Plástico Encontrado em Mais de 50% das Placas de Artérias Obstruídas

Por , em 15.03.2024
Observaram-se fragmentos irregulares de plástico dentro de células imunológicas conhecidas como macrófagos e em acumulações de gordura extraídas de artérias bloqueadas. (Marfella e colaboradores, NEJM, 2024)
Observaram-se fragmentos irregulares de plástico dentro de células imunológicas conhecidas como macrófagos e em acumulações de gordura extraídas de artérias bloqueadas. (Marfella e colaboradores, NEJM, 2024)

Um estudo recente realizado na Itália revelou a presença de microplásticos em mais de 50% das placas de gordura retiradas de artérias obstruídas de pacientes. Essa descoberta destaca a onipresença dos plásticos, que já foram encontrados em vários órgãos humanos, inclusive na placenta. A pesquisa mostra a importância de entender os riscos potenciais que essas partículas microscópicas representam para a saúde humana.

Historicamente, estudos sobre os efeitos dos microplásticos concentraram-se em órgãos em miniatura e em testes com animais, como camundongos, mas a exposição real das pessoas a essas partículas no cotidiano pode ser diferente. A pesquisa na Itália, que acompanhou os resultados de saúde de pacientes quase três anos após a remoção cirúrgica das placas de gordura, é uma das poucas que examinou microplásticos em humanos.

A endarterectomia carotídea, um procedimento para remover placas de gordura das artérias, é conhecida por reduzir o risco de derrames. Este estudo específico, realizado pela equipe da Universidade de Campania em Nápoles, buscou compreender se havia diferenças nos riscos de derrame, ataque cardíaco e morte entre pacientes com e sem microplásticos em suas placas. Ao longo de 34 meses, eles observaram que uma grande maioria dos pacientes apresentava polietileno nas placas, e uma porcentagem menor também tinha cloreto de polivinila (PVC) em seus depósitos de gordura.

A pesquisa destacou o uso generalizado de PVC e polietileno em produtos cotidianos, como tubos de água, garrafas plásticas e sacolas. A preocupação com a saúde do coração surgiu da descoberta de microplásticos na corrente sanguínea, e estudos laboratoriais indicam que eles podem causar inflamação, estresse oxidativo em células cardíacas e outros problemas cardíacos em animais.

Após 34 meses, foi observado que os pacientes com microplásticos em suas placas tinham uma probabilidade significativamente maior de ter sofrido um acidente vascular cerebral, um ataque cardíaco não fatal ou de terem morrido por qualquer causa, em comparação com aqueles sem microplásticos detectáveis.

A equipe utilizou técnicas avançadas como a pirólise-gasometria-espectrometria de massa e análise de isótopos estáveis para medir e confirmar a presença de micro e nanoplastics nas placas. Além disso, sob microscópios potentes, foram observados fragmentos de plástico com bordas irregulares dentro de células imunes e nas placas de gordura, juntamente com níveis elevados de marcadores inflamatórios.

Embora o estudo não possa concluir definitivamente que os microplásticos são a causa dos problemas cardíacos observados, ele estabelece uma associação clara entre os dois. O estudo não levou em conta outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, como tabagismo, inatividade física e poluição do ar.

Este estudo acrescenta ao crescente corpo de pesquisa que sugere uma ligação entre a exposição a plásticos e riscos à saúde, levantando preocupações sobre como minimizar essa exposição. A produção de plástico, que aumentou drasticamente nas últimas décadas, e as taxas de doenças cardiovasculares, que em algumas áreas estão diminuindo, são fatores adicionais que necessitam de mais investigação para entender totalmente a conexão entre os dois.

O estudo foi publicado no New England Journal of Medicine, marcando um importante avanço na pesquisa sobre os efeitos dos plásticos na saúde humana.

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