Seu apêndice não é inútil: pesquisadora

Por , em 3.02.2024

Em 1992, no começo das férias de primavera em Phoenix, Heather Smith, então com 12 anos, mal podia esperar pela viagem de esqui planejada com sua família.

Contudo, antes mesmo de Smith começar a arrumar seu equipamento de esqui, ela percebeu que algo não estava bem em sua saúde. Ela relata: “Acordei me sentindo um pouco enjoada, sem entender o motivo. Conforme o dia avançava, meu mal-estar aumentava, acompanhado de dores abdominais.”

No decorrer da tarde, preocupado, seu pai a levou às pressas para um centro de atendimento médico de urgência. O resultado foi uma cirurgia de emergência para a retirada do apêndice.

Hoje, Smith ainda possui uma cicatriz pequena, resultado dessa operação. Esta experiência despertou nela uma curiosidade sobre o apêndice, um órgão do seu corpo que ela havia perdido de maneira tão inesperada. Ela começou a questionar: “Qual é a função desse pequeno órgão curioso? Como ele opera? O que leva à sua inflamação?”

Com o tempo, Smith se tornou professora de anatomia na Universidade Midwestern e editora-chefe da revista “The Anatomical Record”. Anos depois, ela é reconhecida por suas pesquisas sobre o apêndice, exatamente o órgão que alterou os planos de férias de sua família.

Smith admite que o apêndice geralmente é visto como um órgão redundante, conhecido apenas por causar dor e exigir intervenção cirúrgica urgente. “No entanto, estudos recentes indicam que ele tem funções benéficas”, ela observa.

Em uma entrevista com o programa Short Wave da NPR, Smith discutiu os benefícios do apêndice e a possibilidade de tratamentos futuros para apendicite que podem não requerer cirurgia.

Essa entrevista foi editada para ser mais concisa e clara.

O que é o apêndice e onde ele se localiza?

O apêndice, presente em humanos e alguns outros mamíferos, assemelha-se a um pequeno verme e tem o tamanho aproximado de um dedo mindinho. Ele se estende do ceco, a primeira parte do intestino grosso.

Sua localização pode ser determinada usando o ponto de McBurney. Traçando uma linha do umbigo até a parte proeminente do quadril direito, o apêndice situa-se aproximadamente a dois terços dessa linha.

Por que o apêndice era considerado inútil?

Antes de Darwin, havia um debate significativo sobre a finalidade do apêndice. O fato de ser possível viver sem ele apoiava a noção de ser um órgão vestigial e sem função. A interpretação de Darwin de que era um órgão vestigial era lógica com base nas informações disponíveis na época.

No entanto, técnicas modernas permitiram um entendimento mais profundo do apêndice, incluindo sua microanatomia e biofilmes internos.

Como o apêndice evoluiu?

Ao analisar a evolução dos mamíferos, percebe-se que o apêndice evoluiu independentemente várias vezes. Isso sugere que ele deve ter alguma função adaptativa, sendo improvável que a mesma estrutura surgisse repetidamente sem servir a um propósito benéfico.

Quais são as funções benéficas do apêndice?

Pesquisas sugerem que o apêndice tem duas funções principais. Primeiramente, ele apoia o sistema imunológico devido à sua alta concentração de tecido imune. Em segundo lugar, como hipotetizado por pesquisadores da Universidade Duke em 2007, ele atua como um refúgio seguro para as bactérias benéficas do intestino. Durante distúrbios gastrointestinais, essas bactérias são protegidas no apêndice e podem posteriormente recolonizar o intestino.

Por que a apendicite ocorre mais em países industrializados?

A apendicite é mais prevalente em regiões industrializadas, possivelmente devido ao menor consumo de fibras alimentares. Isso pode levar a que partículas de alimentos fiquem presas no apêndice, interrompendo o suprimento de sangue e causando inflamação.

Outra teoria, agora menos favorecida, é a hipótese da higiene. Sugere que a excessiva limpeza e uso de antibióticos levaram a sistemas imunológicos subdesenvolvidos, que podem reagir exageradamente, especialmente em áreas como o apêndice, que é rico em tecido imune.

Essas novas percepções podem levar a tratamentos alternativos?

Tratamentos promissores estão sendo explorados, como o uso de antibióticos em vez de remoção total, considerando os benefícios à saúde do apêndice. Estudos mostram que infecções com bactérias nocivas como C. diff são mais comuns em indivíduos que tiveram o apêndice removido.

Manter o apêndice pode oferecer vantagens à saúde, e idealmente, tratamentos futuros evitarão sua remoção.

O que o estudo do apêndice ensinou?

Esta pesquisa destaca a importância de examinar detalhes anatômicos menores. A anatomia, frequentemente considerada um campo estático, está repleta de variações e funções ainda não totalmente exploradas. Investigar partes menos estudadas do nosso próprio corpo e de animais exóticos é de fato valioso. [NPR]

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