Integração da Metadona no Tratamento do Câncer: Uma Análise Crítica

Por , em 3.12.2023

Um estudo realizado pela Universidade de Pittsburgh e publicado no New England Journal of Medicine revela que um diagnóstico de câncer pode afetar significativamente o tratamento de pessoas que estão recebendo metadona para o transtorno de uso de opioides.

Este trabalho se debruça sobre um caso específico, onde um paciente que utilizava metadona a longo prazo foi diagnosticado posteriormente com câncer na região da cabeça e do pescoço. Os autores do estudo destacam as complicações decorrentes da separação do tratamento com metadona dos serviços médicos regulares, salientando a necessidade de integrar o tratamento do transtorno de uso de opioides com os cuidados de saúde gerais, a fim de melhorar o acesso dos pacientes.

Antes de receber o diagnóstico de câncer, o paciente em questão tinha acesso a um fornecimento de metadona para 28 dias, que ele administrava por conta própria. Conforme as regulamentações da clínica e as normas federais, ele retornava à clínica a cada 28 dias para acompanhamento e obtenção de novas doses.

No entanto, o oncologista do paciente, não sabendo do tratamento com metadona, prescreveu oxycodona, outro opioide, para tratar a dor relacionada ao câncer. O uso de opioide foi detectado em um exame de urina de rotina, resultando na revogação do direito do paciente de levar doses de metadona para casa, colocando em risco a sua recuperação. Com isso, além das sessões de quimioterapia e das consultas oncológicas, o paciente passou a necessitar de visitas diárias à clínica de metadona, o que se tornou um desafio logístico quase insuperável.

Jessica Merlin, M.D., Ph.D., autora sênior do estudo e diretora do Centro de Pesquisa Clínica CHAMPP da Universidade de Pittsburgh, comentou: “Este paciente é apenas um exemplo entre muitos em situações similares”. Ela ressalta que, embora existam métodos eficazes de tratamento para transtorno de uso de opioides, o sistema atual dificulta a prestação do cuidado necessário.

A metadona é um dos tratamentos mais eficazes para o transtorno de uso de opioides, mas seu controle é rigoroso. Normalmente, os pacientes precisam visitar uma clínica diariamente para receber suas doses. O diagnóstico de câncer complica ainda mais essa dinâmica.

Katie F. Jones, Ph.D., principal autora do estudo e ex-bolsista de pós-doutorado no CHAMPP, atualmente trabalhando no Sistema de Saúde VA Boston, destaca a variabilidade nas práticas clínicas quanto à prescrição de metadona para pacientes com câncer que também sofrem de transtorno de uso de opioides.

Pesquisas anteriores de Jones e Merlin, publicadas na JAMA Oncology, revelaram que os profissionais da saúde enfrentam preocupações legais e de segurança ao prescrever metadona para pessoas com câncer e transtorno de uso de opioides.

O estudo de caso também ressalta os impactos potenciais da Lei Modernizadora do Tratamento de Opioides (MOTA, na sigla em inglês). Essa legislação propõe expandir quem pode prescrever metadona e onde ela pode ser distribuída, diminuindo a necessidade de visitas diárias à clínica de metadona.

Atualmente, a metadona está disponível em aproximadamente 49% das áreas de censo dos EUA. A MOTA visa expandir o acesso para cerca de 63% dessas áreas, conforme indicado em um artigo recente da Health Affairs Scholar pelo coautor Paul Joudrey, M.D., professor assistente na Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh.

Merlin aponta para a crise de opioides nos Estados Unidos, que já dura mais de duas décadas, e destaca que muitos usuários de longo prazo de metadona agora estão enfrentando problemas de saúde graves. Essa situação ressalta a urgência de melhorar o acesso e integrar mais efetivamente o tratamento do transtorno de uso de opioides ao sistema de saúde mais amplo. [Medical Express]

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