O que é a consciência? Nova teoria pode ter algumas respostas
A consciência é um campo de estudo bastante complicado. Afinal, o que é a consciência? Será que algum dia as máquinas serão tão desenvolvidas a ponto de ser conscientes? Será que é possível medir a consciência? Todas essas perguntas guiam os estudos sobre a mente, os pensamentos e o cérebro. Agora, uma nova teoria parece estar mudando a forma como enxergamos essa característica incrível dos seres vivos.
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Em seu mais recente livro, o neurocientista Christof Koch, cientista-chefe e presidente do Instituto Allen de Ciência do Cérebro de Seattle, nos EUA, apresenta pontos importantes para uma nova teoria, que refuta a possibilidade de que um dia as máquinas possam ser conscientes.
Uma medida de complexidade
Este é o terceiro livro que Koch escreveu sobre o dilema da consciência. Ao contrário do que era de se esperar, ele não se aem à visão popular de que estar consciente é apenas uma questão de ter um software suficientemente complexo.
“Em particular, isso significaria que os computadores, se forem suficientemente complexos e se começarem a se parecer com nossas habilidades cognitivas, memórias e conversas, eles também se tornariam conscientes. (De acordo com essa visão) a consciência teria tudo a ver com fazer. A consciência seria apenas uma forma especial de computação. Apenas um algoritmo específico. Então, a consciência estaria a apenas um passo de distância”, diz ele em entrevista ao site GeekWire.
Koch tem uma visão radicalmente diferente. Para ele, a consciência tem a ver com a forma como o hardware do cérebro é intrinsecamente estruturado e conectado. “(A consciência) é uma medida de quão complexos são os sistemas. É uma medida de quão utilizável é um sistema. É uma medida de quanto poder causal o sistema tem sobre si mesmo. Então, em princípio, você pode medir a consciência”, garante o pesquisador.
Em entrevista à assessoria de imprensa do MIT, Koch levanta a questão sobre como nosso corpo físico é capaz de criar algo tão inexplicável como a consciência. “Eu experimento o mundo – vejo uma floresta verdejante, aprecio o sabor delicioso de Nutella, fico apaixonado ou chateado. É isso que é a consciência: qualquer experiência, não importa quão banal ou superior. Mas como é que um órgão físico como o cérebro pode dar origem a sentimentos? Isso parece muito estranho. Nada em física, química ou biologia nos prepara para esse fato aparentemente milagroso – que certos sistemas físicos podem ter estados internos. Esse é o coração pulsante do antigo problema mente-corpo”, afirma.
A escala da consciência
Em seu livro, Koch apresenta um conceito de consciência conhecido como teoria da informação integrada, proposto pela primeira vez há 15 anos por um colaborador dele, Giulio Tononi, do Centro de Sono e Consciência da Universidade de Wisconsin, também nos EUA. A teoria afirma que, analisando a estrutura dos circuitos de um sistema, deve ser possível derivar uma medida numérica do poder de causa e efeito do sistema, conhecido como phi (ou seja, a letra grega Φ).
“Se phi é zero, o sistema não existe por si só.Um sistema com phi positivo, 10, 20 ou 5 milhões, existe por si só. Quanto maior esse número, mais consciente ele é”, explica.
Cientistas se aproximam da Teoria da Consciência
Koch dedica grande parte do livro a explicar o conceito de phi – e esforços experimentais para medir níveis de consciência em uma ampla variedade de indivíduos usando monitores de ondas cerebrais. Quando o cérebro consciente de uma pessoa é atingido por um forte campo magnético, a resposta produz uma varredura complexa de ondas cerebrais que reverberam como o toque de um sino. Mas a resposta de um cérebro não consciente – digamos, o cérebro de alguém que dorme sem sonhos – é mais como um sino quebrado, sem reverberação em diferentes regiões.
E os animais?
“Há uma crescente ciência da consciência. Podemos detectar e rastrear os passos que qualquer experiência consciente deixa no cérebro. Essa é a busca moderna dos correlatos neurais da consciência, um programa de pesquisa que o biólogo molecular e co-descobridor da natureza de dupla fita do DNA, Francis Crick, e eu articulamos muitos anos atrás. Desde então, muito progresso foi alcançado na compreensão de quais regiões do cérebro são responsáveis por gerar experiência e como o aumento e diminuição da consciência ao longo do dia e da noite se refletem na atividade cerebral subjacente”, define.
