Curiosidades surpreendentes sobre o cerume auricular

Por , em 20.08.2023

Cerume auricular. Com que frequência realmente paramos para refletir sobre a substância que escorre dos nossos canais auditivos? Para a maioria de nós, ela se acumula ao longo do tempo e a limpamos sem muita reflexão. Mas a substância – pegajosa para alguns, branca e em flocos para outros – é algo estranho e fascinante. Por exemplo, ela pode ser usada para medir os níveis de estresse ou aprender mais sobre as antigas civilizações japonesas. Existem também casos mais perturbadores envolvendo o cerume, como o homem na Flórida que teve uma barata faminta se enterrar nele ou os convidados de um banquete histórico que deliberadamente se faziam vomitar. Aqui estão dez fatos peculiares sobre essa secreção sensorial estranha.

1 – Níveis de estresse das baleias atingiram o pico durante a Segunda Guerra Mundial

Não fomos apenas nós, humanos, que sofremos com a brutalidade da Segunda Guerra Mundial. Descobriu-se que as baleias também sofreram. Esses mamíferos marinhos experimentaram grande alarme por volta do início dos anos 1940, segundo pesquisadores da Universidade Baylor, no Texas. Como os cientistas sabem disso? Ao analisar o cerume, é claro. A equipe examinou a substância pegajosa de baleias-fin, jubarte e azuis nos oceanos Pacífico e Atlântico, com registros que remontam a 1870. Em períodos estressantes da história, as baleias produzem o hormônio cortisol em maiores quantidades. O grupo da Baylor descobriu que os níveis de cortisol máximo correspondiam ao início da guerra global. Também houve grandes estresses nas décadas de 1920, 1930 e 1960, quando a caça às baleias estava no auge. Até meados da década de 1970, a caça às baleias havia praticamente acabado no Hemisfério Norte, razão pela qual os registros de cerume mostram muito pouco cortisol desse período. Mas nos últimos anos, os níveis começaram a aumentar novamente, o que os cientistas acreditam que pode ser devido ao aumento da temperatura do mar.

2 – Reflexo de tosse ao mexer nos ouvidos

Já tossiu ao limpar os ouvidos? Você não está sozinho. A resposta peculiar é estimulada pelo ramo auricular do nervo vago, também conhecido como nervo de Arnold ou de Alderman. Em banquetes históricos, aldermen costumavam se empanturrar até seus estômagos ficarem cheios e, em seguida, coçavam os ouvidos para se forçarem a vomitar e fazer espaço para mais comida. Estudos mostraram que o reflexo de tosse auricular de Arnold afeta cerca de 2% a 4% das pessoas. Essas pessoas às vezes podem desenvolver tosse crônica devido ao acúmulo de cerume ou ao estímulo de aparelhos auditivos ao nervo.

3 – Acúmulo pode causar audição dupla

Tenho certeza de que a maioria de nós, senão todos, já ouviu falar de ver duplo. Mas e ouvir em dobro? O fenômeno auditivo conhecido como diplacusis faz com que uma pessoa perceba o som de maneira diferente em cada ouvido, por exemplo, quando um som é emitido, um ouvido pode ouvir o tom real enquanto o outro percebe o tom como mais alto ou mais baixo. Para alguns, esse efeito desconcertante desaparece com o tempo; para outros, permanece permanentemente. A diplacusis ocorre quando ocorre perda auditiva em apenas um ouvido ou em ambos de forma desigual. Isso pode acontecer por várias razões, como uma infecção no ouvido ou exposição a um som alto. Mas a audição dupla às vezes é causada por obstruções no ouvido, como um seio bloqueado ou um grande acúmulo de cerume. Felizmente, esse segundo tipo é mais fácil de tratar e geralmente desaparece assim que a obstrução for removida. Portanto, lembre-se de manter seus ouvidos limpos; caso contrário, você também pode sentir o desequilíbrio auditivo da diplacusis.

4 – Povos japoneses antigos provavelmente tinham cerume molhado e laranja

Pouco se sabe sobre os povos pré-históricos do Japão, mas em 2019, evidências de DNA ajudaram a lançar luz sobre os antigos habitantes do país. Um dente descoberto em Funadomari trouxe muitas informações sobre o povo Jōmon que uma vez habitou essa área, incluindo a natureza inesperada de seu cerume. Cientistas descobriram um molar no crânio de uma mulher que se acredita ter vivido cerca de 3.500 a 3.800 anos atrás. A partir desse dente isolado, pesquisadores em Tóquio conseguiram extrair todas as informações genéticas dela. Isso lhes deu uma visão valiosa das características da mulher Jōmon. Ao contrário dos japoneses modernos, a evidência sugere que os Jōmons tinham pele escura, olhos castanhos e cabelos crespos. Isso os torna mais semelhantes aos nativos do leste da Rússia ou da Península Coreana. A mulher também tinha uma habilidade impressionante para digerir alimentos ricos em gordura e uma alta tolerância ao álcool. Mas a descoberta que mais surpreendeu os pesquisadores veio de seus ouvidos. A equipe de Tóquio concluiu que os povos Jōmon provavelmente tinham cerume molhado e de cor laranja. Esse tipo de cerume é geralmente encontrado em pessoas de ascendência africana ou europeia, enquanto o cerume asiático oriental é tipicamente branco e em flocos.

