Ficar no trânsito diariamente pode levar a baixa saúde mental de acordo com gigantesco estudo

Por , em 13.12.2023

Estar preso em congestionamentos é algo que todos preferem evitar, especialmente diante das evidências que apontam os prejuízos que isso pode causar à saúde.

Viagens longas e diárias para o trabalho podem esgotar o tempo livre dos viajantes, frequentemente resultando em menor atividade física, aumento de peso, maior consumo de álcool e distúrbios no sono.

Um estudo recente, divulgado na semana passada, mostrou que ficar muito tempo no trânsito pode aumentar a pressão arterial. Interessantemente, isso se deve mais à poluição do ar, que os motoristas respiram, do que ao estresse do trânsito.

Essa questão é particularmente grave na Coreia do Sul, onde se presume que as pessoas tenham algumas das mais longas médias de tempo de deslocamento e altos índices de depressão entre os países da OCDE.

Contudo, faltam estudos sobre o impacto desses longos períodos de deslocamento na saúde, especialmente em populações asiáticas, e como isso pode afetar a saúde mental, levando a problemas como a depressão.

Uma pesquisa recente com mais de 23.000 indivíduos começou a preencher essa lacuna de conhecimento. Os resultados mostram que sul-coreanos com deslocamentos superiores a uma hora têm 16% mais chances de apresentar sintomas depressivos em comparação àqueles com trajetos menores que 30 minutos.

Este estudo foi conduzido por Dong-Wook Lee, especialista em saúde pública da Universidade de Inha, na Coreia, e se baseou nos dados de pessoas em idade produtiva que participaram da Quinta Pesquisa Coreana sobre Condições de Trabalho, realizada em 2017.

A saúde mental dos participantes foi avaliada através do índice de bem-estar de cinco pontos da Organização Mundial da Saúde.

A média de tempo gasto no trânsito diariamente pelos entrevistados foi de 47 minutos, o que representa quase quatro horas semanais para quem trabalha cinco dias por semana.

Um quarto dos 23.415 participantes da pesquisa relatou sintomas de depressão, conforme indicado por suas pontuações no índice. No entanto, esses resultados não equivalem a um diagnóstico clínico.

Embora o estudo não estabeleça uma relação de causa e efeito, identificou-se uma correlação significativa entre longos tempos de deslocamento e piora da saúde mental, especialmente em homens solteiros que trabalham mais de 52 horas por semana e não têm filhos.

Entre as mulheres, os tempos longos de deslocamento afetaram mais severamente a saúde mental daquelas com rendimentos mais baixos, trabalhadoras por turnos e mães.

Os pesquisadores sugerem que a falta de tempo livre pode impedir a liberação do estresse e a recuperação da fadiga física por meio de sono, hobbies e outras atividades, conforme relatado ao Korean Biomedical Review.

O estudo considerou variáveis como idade, horas de trabalho semanais, renda, ocupação e trabalho por turnos, mas não pôde incluir fatores de risco pessoais para sintomas depressivos, como histórico familiar.

Além disso, a pesquisa não especificou os modos de transporte utilizados pelos entrevistados. Em contrapartida, um estudo do Reino Unido em 2018, com quase 4.500 participantes, descobriu que mudar para modos de transporte ativos, como ciclismo ou caminhada, pode melhorar a saúde mental.

Apesar dos aspectos negativos, alguns viajantes veem as longas jornadas como uma oportunidade para relaxar e se desconectar do trabalho.

É importante salientar que esta pesquisa coreana foi realizada antes da pandemia, que alterou significativamente os padrões de trabalho. No entanto, o trabalho remoto não é uma opção para todos.

Os pesquisadores observaram uma ligação mais forte entre longos períodos de deslocamento e sintomas depressivos em trabalhadores de baixa renda. A transição para o trabalho remoto está ocorrendo mais rapidamente entre trabalhadores de colarinho branco e de alta renda do que entre os de baixa renda.

Os pesquisadores concluem sugerindo que melhorias no transporte para reduzir o tempo e a distância de deslocamento podem criar um ambiente de viagem mais favorável e impactar positivamente a saúde. [Science Alert]

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