Você está errado!

Por , em 27.04.2015

Por definição, nós acreditamos que cada uma das nossas crenças é verdadeira. Paradoxalmente, você deve admitir que está errado, pelo menos uma vez ou outra, já que é impossível estar sempre certo. Isto torna-se particularmente evidente quando consideramos o grande número de crenças que temos, a complexidade do mundo em que vivemos e o número de pessoas que discordam de nós. O problema, porém, é que não sabemos qual das nossas muitas crenças estão erradas. Se soubéssemos, já teríamos deixado de acreditar nelas.

Mas a esperança não está perdida. Nós podemos efetivamente raciocinar sobre quais das coisas que acreditamos são mais propensas a estarem corretas, e quais são mais propensas a serem grandes erros. Mesmo se nós acreditamos fielmente da mesma forma em duas ideias, outras considerações podem nos fazer compreender que somos mais propensos a estar corretos em um dos casos mais do que no outro. Em outras palavras, há traços que vão além de nossa fé que podem nos ajudar a identificar onde estamos propensos a ter erros.

Para ficarmos bons nisso, precisamos ir além de apenas considerar quão fortemente acreditamos em tal coisa. Precisamos considerar as propriedades de nossas crenças, e decidir, entre cada uma delas, se devemos manter um olhar mais cético ou não.

Considere as seguintes propriedades que as crenças podem ter. Cada uma delas é um indicador de que aquele cachorrinho que você amava na infância não foi de fato levado para uma fazenda quando ficou velho:

  1. Muitas pessoas inteligentes discordam de você (por exemplo, você acha que a evolução não aconteceu). Se muitas dessas pessoas pensam que você está errado, aquilo que você considera uma coisa certa pode não ser tão óbvia assim;
  2. Você tem um incentivo financeiro (ou outro) para acreditar (por exemplo, você acha que o produto que você criou realmente faz cabelos crescerem, e você valoriza o fato de estar fornecendo um produto que ajuda as pessoas). Quando temos um incentivo para pensar de certa forma, somos menos propensos a procurar ou ouvir evidências que contradizem esta maneira de pensar;
  3. Se aquilo que você acredita não for verdade, você consideraria psicologicamente perturbador (por exemplo, você acredita que sua esposa não fantasia sexualmente com outros homens). Nossas mentes tendem a desviar os pensamentos que nos perturbam, tornando menos provável que nós acreditemos neles, mesmo quando são verdadeiros;
  4. Você originalmente acredita em algo por razões que não têm muito a ver com a lógica, evidência ou razão (por exemplo, quando você era criança, sua mãe não deixava seus animais de estimação irem para a rua, então você acredita que isso é perigoso);
  5. Seu argumento a respeito de porque sua crença é verdadeira é longo e complexo (por exemplo, você acredita que uma criminosa condenada é inocente, porque quando você avalia as doze peças de evidência contra ela, você acha que elas não se sustentam). Quando os nossos argumentos são longos e complexos, é mais provável que tenhamos cometido um erro em algum momento de nosso pensamento;
  6. Há vários resultados possíveis, e você acredita que apenas um deles irá ocorrer (por exemplo, você acha que nas próximas eleições para prefeito o seu candidato vai ganhar). Normalmente, quanto mais resultados possíveis existem, menos provável será que qualquer um deles em particular esteja correto;
  7. Um grande número de fatores influencia se a sua crença vai acabar sendo verdadeira (por exemplo, você está convencido de que o crescimento do PIB irá diminuir ao longo do próximo ano). Quando muitos fatores influenciam um fato, é muito difícil ter certeza de que você já considerou devidamente todos os mais importantes;
  8. Você não entende os argumentos daqueles que discordam de você, ou não consegue entender como eles poderiam acreditar no que eles acreditam (por exemplo, você sabe que um feto é, obviamente, uma pessoa). Quando você não entende as opiniões contrárias, é um indicador de que você tem pesquisado principalmente apenas um lado de um problema, e por isso é menos propenso a ter realmente pesado a força dos argumentos de todos os lados;
  9. Você se torna emotivo quando as pessoas discordam de você sobre determinada crença (por exemplo, você acha que as companhias de seguros não devem limitar os gastos com saúde para doenças que são geralmente terminais, e você fica aborrecido quando desafiado sobre esta questão). O problema aqui é que emoções fortes podem interferir com a nossa capacidade de avaliar argumentos objetivamente, e nos impedem de entrar em uma discussão de mente aberta sobre o assunto;
  10. Você não pode explicar claramente aquilo que você acredita (por exemplo, você está convencido de que você tem livre-arbítrio). Quando achamos que é difícil explicar o que entendemos ser uma de nossas crenças, pode ser o caso de apenas termos nos ligado a uma ideia ou intuição, ao invés de ter considerado as provas e tomado uma decisão com base nisso. [Clearer Thinking]

1 comentário

  • Cesar Grossmann:

    Um forte indício que você está provavelmente errado é quando você acredita em algo que vai contra o consenso dos especialistas.

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