Quando o isolamento não é seguro: violência doméstica durante o Covid-19

Por , em 7.07.2020

Uma das primeiras coisas que vem à mente quando iniciaram as restrições para reduzir a propagação do coronavírus é o quanto extraordinariamente perigoso é para aquelas mulheres que convivem com parceiros abusivos. “Fique em casa” é possivelmente um termo estarrecedor para inúmeras mulheres que vivem com o risco constante de violência doméstica. A vida delas é frequentemente perigosa em situações comuns, mas nesse novo normal estabelecido pela pandemia global de Covid-19, a vida dessas mulheres que são muitas vezes vítimas invisíveis sofrem um risco ainda maior de violência – e até mesmo de morte.

Antes da pandemia de coronavírus, os números indicavam que ao menos uma a cada quatro mulheres no Brasil já foi vítima de violência doméstica. Outras dados indicam que cerca de 40% dos feminicídios do mundo ocorrem nas mãos de um parceiro íntimo.  Essas estatísticas já são absurdamente altas e ainda assim estamos vendo uma alta de 22% nos casos de feminicídio em 12 estados brasileiros durante a pandemia. Outros estudos deixam claro o aumento da violência doméstica quando as famílias passam a grande parte do tempo juntas como fins de semana e feriados.

O aumento da violência doméstica devido ao Covid-19

As restrições geradas para contenção do Covid-19 tristemente pioraram a realidade das mulheres que sofrem violência doméstica. No Acre houve aumento de 300% de feminicídios nos meses de março e abril. Os casos atendidos pela Polícia Militar de São Paulo para abuso doméstico aumentaram 45% em março deste ano comparado com 2019.

Esse período de restrições reduziu ainda mais a capacidade das mulheres que sofrem violência de escaparem. As ordens restritivas da pandemia acabam mantendo as mulheres fechadas com seus agressores. Aqueles amigos ou parentes com que as mulheres podiam contar talvez não possam mais ajudar por causa das regras de distanciamento social. E elas também podem ter medo de sair para um abrigo de mulheres (se houver vaga em algum disponível), por exemplo, para não exporem a si mesmas ou seus filhos ao coronavírus.

Com os parceiros abusivos quase sempre em casa seja pelas medidas restritivas, falta de emprego, etc. pode ser quase impossível ou muito mais perigoso para as mulheres que sofrem abuso terem um local ou momento seguro para buscarem auxílio. Alguns relatórios estadunidenses evidenciaram que o fechamento de tribunais deixou ainda mais difícil, talvez impossível, que as vítimas consigam medidas protetivas. Portanto é possível que algumas mulheres tenham feito planos de sair mas não podem agir.

Como você pode ajudar?

Caso conheça alguém que possa estar passando por abuso não deixe de contatá-la frequentemente, perguntar como estão as coisas e deixe claro que quer saber se as circunstâncias estão ruins. Se tiver condições de acolhê-la deixe claro para ela que isso é uma possibilidade.

Se você atua na área médica pense em mencionar o aumento da violência doméstica desde o início do isolamento e pergunte para a paciente se ela sente segura em casa. [Harvard Health Publishing]

Se você sofre de violência doméstica, lembre:

  • Você não está só; a violência doméstica ocorre com uma em cada quatro mulheres.
  • Você não tem culpa, não sinta nenhuma vergonha ao buscar ajuda.
  • Se estiver com ferimentos, não adie a busca por cuidados médicos por medo de contrair coronavírus.
  • Se você estiver em risco ligue para 180. Caso não esteja no Brasil ligue para qualquer um destes outros números.
  • Faça o seu plano de segurança. Mesmo coisas simples podem parecer muito difíceis quando você está em uma situação aterrorizante. Ter seu plano de segurança vai ajudar nesse aspecto. (O link indicado é de Portugal portanto faça os ajustes necessários).

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