Transplantes para tratar do Parkinson causam graves efeitos colaterais
Desde os anos 90, um procedimento tem sido usado largamente pela medicina para se tratar do mal de Parkinson: o transplante de tecido de fetos abortados. Esse método cirúrgico foi desenvolvido para ajudar os portadores da doença, mas desde o começo se mostrou imprevisível, porque os pacientes referiam ter movimentos bruscos involuntários depois da operação. Cientistas da Suécia e da Grã-Bretanha descobriram o motivo.
O mal de Parkinson acontece quando há disfunção nos neurônios que produzem dopamina, o hormônio que transmite os comandos de movimentos corporais. Esses neurônios liberam uma quantidade variável de dopamina, que depende de quanto o corpo produz de outro hormônio, a serotonina, que é o mensageiro do sentido contrário: leva impulsos e estímulos externos para o cérebro. O mal desse transplante, portanto, é o seguinte: faz o corpo produzir serotonina desordenadamente e em excesso; com isso, “engana” os neurônios, que produzem dopamina em quantidades erradas.
Assim, essa dopamina excessiva causa no corpo movimentos involuntários, o que pode ser muito, muito incômodo. Imagine você em um jantar fino, prestes a saborear uma taça de vinho, e de repente seu braço age sozinho e derrama tudo na sua roupa.
Os cientistas apontam duas possíveis soluções para esse problema. Uma delas é procurar uma alternativa ao transplante nervoso. Estão em desenvolvimento, pela bioengenharia, neurônios “artificiais”. Outra opção seriam as células-tronco, que podem converter-se em neurônios, mas esse procedimento também ainda está em testes. Mais acessível seria recorrer a outros transplantes que não o de neurônios vindos de tecidos de fetos: já existem os de tecidos da carótida (artéria do coração), da retina, e até de órgãos do porco. Esses meios também apresentam riscos, mas não tão elevados quanto o fetal.
Outra maneira, segundo os médicos, é ministrar a doença apenas através de remédios. É especialmente útil para os pacientes que já fizeram o transplante, porque alguns medicamentos – tais como a buspirona – conseguem minimizar quase totalmente o excesso de serotonina. Esse remédio, que já existe na versão genérica sob o nome de Buspar, é uma alternativa mais barata para quem padece com o mal de Parkinson. [Reuters]