Estudo: THC tem mais benefícios para a saúde do que pensávamos
Já é de conhecimento geral que a maconha traz diversos benefícios para a saúde. A planta pode ajudar pacientes com dores crônicas e ansiedade ou até mesmo diminuir a progressão do câncer ou do Alzheimer. Porém, até agora os cientistas acreditavam que os benefícios para a saúde estavam concentrados no canabidiol, enquanto o THC, o outro composto ativo da planta, serviria exclusivamente para causar seus efeitos psicoativos. Um novo estudo, porém, desmente essa afirmação, mostrando que o THC também é capaz de trazer benefícios à saúde – até mesmo mais potentes do que o canabidiol.
Pesquisadores da Universidade do Novo México (UNM), nos EUA, mediram os efeitos em tempo real de produtos baseados em maconha usados por milhões de pessoas todos os dias. Ao contrário do que se pensava, o químico psicoativo tetrahidrocanabinol, ou “THC”, mostrou a correlação mais forte com o alívio terapêutico do que o canabidiol, que geralmente é muito mais “socialmente aceitável”.
Nos países em que seu uso é liberado total ou parcialmente, a cannabis está rapidamente ganhando popularidade como um analgésico de nível médio e um substituto promissor para opiáceos receitados e outras classes de medicamentos, que frequentemente carregam efeitos colaterais indesejáveis, interações medicamentosas perigosas e risco de morte. Mesmo nestes países, porém, ainda há barreiras que restringem os pesquisadores de conduzir estudos sobre a administração de cannabis
“Conseguimos preencher a ausência mais significativa na literatura médica anterior, entendendo a eficácia, dose, vias de administração ou efeitos colaterais dos produtos de cannabis comumente usados e comercialmente disponíveis nos Estados Unidos'”, diz Jacob Miguel Vigil, professor do Departamento de Psicologia da UNM e co-autor do estudo, em matéria publicada no site da instituição.
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Ao estudar produtos contendo tanto THC e CBD, os autores foram capazes de analisar a importância relativa destes canabinóides para alívio dos sintomas e prevalência de efeitos colaterais, dando prosseguimento a pesquisas anteriores e examinando qualquer produto químico na ausência do outro. Um dos padrões mais marcantes nos resultados foi que o THC era geralmente associado a uma experiência mais intensa pelo usuário, medida pelo alívio dos sintomas e pela prevalência de efeitos colaterais positivos e negativos.
“Apesar da sabedoria convencional, tanto na imprensa popular quanto em grande parte da comunidade científica de que apenas o CBD tem benefícios médicos, enquanto o THC deixa apenas chapado, nossos resultados sugerem que o THC pode ser mais importante do que o CBD na geração de benefícios terapêuticos. Em nosso estudo, o TCC parece ter pouco efeito, enquanto o THC gera melhorias mensuráveis no alívio dos sintomas. Essas descobertas justificam o imediato agendamento de todos os tipos de cannabis, além do cânhamo, para que a cannabis com THC possa ser mais amplamente acessível para uso farmacêutico pelo público em geral”, sugere Vigil.
“Compreender mais amplamente a relação entre as características do produto e os resultados do paciente é particularmente importante, dada a falta de orientação médica recebida pelos pacientes com cannabis medicinal. A maioria recebe apenas um encaminhamento para tratamento de cannabis, com todos os outros conselhos de tratamento provenientes de experiências recreativas anteriores, internet, interações sociais e / ou, muitas vezes, pessoal minimamente treinado trabalhando em dispensários. Isso é muito diferente de como os pacientes recebem tratamento usando produtos farmacêuticos convencionais que vêm com instruções de dosagem claras e um produto padronizado e uniforme”, acrescenta no texto Sarah See Stith, professora do Departamento de Economia e também co-autora do estudo.
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Os autores advertem para os riscos de dependência e deficiências de curto prazo no funcionamento cognitivo e comportamental que o uso de cannabis pode causar, assim como seu efeito pode não ser eficaz para todos. Apesar disso, eles constatam um crescimento no uso medicinal da planta e seus derivados. “Tenho visto muitas pessoas usá-la como um medicamento primário para um espectro completo de condições de saúde como parte de seu desejo mais amplo de obter mais controle sobre seu tratamento”, diz Vigil. Segundo o texto da UNM, essa é “uma perspectiva que parece estar ganhando impulso conforme a maconha parece estar ressurgindo como um dos medicamentos mais utilizados nos EUA”.
Aplicativo medicinal
Os resultados do estudo, publicado na revista Scientific Reports, foram baseados no maior banco de dados de medições em tempo real dos efeitos da cannabis nos Estados Unidos, coletados com o ReleafApp, aplicativo desenvolvido por alguns dos co-autores da pesquisa.
Desde o seu lançamento, em 2016, o ReleafApp é o único aplicativo publicamente disponível nos EUA que fornece aos pacientes informações sobre o tipo de produto (por exemplo, flor ou concentrado), método de combustão, subespécies de cannabis (indica, sativa e híbrida ), e como os principais conteúdos de canabinóides (THC e CBD) afetam seus níveis de gravidade dos sintomas, ao mesmo tempo em que recebe um feedback inestimável do usuário sobre seu estado de saúde, escolhas de medicação e os resultados clínicos dessas escolhas, medidas pelo alívio dos sintomas e efeitos colaterais.
O estudo teve como objetivo abordar as questões práticas de saber como as características fundamentais dos produtos de cannabis atualmente disponíveis e frequentemente usados, características que muitas vezes influenciam as escolhas dos consumidores, afetam os níveis de intensidade dos sintomas de saúde. O paciente médio, através das cerca de 20.000 sessões de usuários medidas e 27 categorias de sintomas medidos variando de depressão a atividade convulsiva, mostrou uma melhora imediata dos sintomas de 3,5 pontos em uma escala de 0-10. A flor seca foi o produto mais comumente utilizado e geralmente associada a uma maior melhora dos sintomas do que outros tipos de produtos.
Segundo os envolvidos na pesquisa, estudos como este são necessários para melhorar a qualidade dos produtos medicinais baseados na cannabis. “Acreditamos que este estudo é muito oportuno com a recente aprovação da Farm Bill (legislação americana que regula produtos agrícolas) e o número de produtos com CBD que estão inundando o mercado que são, francamente, de má qualidade. Este estudo ajuda a validar a importância médica do THC junto com o CBD, e a necessidade de mais pesquisas conclusivas a serem feitas, com as quais esperamos contribuir”, defende Franco Brockelman, CEO do Releaf App. [Futurism, UNM]