Essa é a causa da maioria dos casos de câncer
Talvez você se lembre de uma pesquisa feita em 2015 que afirmou que a maior parte dos cânceres aconteciam por puro azar. É isso mesmo: não adianta levar um estilo de vida saudável, pois você ainda terá grandes chances de ficar doente por conta de uma mutação aleatória.
Essa afirmação causou um furor gigantesco no meio científico. Diversos estudos lançaram refutações e insinuações de que os autores tinham sido pagos pela indústria química e de cigarros etc.
Agora, eles estão de volta. Os mesmos pesquisadores, da Universidade Johns Hopkins (EUA), continuam afirmando que “má sorte” pode ter um grande papel no desenvolvimento de câncer – mas isso NÃO SIGNIFICA que a doença está além do alcance da prevenção.
Novos números
Em um estudo publicado na última quinta-feira na revista Science, os pesquisadores reforçaram sua descoberta original, mas também corrigiram interpretações errôneas amplamente difundidas sobre seus resultados.
Desta vez, usando registros de saúde de 69 países, eles concluíram que 66% das mutações genéticas causadoras de câncer surgiram do “azar” de uma célula saudável cometer um erro aleatório ao copiar seu DNA durante uma divisão. Enquanto isso, 29% dos cânceres são devidos a fatores ambientais e 5% à hereditariedade (genes herdados pela família biológica).
Diferentes tipos de câncer diferem significativamente nessa estatística, no entanto: pelo menos 60% das mutações que provocam câncer de pele e pulmão são devidas ao meio ambiente, comparadas com 15% ou menos nos cânceres de próstata, osso, cérebro e mama.
O número 66% não significa que dois terços dos cânceres estão além da prevenção. Porém, pode proporcionar conforto aos milhões de pacientes que desenvolveram câncer, mas levaram estilos de vida saudáveis, e especialmente para os pais de crianças que têm câncer e podem culpar a tragédia nos genes que passaram para o seu filho ou no ambiente que forneceram.
O azar
O estudo original comparou como as taxas de câncer em diferentes tecidos se relacionam com a frequência com que células saudáveis nesses tecidos se dividem.
Os cientistas encontraram uma correlação muito próxima. Células do intestino grosso se dividem com frequência, e 5% das pessoas desenvolvem câncer nesse tecido. Já células do intestino delgado se dividem raramente, e apenas 0,2% das pessoas desenvolvem câncer lá.
Como as células em divisão nem sempre copiam seu DNA perfeitamente, cada divisão é uma oportunidade para uma mutação causadora de câncer. Quanto mais divisões, mais cânceres.
Em geral, eles descobriram que cerca de dois terços da diferença nas taxas de câncer de um tipo de tecido para outro é devido às diferenças nas taxas de divisão celular nesses tecidos. Essa conclusão valeu para todos os 17 tipos de câncer e todos os 69 países analisados.
Os fatores ambientes
Isso não significa que dois terços dos cânceres são causados por erros na cópia do DNA, no entanto. A causa de muitos cânceres pode ser fatores ambientais.
Várias mutações são necessárias para o câncer. Portanto, se duas das três mutações necessárias surgem de erros de cópia, mas a terceira vem de um carcinógeno ambiental, evita-lo definitivamente impede o câncer.
Há uma diferença entre como as mutações causadoras de câncer acontecem e se esse câncer é evitável. Por exemplo, 65% das mutações no câncer de pulmão surgem aleatoriamente, mas 89% desses cânceres são evitáveis se a pessoa não fuma.
Além disso, o efeito do ambiente sobre o câncer vai além das mutações, caso em que a prevenção pode ter um papel ainda maior. Se células malignas formam um tumor depende, entre outras coisas, dos níveis de inflamação, insulina e obesidade. Essas influências não aparecem em análises genômicas como as que os pesquisadores de Hopkins fizeram, mas são afetadas por fatores de estilo de vida e ambientais, de acordo com o bioestatístico do câncer Ross Prentice.
Ou seja, a exposição ambiental pode influenciar o risco de câncer de muitas formas, incluindo se as células do seu corpo reparam as mutações causadoras de câncer e se o seu sistema imunológico destrói as células tumorais antes que elas causem de fato a doença. [StatNews]