Um aspecto sinistro dos estudos que já estão sendo realizados com essas técnicas é que alguns pacientes que se pensava estar em estado vegetativo exibem atividade cerebral fortemente reverberante. “Se a teoria estiver correta, isso implica que esses pacientes são conscientes, mas incapazes de se comunicar com o mundo”, escreve Koch em seu livro.
A consciência não está no cérebro
A teoria de Koch sugere que a consciência não é um fenômeno binário, ligado ou desligado. Olhando para além dos seres humanos, os cérebros dos animais mostram um menor grau de causa e efeito, mas o efeito ainda está lá. Koch chegou à conclusão de que todas as formas de vida – desde macacos, cães e golfinhos até micróbios – possuem um pouco de consciência.
Esse conceito, conhecido como panpsiquismo, transformou a vida de Koch. “Eu me tornei um vegetariano completo. Essa é uma das implicações [da visão] de que a consciência é mais difundida do que supomos”, acredita
Máquinas inconscientes
Embora a teoria implique que há consciência em algum nível nos animais, ela também impossibilitaria a tão sonhada inteligência artificial. Seria impossível para os computadores se tornarem conscientes, pelo menos se forem apenas versões avançadas das máquinas atuais.
Graças à evolução da inteligência artificial, é possível treinar um computador para resolver problemas, falar e até se passar por um ser humano. O problema é que, devido à maneira linear em que o circuito de um computador é estruturado, mesmo os sistemas de IA mais avançados não teriam poder de causa e efeito.
“Sim, elas podem imitar o cérebro humano, inclusive imitar o ‘programa’ no cérebro que acorda e diz ‘estou consciente’. Mas tudo será o último passo. Elas não vão sentir nada”
A boa notícia (ou não) para os amantes de ficção científica é que isso só é válido para máquinas como as conhecemos hoje. Se futuros computadores forem modelados para refletir a maneira auto-referencial e altamente complexa pela qual os neurônios são conectados nos cérebros vivos, a questão da consciência da máquina poderá ser revisada, admite Koch. Um exemplo disso é o projeto True North da IBM, que está desenvolvendo chips de computador neuromórficos.
Inteligência sem experiência
Koch é enfático ao afirmar, porém, que sem experiências, as máquinas jamais poderão ter algum tipo de consciência. “O mito dominante de nossos tempos, fundamentado no funcionalismo e no fisicalismo dogmático, é que a consciência é uma consequência de um tipo particular de algoritmo que o cérebro humano executa. De acordo com a teoria da informação integrada, nada poderia estar mais longe da verdade. Embora os algoritmos programados apropriados possam reconhecer imagens, tocar Go, falar e dirigir um carro, eles não estarão conscientes. Mesmo um modelo de software perfeito do cérebro humano não experimentará nada, porque carece dos poderes causais intrínsecos do cérebro. Ele irá agir e falar de forma inteligente. Ele alegará ter experiências, mas isso será falso. Ninguém está lá. Inteligência sem experiência”, explica.
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O pesquisador afirma que, de acordo com suas teorias, ser, sentir e experimentar são coisas que as máquinas como as conhecemos jamais conseguirão fazer, por mais avançadas que sejam.
“A consciência é fundamentalmente sobre ser, não sobre fazer. Isso tem uma série de consequências científicas, filosóficas e éticas. Essa é a diferença entre o real e o artificial. Um supercomputador simulando uma tempestade não fará com que suas placas de circuito se molhem. Um computador também não simula uma torção de buraco negro e distorce o espaço-tempo em torno de seu chassi; você não será sugado para o campo gravitacional maciço simulado. É o mesmo com a consciência – uma programação inteligente de computador pode simular o comportamento que acompanha a consciência no nível humano, mas será uma consciência falsa”, define. [MIT Press, Geek Wire]
1 comentário
Legal, X anos pra chegar perto do Searle, que já expôs essa teoria magnifica da consciência como fenômeno biológico real.