Quer emagrecer usando um método definitivo?

Por , em 1.12.2014

Artigo de Mustafá Ali Kanso

Uma reflexão sobre a ditadura da balança

Com a chegada do verão nesse lado do equador, além das andorinhas migram para essas latitudes também o desespero.

Principalmente quando os pneuzinhos da temporada passada se transformaram em uma borracharia completa.

Seja pelos excessos alimentares do inverno; seja pelo típico sedentarismo invernal sulista. Aquele justificado pelo clima de uma Curitiba nebulosa, para citar apenas um exemplo, na qual chove dia sim e no outro também.

Enfim, essa é a época em que todos querem ficar em forma e de forma rápida.

De preferência sem nenhum esforço ou sacrifício.

E eu serei duro com todos os gordinhos e gordinhas que como eu já passaram ou estão passando por isso:

— Não adianta o desespero. Esse definitivamente não resolve.

Apenas nos torna suscetíveis aos golpes mais comuns do mercado do emagrecimento.

Assim, eu convido o leitor e a leitora que faça esse mea culpa admitindo para si mesmo o que eu já admiti:

— Durante muito tempo eu não quis emagrecer. Eu quis ser emagrecido!

Em outras palavras eu procurei uma solução milagrosa que viesse de fora para dentro.

Solução que não me cobrasse nenhum envolvimento direto. Ou, em última instância, apenas me cobrasse um módico envolvimento financeiro.

Afinal essa sociedade me acostumou desde menino a incorporar como minhas as necessidades que me são criadas, todos os dias, pelos meios de comunicação.

E me ensinou também a pagar, para atender essas necessidades, em moeda corrente ou em suaves parcelas pelo cartão de crédito (e que não devo sair de casa sem ele) com juros de apenas 500% ao ano.

Quando não, eu fui ensinado também a pagar com minha própria saúde.

Eu já me flagrei trabalhando mais que deveria apenas para bancar todo esse conjunto de necessidades que depois de uma breve passagem por uma UTI se demonstraram não tão necessárias assim.

E você já se deu conta disso ou está aguardando a sua estadia no hospital mais próximo para descobrir o óbvio?

E entre essas tão propaladas necessidades do século XXI, com certeza, está em prioridade o corpo escultural para ser ostentado nas areias de alguma praia superlotada.

Não um corpo necessariamente saudável!

Por que isso bons médicos e bons especialistas em desporto nos orientam e não tem muito mistério: se não houver distúrbio glandular (ou outra patologia) basta comer direito e se exercitar.

Não.

Não precisa ser saudável. Basta que seja bonito. Esse bonito que quer significar um corpo na moda, sem se preocupar muito com a saúde — como pode bem testemunhar os milhares de usuários das anfetaminas, sibutraminas e esteroides anabolizantes que se estinguem nas mãos de charlatães. Não antes de vivenciarem os efeitos dos danos no fígado, nas gônadas, no cérebro e no coração.

E depois de estirados num caixão e enterrados a sete palmos ficarão magros para sempre.

Isso sim que é método definitivo.

E eu nem falei em bulimia ou anorexia.

Desculpem.

Não quero ser tétrico. Nem desrespeitoso. Mas o caso é sério.

Essa realidade de pessoas que se intoxicam e/ou param de comer e morrem, ou quase morrem, apenas para ficarem na moda, deixa de ser apenas um triste dado estatístico.

Quem não tem um amigo, ou amiga, ou um familiar que sofre ou sofreu esses mesmos efeitos da ditadura da balança?

São vítimas em potencial desse tipo fatal de charlatanismo.

É fácil perceber que o padrão de beleza mudou e impõe que a maioria se ache feio ou gordo (e que no fundo nos fazem crer que é a mesma coisa).

E leia-se aqui que não se trata de obesidade que é um caso de saúde pública.

Estou falando de biótipo. De diferenças individuais.

E, sempre, o principal alvo são as mulheres.

Para ser claro nessa esteira de comparação até Marilyn Monroe se acharia gorda se fosse transportada para o século XXI numa máquina do tempo e se deparasse com nossos modelos atuais de beleza.

E isso para perseguir uma beleza imaginária — fictícia — conquistada com intermináveis seções de fotografia, banhadas com refinados truques de maquiagem e iluminação e finalizadas com sofisticadíssimos efeitos criados por computador.

Marilyn Monroe se acharia gorda?

Marilyn Monroe nos padrões de beleza atuais se acharia gorda?

Como vingança talvez devamos fazer photoshop de poses antigas e postar nas redes sociais, por que isso já está em conta, nessa desistência do ser e do ter para o virtual negócio do século XXI que é o de aparentar.

Então por que eu não posso apenas pagar para ficar do jeito que eu quero, ou do jeito que a propaganda da televisão e da revista dizem que eu devo querer?

Afinal existe tanta evolução na ciência e na tecnologia e por que ainda não inventaram um método revolucionário que realmente faça você ter um corpo escultural?

Algum método milagroso que dispense cirurgias dolorosas ou que não use medicamentos suspeitos? Nada de passar fome de faquir ou suar bicas em academias superlotadas?

E eu pergunto para quê?

Se o assunto for uma vida mais saudável, não precisamos de nada disso. Talvez devamos apenas comer menos e caminhar mais.

Nossos avós tinham hábitos saudáveis e não dispunham de tanta tecnologia.

Mas, eles viviam em outro tempo e em outro espaço.

