Para fabricar ferramentas mais complexas, é preciso um cérebro mais complexo

Por , em 6.12.2010

Apesar de hoje se inventarem coisas novas a todo instante, levou 2.000 anos para nossos antepassados trocarem as lascas de pedra afiada por machados mais complexos, utilizados para caça e luta. Porque será que eles demoraram tanto para melhorar algo tão simples?

As primeiras ferramentas de pedra datam de 2,6 milhões de anos atrás, e marcam o início do período Paleolítico Inferior. Esse período terminou 2.000 anos mais tarde, quando os primeiros seres humanos fabricaram ferramentas mais complexas que exigiam mais habilidade, os machados de mão em forma de gota.

Os pesquisadores têm debatido a questão da demora da invenção há tempos. Nossos antepassados não eram suficientes espertos, ou não tinham suficiente destreza para desenhar formas mais complexas de ferramentas?

Para responder a essa pergunta, cientistas analisaram os movimentos necessários para fabricar ferramentas diferentes, e concluíram que a resposta para tal mistério está no desenvolvimento do cérebro.

Escaneamentos cerebrais anteriores tinham mostrado uma sobreposição de áreas responsáveis pela fabricação de ferramentas e processamento da linguagem. A sobreposição é maior quando as pessoas estão fazendo ferramentas complexas. Algumas partes do lado direito do cérebro, envolvidas em processamento de linguagem, tornam-se mais ativas nesta situação.

No entanto, apesar dessas diferenças na atividade cerebral, a destreza ainda poderia ser a causa para a demora da invenção. Se fabricar machados de mão requer mais trabalho com a mão esquerda do que fazer simples pedras afiadas, por exemplo, os exames também mostrariam uma maior ativação do lado direito do cérebro, porque a mão esquerda é controlada pelo lado direito do cérebro.

Para entender qual era a causa, então, os pesquisadores pediram a um artesão para criar réplicas de ambos os tipos de ferramenta, enquanto mediam e rastreavam seus movimentos.

Os resultados foram surpreendentes: os tipos de movimento necessários para fabricar o machado não eram mais complexos e não necessitaram de mais destreza física do que os necessários para fazer ferramentas simples.

Assim, a destreza foi descartada. A descoberta apóia a tese anterior de escaneamento do cérebro, que sugere que a complexidade da ferramenta e o desenvolvimento da linguagem estão ligados.

Ou seja, pode-se inferir que a demora teve algo a ver com a complexidade da tarefa. Machados são fabricados em várias etapas, o que exige alternância entre as tarefas, sugerindo que um maior nível de complexidade é necessário no cérebro.

Uma linguagem mais complexa exige que você tenha pensamentos estruturados mais complexos, da mesma forma que a fabricação de ferramentas mais complexas requer ações mais complexas. [NewScientist]

14 comentários

  • jose Senen de Alencar:

    É, a evolução tecnológica que estava em progressão aritmética, agora está em progressão geométrica. E a evolução moral e espiritual, como está?

  • regis:

    A humanidade sempre se adequou ‘a necessidade e conforto,sempre facilitando para a proxima geracao.
    Imagine na era ancestral, sem o uso da linguagem..,depois surgiram as mensagens pintadas ou escritas, o sugimento da imprensa… e ate chegarmos a bem pouco tempo para podermos usar 1 celular,computador,tv, radio etc…e acessar 1 sitema de comunicacao e trocar conhecimentos. Poder comunicar em qualque parte do planeta e saber tudo que ja voi vivido e registrado na historia da humanidade, podendo falar,escutar, escrever e ver tudo que acontece no mundo sem sair de casa. Nao precisa ser 1 genio pra se ter conhecimentos e saber de tudo que existe neste mundo, basta se informar e buscar conhecimentos. Se voce deixar 1 crianca na selva com amimais desde pequeno ela certamente nao vai aprender nem falar, vai ter habitos selvagens…
    Nao podemos desprezar a facilidade de conhecimento, conforto e tecnologia que vivemos os dias atuais, acesso a muitas coisas que muitos nobres e reis jamais experimentaram.

  • ATHEIST:

    Para a história da humanidade 2 mil anos não é nada.

    Nossos ancestrais utilizaram ferramentas feitas de madeira e pedras por mais de 2,5 milhões de anos.
    O que fez o ser humano evoluir socialmente foi a necessidade de sobrevivência em um mundo pós-era glacial, e isso levou a humanidade a capacidade de cultivar alimentos, e se beneficiar da agricultura.

