorias tecnológicas podem representar aumentos de produtividade”, explica o Dr. Peter Baker, da iniciativa Coffee and Climate, uma organização financiada em parte pela indústria do café.

Tecnologia

A longo prazo, a tecnologia pode desempenhar um papel ainda mais importante na garantia do futuro do café.

Em 2014, a sequência completa do genoma da variedade Arábica se tornou pública, facilitando a seleção de plantas capazes de lidar com condições mais quentes.

Além disso, o Instituto Mundial de Pesquisa do Café está trabalhando em um programa de criação de plantas para tentar aumentar a diversidade do Arábica, tornando-o mais resistente às mudanças climáticas.

Mas isso não é algo que vai acontecer do dia para a noite. Até lá, os amantes da cafeína provavelmente terão que se contentar com um aumento dos preços e uma diminuição da qualidade em suas cafeterias preferidas. [BBC, BusinessInsider]

4 comentários

  • Oliveiras:

    O Rio Grande do Sul é o maior produtor da folha verde de erva-mate (que é utilizada no chimarrão e no mate dos argentinos e uruguaios).
    O Paraná é o maior produtor de erva mate, mas a maior parte da erva produzida no Paraná é torrada e utilizada em chás (Matte Leão, por exemplo).

  • Oliveiras:

    Tomem Chimarrão.
    O Rio Grande do Sul agradece!

    • Cesar Grossmann:

      Por que o RS agradeceria? O Paraná era o maior produtor em 2008, e acho que isso não mudou…

    • guifaly:

      Cha mate, cha verde >>>>
      Até o tererê é melhor do que essa porcaria de chimarrão…

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