Aves enxergam o campo magnético da Terra, e agora sabemos como

Por , em 4.04.2018

Os cientistas sabem que os pássaros podem enxergar o campo magnético da Terra há muito tempo, mas não tinham certeza de como isso afeta sua navegação.

Já foi teorizado, por exemplo, que o ferro em seus bicos atua como uma espécie de bússola magnética.

Agora, dois estudos separados descobriram uma proteína nos olhos dos pássaros que lhes permite “ver” os campos magnéticos da Terra.

Os artigos foram publicados nas revistas científicas Journal of the Royal Society Interface e Current Biology.

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Cry4

A proteína é chamada Cry4, e é parte de uma classe chamada de criptocromos, fotorreceptores sensíveis à luz azul encontrados em plantas e animais. Normalmente, desempenham um papel na regulação dos ritmos circadianos.

Agora, existem evidências de que, nas aves, os criptocromos são responsáveis por sua capacidade de se orientarem pela detecção de campos magnéticos, um sentido chamado magnetorecepção.

As aves só podem sentir campos magnéticos se certos comprimentos de onda de luz estiverem disponíveis – especificamente, a luz azul. Isto parece confirmar que o mecanismo é visual, baseado nos criptocromos, que podem ser capazes de detectar magnetismo por causa da coerência quântica.

Para confirmar essa hipótese, pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, estudaram tentilhões-zebra e pesquisadores da Universidade Oldenburg, na Alemanha, estudaram tordos-europeus.

Os achados

A equipe sueca mediu a expressão gênica de três criptocromos – Cry1, Cry2 e Cry4 – nos cérebros, músculos e olhos dos tentilhões.

Sua hipótese era de que os criptocromos associados à magnetorecepção deveriam ser constantes ao longo do dia, diferentemente dos associados ao ritmo circadiano.

Eles descobriram que, como esperado para os genes do ritmo circadiano, Cry1 e Cry2 flutuavam diariamente, mas o Cry4 tinha uma expressão constante, tornando-se o candidato mais provável para a magnetorecepção.

O mesmo achado foi visto no estudo alemão. “Também descobrimos que Cry1a, Cry1b e Cry2 exibem padrões robustos de oscilação circadiana, enquanto o Cry4 mostra apenas uma oscilação circadiana fraca”, disseram os cientistas.

Pontas soltas

Os pesquisadores fizeram algumas outras descobertas interessantes. A primeira é que o Cry4 está agrupado em uma região da retina que recebe muita luz – o que faz sentido para a magnetorecepção, dependente de luz.

A outra é que os tordos aumentaram a expressão de Cry4 durante a estação migratória, em comparação com animais não migratórios, como galinhas.

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No entanto, ambos os grupos de pesquisa advertem que mais estudos são necessários até que o Cry4 possa ser declarado oficialmente como a proteína responsável pela magnetorecepção.

Por exemplo, tanto Cry1 quanto Cry2 também já foram implicados na magnetorecepção em outras pesquisas, em aves e em moscas.

Observar pássaros com defeitos na função da proteína Cry4 pode ajudar a confirmar o papel que ela parece desempenhar.

O que os pássaros veem?

Sim, pássaros enxergam o campo magnético da Terra. Mas o que eles realmente veem?

Nunca poderemos saber como é o mundo através dos olhos de outra espécie, mas podemos chutar.

Um grupo de Teoria e Biofísica Computacional da Universidade de Illinois, cujo pesquisador Klaus Schulten previu pela primeira vez criptoceptores em 1978, desenvolveram um “filtro” de campo magnético que nos dá uma ideia do campo de visão das aves: [ScienceAlert]

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