  • eduardo:

    Foram escritas 3 vezes a palavra “complexo”; 3 vezes a palavra “complexidade”; e 6 vezes a palavra “complexas”…… isso pra mim é de uma complexidade muito complexa….

  • Eduardo Garcia:

    Éh.. hoje o conhecimento dobra a cada vez menos tempo, ou seja, um crescimento exponencial em tempo muito curto, quem imagina-se as coisas de hoje na década de 90? ou até 2003 agora? apesar de muitas questões respondidas pela ciência, ocorre um aumento de leque às outras questões… Num futuro próximo conseguiremos vencer nossos problemas em um nível mundial… ^^

  • Breja:

    Sempre tem pessoas a frente do seu tempo ou sala de aula etc..o que ocorre é que elas desenvolveram sua capacidade podemos citar isto Da Vince, Einsten, etc..se fosse assim em termos evolutivos eram para eles terem nascidos no ano de 2800 ou algo do genero, não existe evolução, existe adptação a ambientes, macacos não evoluem, animais não evoluem somente se adptam a ambientes entendem ? O Lançe é desenvolva sua mente simples assim.

  • Farofa:

    yan, qual o enigma?

  • Richard Fontana:

    2.000 anos para sair do machado feito de lascas de pedras para o de metal. Porque tanto tempo?
    Além da explicação de uso do próprio cérebro, o homem também necessitou deste período de tempo para aprender a manipular e alterar os metais, nas fases embrionárias da metalurgia. Dependência da aplicação do calor.
    A abrangência e profundidade do conhecimento é que facilita o desenvolvimento de algo novo, principalmente pela necessidade de uso.

  • Doronis:

    2.000 ou 2 milhões de anos?

  • Yan M.:

    desculpe os erros de português, notei agora D:

  • Yan M.:

    Hugo, gostei de seu raciocínio! e concordo com você, em uma minhas aulas de filosofia, meu professor passou um enigma, após eu decifrar-lo, notei, que era muuuito fácil, é como hoje, quando nós precisar criar alguma ferramenta diferente, iremos pensar, e pensar, até haver a evolução mental, chegando ao resultado.

  • big bang:

    Cuidado… não fale q eramos macacos ou a patrulha criacionista vai te pegar….

  • Hugo:

    Sempre acontece numa sala de aula: o professor passa uma questão besta e ninguém consegue resolver. Ai ele corrige e todos pensam “que besteira, tão fácil”.

    Acho que nós agora achamos fácil e óbvio invenção de tal ferramenta, por que já estamos acostumados e experientes com ela e não a criamos ela, apenas copiamos técnicas a muito tempo inventadas. Talvez na cabeça de um macaco (a 2,6 milhões de anos, exatamente isso que eramos) inexperiente não fosse tão óbvio.

    • Gilson Lima:

      Gilson Lima. Eu aqui nas minhas indagações me pergunto se realmente a linguagem e a destreza do pensamento e da atividade complexa estejam mesmo muito ligadas. Como diz a matéria: “A descoberta apoia a tese anterior de escaneamento do cérebro, que sugere que a complexidade da ferramenta e o desenvolvimento da linguagem estão ligados”.
      Mesmo como tendo como legítimo a posição de observar escaneamentos do cérebro para fins de pesquisa da mente, infelizmente para as interpretação dominante das ciências cognitivas linguagem ( que não é pensamento em si), se restringe a computabilidade informacional (infomicro, infogene, infonano,…). A computalibilidade informacional é produto de máquinas complexas, mas muito redutoras da complexidade, não necessariamente de cérebros complexos – que também é um redutor da complexidade). Para computar, processar e armazenar informação precisamos de sistemas complexos autômatos. Ser autômato não significa ter autonomia e nem capacidade de auto-conciência criativa e reflexiva complexa. Na verdade existe muito dinheiro querendo converter inteligência em complexidade de computabilidade informacional nas diferentes dimensões (micro, nano,…). Isso é diferente. Existe sim e cada vez mais uma cooperação entre ciência e tecnologia, mas essas duas não se fundem automaticamente, pois isso significará um apagão nessa parceria de conhecimentos singulares e muito complexos. Cada campo, ciência e tecnologia, tem suas singularidades e suas sinergias. Att.

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