Novo estudo questiona: será que devemos substituir antidepressivos por exercícios físicos?

Por , em 31.05.2019

Um novo estudo sugere que os exercícios físicos são tão eficazes em aliviar os sintomas de problemas de saúde mental e transtornos de humor, como ansiedade, depressão e esquizofrenia, quanto os medicamentos tradicionais. Se confirmada, essa pode ser uma excelente notícia para pacientes que sofrem com este tipo de problema, uma vez que isso pode significar menos tempo em instalações psiquiátrica e menos probabilidade de dependência de medicamentos psicotrópicos.

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“A atitude geral da medicina é que você trata primeiro o problema primário, e o exercício nunca foi considerado uma opção de tratamento de vida ou morte. Agora que sabemos que é tão eficaz, pode se tornar tão fundamental quanto a intervenção farmacológica”, explica David Tomasi, professor da Universidade de Vermont, psicoterapeuta e terapeuta de grupo de psiquiatria de pacientes internados no Centro Médico da Universidade de Vermont e principal pesquisador do estudo, em comunicado à imprensa.

Médicos em hospitais psiquiátricos normalmente prescrevem primeiramente medicamentos psicotrópicos, em vez de remédios naturais, como exercícios físicos, para aliviar os sintomas como raiva, ansiedade e depressão. Profissionais confiam nas estruturas psicoterapêuticas e farmacológicas clássicas para tratar sintomas psiquiátricos, que eles monitoram para determinar quando um paciente está pronto para receber alta da instituição. O problema é que tais medicamentos perdem seu efeito com o tempo e passam a causar dependência, além de outros efeitos colaterais.

Corpo são, mente sã = exercícios

A nova pesquisa é um forte argumento para quem acredita que corpo e mente precisam ser tratados de maneira conjunta. Há um crescente reconhecimento dos problemas crônicos associados aos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS ou SSRI), medicamentos antidepressivos, e outras intervenções farmacológicas. A eficácia dos antidepressivos diminui com o tempo, deixando os pacientes viciados, tendo mais efeitos colaterais do que benefícios.

Em texto publicado no site Big Think, o colunista Derek Beres, especialista em exercícios físicos, defende que “a divisão mente-corpo destruiu nossa compreensão de nossa natureza animal inerente”. Para ele, a noção de que há um processo etéreo dentro do funcionamento biológico de nossos corpos – o que chamamos de “alma” – resultou em uma dissociação severa entre o movimento físico e a psicologia. Passamos a acreditar que podemos tratar o cérebro separadamente do corpo.

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“Humanos foram projetados para se mover. O bipedismo nos oferece sérias vantagens na capacidade pulmonar e nos sistemas de comunicação. Os humanos são geralmente fracos e lentos entre os mamíferos, mas a combinação de engenhosidade mental e destreza física nos deu uma vantagem competitiva, uma que exploramos de forma tão eficaz que, graças à nossa tecnologia, nos curvamos ao culto da mente enquanto abandonamos a realidade de nossos corpos”, defende.

Beres vai além e critica a desconexão da natureza da vida moderna. “À medida que entramos em um mundo (…) no qual os jogadores de e-sports realmente se consideram atletas, essa desconexão se aprofunda. Como Robert McFarlane escreve em Marcos, a remoção de palavras baseadas na natureza de nossos dicionários para criar espaço para termos associados à tecnologia é outro prego no caixão de nossa relação com a natureza. Quando temos um vocabulário mais rico para os itens em uma tela do que para o que vemos quando levantamos nosso olhar, perdemos uma sensação do que formou a própria essência de quem somos”.

Resultados

Tomasi, em colaboração com Sheri Gates e Emily Reyns, também da UVMMC, construiu uma academia exclusivamente para cerca de 100 pacientes na unidade de psiquiatria de internação do centro médico e conduziu e introduziu exercícios estruturados de 60 minutos e programas de educação nutricional em seus planos de tratamento. Os psicoterapeutas entrevistaram os pacientes sobre seu humor, autoestima e autoimagem antes e depois das sessões de exercício para avaliar os efeitos da atividade física sobre os sintomas psiquiátricos.

Os pacientes relataram níveis mais baixos de raiva, ansiedade e depressão, maior auto-estima e melhor humor geral. Incríveis 95% dos pacientes relataram melhora de humor após os exercícios, enquanto 63% relataram estar felizes ou muito felizes, em oposição aos neutros, tristes ou muito tristes, após os exercícios. Uma média de 91,8% dos pacientes também relataram que estavam satisfeitos com a maneira como seus corpos se sentiam depois de realizar os exercícios.

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“O mais fantástico sobre estes resultados é que, se você está em um estado psicótico, você está de certa forma limitado com o que você pode fazer em termos de psicoterapia. É difícil receber uma mensagem através da terapia neste estado, enquanto que com o exercício, você pode usar seu corpo e não confiar apenas na inteligência emocional”, explica Tomasi.

“A prioridade é fornecer estratégias mais naturais para o tratamento de transtornos de humor, depressão e ansiedade. Na prática, esperamos que todas as instalações psiquiátricas incluam terapias integrativas – no nosso caso, o exercício em particular – como o principal recurso para o bem-estar psicofísico de seus pacientes”, defende. [Science Daily, Big Think]

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