Estudo: lulas podem editar o próprio RNA de uma maneira sem precedentes

Por , em 26.03.2020

Pesquisadores da Universidade de Chicago (EUA), da Universidade de Tel Aviv (Israel) e da Universidade do Colorado (EUA) descobriram que lulas possuem uma habilidade de edição genética incrível: podem ajustar seu próprio RNA muito tempo depois de ele ter deixado o núcleo, algo inédito no mundo animal.

Inédito

Em seres humanos, os genes permanecem inalterados durante a maior parte da vida, até serem recombinados e passados para a próxima geração. O mesmo ocorre com nosso RNA mensageiro (mRNA).

São algumas moléculas que leem nosso DNA, criam pequenas mensagens de RNA e as enviam para fora do núcleo. A partir desse ponto, a informação genética carregada não pode ser editada.

Pelo menos, isso não acontece em nenhuma espécie conhecida – a não ser nos neurônios de lulas.

“Estamos mostrando que as lulas podem modificar os RNAs na periferia da célula, o que é realmente uma nova maneira de viver a vida”, disse um dos autores do estudo, o geneticista Joshua Rosenthal, ao Wired.

Axônios

Os pesquisadores analisaram os neurônios de espécimes adultos da lula Doryteuthis pealeii, analisando a expressão da proteína e o transcriptoma desses animais, que é semelhante a um genoma, mas para o mRNA.

Eles descobriram que, nessas células nervosas, o mRNA estava sendo editado fora do núcleo, em uma parte conhecida como axônio. Essa ação nunca foi observada em outro animal.

Tal edição permite que as lulas “ajustem” melhor as proteínas que produzem. E por que elas fazem isso?

Possíveis benefícios

Os cientistas ainda não podem dizer exatamente por que as lulas fazem isso, mas possuem algumas ideias.

Tanto esses animais quanto polvos e chocos usam edição de mRNA para diversificar as proteínas produzidas no sistema nervoso.

A incrível capacidade de edição de RNA da lula pode ser uma das razões pelas quais essa criatura é muito mais inteligente do que outros invertebrados, por exemplo.

Aplicações

No momento, este é apenas um estudo genético muito interessante sobre lulas. No entanto, os pesquisadores apontam que as descobertas têm diversos potenciais de aplicação.

Por exemplo, eventualmente, este tipo de sistema poderia ajudar a tratar distúrbios neurológicos que incluem disfunções axonais.

Além disso, poderia ter implicações em estudos que utilizam tecnologias como a CRISPR, uma ferramenta de edição de DNA dentro de células. O RNA é significativamente menos permanente que o DNA e essa técnica de ajuste pode ser uma melhor opção para pesquisas, uma vez que editar o RNA é, em tese, muito menos perigoso.

Um artigo sobre a nova pesquisa foi publicado na revista científica Nucleic Acids Research. [ScienceAlert]

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