Não sei.

Talvez o mais importante seja eu gostar de meu jeito de ser e não do jeito que o outro é.

Somos todos diferentes um do outro — por que deveríamos aceitar um padrão?

Não existiriam diferentes tipos de beleza já que existem diferentes tipos de pessoa?

Será que poderemos sonhar com um mundo onde o ser é mais importante que o ter ou o aparentar?

Um mundo onde se viva o real conceito da beleza? Algo que seja mais permanente e menos definitivo.

Nada contra ao comer direito e fazer exercícios. Isso é vital — apenas acho que não é na televisão, ou na revista ou no espelho que eu vou encontrar as verdadeiras razões para cuidar da saúde.

Viver com mais saúde e com isso alcançar longevidade deveria ser uma prerrogativa humana para que possamos ficar de bem com nosso corpo e também dispor de tempo de vida para nos dedicarmos às coisas mais elevadas e menos transitórias.

Tempo para estendermos nossa vida na vida do outro de forma construtiva e fecunda. Não como simples exercício de exibicionismo, vaidade e ostentação.

Eu penso que seria uma escolha em qual mundo queremos realmente viver? Nesse ou naquele?

Para terminar, uma de minhas pequenas fábulas. Uma que já contei em diversas oportunidades:

O Rato que Ruge

O leão — o grande rei da floresta — em seu passeio matinal, passou dos limites de seu reino e entrou numa terra pantanosa e estagnada. Para sua surpresa, depois de alguns minutos de caminhada, prendeu uma de suas unhas numa engenhosa trama de ervas, de dentro da qual surgiu um fétido ratinho.

— Não adiante resistir, você é meu prisioneiro — rosnou o camundongo.

O leão achou divertida a situação e entrou no jogo.

— Oh, você realmente me enredou feroz caçador. O que fará comigo?

— Vou devorá-lo. Nessas terras eu amarro e desamarro e você é a minha presa.

— Tenha piedade, jovem caçador e me desamarre – rosnou o leão com todo o poder de usa voz.

O rato apavorado, mas sem perder a pose rosnou de volta:

— Vou desamarra-lo, mas prometa que irá embora de minhas terras sem represálias.

— Prometo — disse o leão com sinceridade.

E assim que o rato soltou sua unha o leão evadiu-se daquele lugar pútrido.

Dona coruja ao assistir toda a contenda, curiosa interpelou o grande felino:

— Por que se afasta dele se poderia destruí-lo apenas com sua unha e anexar a seu reino todo aquele território.

— Cá entre nós amiga coruja, lugar que rato amarra e desamarra não é saudável para nenhum leão viver — respondeu com sabedoria o rei dos animais que seguiu seu caminho na direção de seu reino florido e iluminado.

 

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Artigo de Mustafá Ali Kanso 
 

[Leia os outros artigos  de Mustafá Ali Kanso  publicado semanalmente aqui no Hypescience. Comente também no FACEBOOK – Mustafá Ibn Ali Kanso ]
 

LEIA A SINOPSE DO LIVRO A COR DA TEMPESTADE DE Mustafá Ali Kanso
 

[O LIVRO ENCONTRA-SE À VENDA NAS LIVRARIAS CURITIBA E SPACE CASTLE BOOKSTORE].

Ciência, ficção científica, valores morais, história e uma dose generosa de romantismo – eis a receita de sucesso de A Cor da Tempestade.

Trata-se de uma coletânea de contos do escritor e professor paranaense Mustafá Ali Kanso (premiado em 2004 com o primeiro lugar pelo conto “Propriedade Intelectual” e o sexto lugar pelo conto “A Teoria” (Singularis Verita) no II Concurso Nacional de Contos promovido pela revista Scarium).

Publicado em 2011 pela Editora Multifoco, A Cor da Tempestade já está em sua 2ª edição – tendo sido a obra mais vendida no MEGACON 2014 (encontro da comunidade nerd, geek, otaku, de ficção científica, fantasia e terror fantástico) ocorrido em 5 de julho, na cidade de Curitiba.

Entre os contos publicados nessa coletânea destacam-se: “Herdeiro dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” que juntamente com obras de Clarice Lispector foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Prefaciada pelo renomado escritor e cineasta brasileiro André Carneiro, esta obra não é apenas fruto da imaginação fértil do autor, trata-se também de uma mostra do ser humano em suas várias faces; uma viagem que permeia dois mundos surreais e desconhecidos – aquele que há dentro e o que há fora de nós.

Em sua obra, Mustafá Ali Kanso contempla o leitor com uma literatura de linguagem simples e acessível a todos os públicos.

É possível sentir-se como um espectador numa sala reservada, testemunha ocular de algo maravilhoso e até mesmo uma personagem parte do enredo.

A ficção mistura-se com a realidade rotineira de modo que o improvável parece perfeitamente possível.

Ao leitor um conselho: ao abrir as páginas deste livro, esteja atento a todo e qualquer detalhe; você irá se surpreender ao descobrir o significado da cor da tempestade.

[Sinospse escrita por Núrya Ramos  em seu blogue Oráculo de Cassandra]

2 comentários

  • Adrielle Lopes:

    Ótimo texto!!! É bem por aí que eu penso também! 😉

  • Eduardo Felipe:

    A maioria das pessoas que encontro adoram falar sobre estética, e tudo que vejo são livros com boas capas mas páginas em branco.

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