5 – Plantas de yucca causando lesões sérias nos ouvidos

Plantas de yucca, comumente encontradas como plantas domésticas, têm causado lesões graves nos ouvidos devido às suas folhas pontiagudas. Em um período de cinco anos, foram relatados vários casos em que as folhas da yucca perfuraram o canal auditivo, resultando em tímpanos perfurados, perda auditiva, vertigem e outras complicações.

6 – Infestação de baratas nos ouvidos

Baratas são conhecidas por se alimentarem de coisas estranhas, inclusive cerume. A secreção é rica em queratina, ácidos graxos e células mortas da pele, tornando-se um lanche escolhido para um pequeno inseto faminto. Portanto, tome cuidado, pois enquanto você dorme, uma barata pode acabar entrando no seu ouvido e procurando algo para mastigar. Isso é exatamente o que aconteceu com um homem em Tallahassee, Flórida. Em 2018, Blake Collins compartilhou um apartamento infestado de baratas com seu marido. O jovem de 25 anos disse aos repórteres que havia criaturas no colchão, nos lençóis e até rastejando pelos lustres. Mas pouco poderia ter preparado o Sr. Collins para uma das baratas se enterrar em seu ouvido. Ele descreveu a experiência como “como se alguém estivesse enfiando um cotonete bem dentro da minha cabeça e eu não podia fazer nada para impedir”. Felizmente, os médicos conseguiram matar a barata com um anestésico chamado lidocaína. Eles também removeram a cápsula de ovos que ela havia conseguido depositar dentro do ouvido do Sr. Collins. Como ele explicou, “ouvi a barata morrer na minha cabeça”. O azarado residente da Flórida disse aos repórteres que, enquanto o inseto morria, ele sentia que ele estava “indo muito, muito rápido, chutando e tentando cavar o caminho para fora”.

7 – Tratamento de zumbido no ouvido que estimula a língua

O zumbido no ouvido pode ser uma condição incrivelmente difícil de tratar. O zumbido afeta cerca de 10% a 15% da população, muitas vezes causado pela exposição excessiva a sons altos, lesões no ouvido e, é claro, obstruções de cerume. Em 2020, uma empresa na Irlanda apresentou uma nova forma de tratamento que eles afirmam que pode reverter o zumbido por até um ano. A Neuromod Devices desenvolveu um dispositivo chamado Lenire, que estimula suavemente o nervo trigêmeo na língua por meio de um aparelho enquanto a pessoa ouve música por meio de fones de ouvido Bluetooth. Esse tratamento de neuromodulação bimodal visa aliviar os sintomas do zumbido redirecionando o foco do cérebro da sensação de zumbido.

8 – Cerume como ferramenta de teste forense de drogas

O cerume pode ser a chave para uma nova forma de teste de drogas? Pesquisadores no Brasil acreditam que a secreção pode fornecer uma ferramenta mais precisa na análise forense. Analistas forenses normalmente testam drogas usando amostras de sangue e urina. Mas algumas substâncias têm meias-vidas curtas, o que significa que desaparecem do sangue rapidamente demais para serem detectadas na análise. Cientistas argumentam que, como certas drogas como álcool, cocaína e anfetaminas são frequentemente encontradas em concentrações mais altas no cerume, talvez seja hora de repensar a abordagem forense para testes de drogas. Para testar a teoria, os cientistas sul-americanos testaram 17 pessoas, todas usando drogas antiepilépticas e antipsicóticas. Muitas das drogas testadas apareceram em quantidades elevadas nas amostras de cerume. Os pesquisadores até detectaram fenitoína em um indivíduo que não havia usado a droga por dois meses.

9 – Dispositivo para medir níveis de hormônios

Já explicamos como os cientistas estão usando o cerume para monitorar os níveis de estresse das baleias, mas o mesmo é verdade para os seres humanos. Pesquisadores do University College London criaram um dispositivo que mede rapidamente quanto estresse alguém está sentindo, testando seu cerume para o cortisol. Os cientistas explicaram como o monitoramento dos níveis hormonais pode ajudar a fazer diagnósticos médicos. Por exemplo, a síndrome de Cushing é causada por uma superprodução de cortisol, enquanto a doença de Addison é causada pelo corpo produzindo muito pouco. O excesso de cortisol também pode ser um indicador de depressão. “A coleta de amostras de cortisol é notoriamente difícil, pois os níveis do hormônio podem flutuar, então uma amostra pode não refletir com precisão os níveis crônicos de cortisol de uma pessoa. Além disso, os métodos de coleta em si podem induzir estresse e influenciar os resultados”, disse o Dr. Andres Herane-Vives, que liderou o estudo. “Mas os níveis de cortisol no cerume parecem ser mais estáveis e, com nosso novo dispositivo, é fácil fazer uma amostra e testá-la rapidamente, de forma barata e eficaz”.

10 – Arte feita de cerume e cabelo

Amanda Cotton não é de forma alguma uma artista convencional. A designer britânica já fez obras usando larvas e placenta, mas uma peça em particular se destaca nesta lista: seu colar de cerume. Sim, a obra de arte é exatamente o que diz na descrição. Por oito meses, a Sra. Cotton coletou seu próprio cerume e o transformou em um pingente ligeiramente perturbador. Ela uniu as secreções compactas com uma corrente de cabelo trançado. A joia surreal foi revelada pela primeira vez em 2012 em uma exposição de formatura em Brighton. Segundo a Sra. Cotton, ela escolheu o cerume porque isso lhe lembra o âmbar. Ela diz sobre a peça: “De maneira esteticamente agradável, questiona os observadores sobre sua abordagem a esse material incrível”. [List Verse]

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