Bill Gates tem uma nova missão: curar o Alzheimer

Por , em 14.11.2017

O filantropo bilionário Bill Gates gosta de se envolver em várias causas. Sua mais nova missão é uma que tem sido impossível para os melhores cientistas até hoje, mas ele pensa que podemos mudar isso em breve: curar o Alzheimer.

“Eu acredito que há uma solução”, Gates disse à CNN. “Qualquer tipo de tratamento seria um grande avanço, mas o objetivo a longo prazo tem que ser a cura”.

Números

A doença de Alzheimer acomete 35,6 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo um levantamento feito pela Alzheimer’s Disease International (ADI).

Além disso, a incidência da doença na população idosa praticamente dobra a cada 20 anos. A previsão é que o número de pacientes chegue a 65,7 milhões em 2030 e a 115,4 milhões em 2050.

Não haver cura para uma condição que afeta tantas pessoas (bem como todos a seu redor) já é muito ruim, com um agravante de que sequer podemos tratá-la ou melhorar significativamente seus sintomas, por não sermos capazes ainda de detectá-la com antecedência suficiente.

Tal situação vai levar a uma perda na economia mundial equivalente a US$ 1 trilhão em 2018, podendo chegar a US$ 2 trilhões até 2030, conforme reportado pela revista Época. Esse valor é superior ao PIB de todos os países, com exceção das 15 maiores economias do mundo. Em outras palavras, se o custo global da demência fosse um país, seria a 16ª maior economia do mundo.

Histórico

Faz mais de um século que a doença foi identificada pelo médico alemão Dr. Alois Alzheimer. Em 1906, ele descreveu o caso de uma mulher com uma doença peculiar marcada por perda de memória significativa, paranoia e outras mudanças psicológicas.

Mas foi somente quando Alzheimer realizou uma autópsia em seu cérebro que o caso se tornou ainda mais impressionante: ele descobriu que seu cérebro tinha encolhido expressivamente, e havia depósitos incomuns dentro e ao redor das células nervosas.

80 anos depois, os cientistas finalmente identificaram o que esses depósitos eram: placas e emaranhados de proteínas chamadas amiloide e tau, hoje sinais claros da doença de Alzheimer.

Tanto amiloide quanto tau são proteínas que ocorrem naturalmente. Contudo, em um cérebro com Alzheimer, algo faz com que as amiloides se agrupem e bloqueiem as vias de mensagens das células nervosas. Eventualmente, as taus começam a enrolar-se dentro dos neurônios.

Dificuldade de diagnóstico

Tudo isso contribui para uma quebra do caminho neural que ajuda nossas células a se comunicarem, eventualmente levando a problemas mentais.

Essas mudanças podem começar anos antes de qualquer pessoa exibir sintomas de perda de memória ou mudanças de personalidade – mas não temos como saber disso.

A única maneira de diagnosticar definitivamente a doença de Alzheimer ainda é realizando uma autópsia no cérebro depois que a pessoa já morreu, o que é bastante inútil.

Motivação pessoal

Para Gates, a luta é pessoal. Ele está investindo US$ 50 milhões de seu próprio bolso no Dementia Discovery Fund, uma parceria de pesquisa privada-pública, focada em ideias novas sobre o que desencadeia a doença no cérebro.

“O fardo [do Alzheimer] é bastante inacreditável. Vários dos homens da minha família têm essa doença. Eu vi o quão difícil é. Essa não é minha única motivação, mas certamente me influenciou”, afirmou.

Gates acredita que o avanço da cura tem sido mais lento do que todos nós esperávamos. Desde 2002, por exemplo, houve mais de 400 estudos de tratamentos para o Alzheimer, mas nenhum se tornou clínico.

Existem alguns medicamentos no mercado que podem ajudar com sintomas cognitivos, como perda de memória ou confusão, mas nada que realmente alveje a doença de Alzheimer, revertendo seus danos.

Detecção e intervenção precoce: as chaves

Nos últimos cinco anos, a melhoria na tecnologia de imagem nos permitiu ver as proteínas tau e amiloide em pessoas vivas.

O Dr. James Hendrix, que lidera a equipe da Global Science Innovation da Associação de Alzheimer, acredita que esse desenvolvimento é o pilar para a cura. “Você precisa de boas ferramentas para encontrar a terapêutica certa”, disse. “Se pudermos pegar os primeiros sinais de Alzheimer, então estaremos tratando um cérebro mais saudável a fim de mantê-lo principalmente saudável, coisa muito mais difícil quando o dano já está feito”.

O Dr. Rudy Tanzi, da Universidade de Harvard, concorda que a tecnologia de imagem tem sido essencial na compreensão da patologia e de tratamentos potenciais. Tanzi descobriu vários genes associados à doença.

O neurologista acredita que precisamos pensar no Alzheimer como pensamos no câncer ou nas doenças cardíacas: “É assim que vamos superar a doença, com detecção e intervenção precoce”.

Entra Gates

A maioria das pesquisas sobre o Alzheimer até hoje focaram nas proteínas tau e amiloide, o que Gates gosta de chamar de “padrão”.

Com sua doação, o bilionário espera estimular a pesquisa em ideias inovadoras sobre a doença, como investigar o papel das células gliais que ativam o sistema imunológico do cérebro, ou como a vida útil da energia de uma célula pode contribuir para a condição.

Gates crê que será uma combinação de pensamentos convencionais e originais que levarão a possíveis tratamentos. “Idealmente, algumas dessas drogas convencionais iniciará o caminho para a redução do problema em dois ou três anos. Mas acho que essas novas abordagens acabarão fazendo parte do regime de drogas que as pessoas vão adotar”, opinou. [CNN, Época, ABRAZ]

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