Teoria controversa da evolução pode ser apoiada por espécie de formiga

Por , em 2.09.2014
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Formiga M. à esquerda, e sua parasita à direta

O pesquisador alemão Christian Rabeling desenterrou colônias de formigas em um campus universitário no Brasil, e encontrou algo inesperado: algumas pareciam ser menores, mais brilhantes e tinham asas.

Rabeling logo percebeu que essas formigas estranhas pertenciam a uma espécie parasita desconhecida que se alimenta dos nutrientes das formigas que já conhecemos de longa data. Em um estudo publicado recentemente na revista Current Biology, Rabeling e um grupo de cientistas, incluindo Ted Schultz, curador de formigas no Museu Nacional de História Natural dos EUA, afirmam que a própria existência dessas formigas parasitas fornece novas evidências que suportam uma teoria controversa da evolução.

O conceito central dessas novas descobertas é um evolutivo chamado de “especiação simpátrica”, que traduz a possibilidade “de uma espécie se dividir em duas espécies diferentes, sem que haja qualquer separação geográfica”, explica Schultz. Essa ideia tem sido criticada e, geralmente, costuma ser rejeitada pela comunidade científica. Afinal, é uma coisa muito difícil de se provar.

Mas Rabeling e Schultz acreditam que podem fazer isso, justamente com essa espécie de formiga de que falamos.

A espécie de formigas e a teoria controversa da evolução

A colônia de formigas que eles estudaram estava situada sob um grupo de árvores de eucalipto na Universidade de São Paulo (USP). A formiga familiar, Mycocepurus goeldii, é uma espécie de cultivo de fungos, o que significa que elas ajudam os fungos a crescerem e usam seus nutrientes como base de sua alimentação.

Esta formiga tem sido observada em todo o Brasil e em países vizinhos. Mas no campus da Universidade existe uma formiga parasita, a Mycocepurus castrator. Ao invés de ajudar a crescer o fungo, os parasitas passam a vida comendo suas reservas alimentares e se reproduzindo. Às vezes, eles passam despercebidos; outras vezes, os agricultores conseguem identificá-los e matá-los.

A maioria das novas espécies se desenvolvem em isolamento geográfico das espécies originais, um conceito chamado de “especiação alopátrica”. É raro que uma espécie como as formigas parasitas evoluam de outra espécie dentro do mesmo ninho. Por isso, essa formiga parasita pode reforçar o argumento da teoria controversa da evolução, e fazer com que essa hipótese seja levada a sério daqui para frente.

Na década de 1930, 70 anos após Charles Darwin ter publicado “A Origem das Espécies”, o biólogo Ernst Meyer começou a falar sobre o conceito de “especiação alopátrica” e foi inflexível quanto a essa ideia. Já um dos estudantes de Meyer, Guy Bush, passou sua carreira procurando evidências do fenômeno. Décadas mais tarde, a comunidade científica continua a debater acaloradamente essas duas possibilidades de como as espécies evoluem.

Rabeling e Schultz estão confiantes de que as formigas parasitas evoluíram sem separação geográfica. “Este exemplo parece ser um dos melhores casos até agora para reforçar a especiação simpátrica”, diz Schultz. Eles estimam que a divisão genética aconteceu cerca de 37.000 anos atrás, um curto período na história evolutiva. [smithsonianmag]

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