Militares americanos possuem um sistema secreto de “cérebro artificial” chamado Senciente
De acordo com informações publicadas pelo jornal The Verge, o Escritório Nacional de Reconhecimento, uma agência de inteligência dos EUA, tem um programa chamado “Sentient” (em português, “Senciente” ou “aquele que recebe impressões”) que seria uma espécie de “cérebro artificial” ou sistema de inteligência capaz de coordenar posições de satélite e ser usado para gerenciar operações militares.
O “Senciente” era um segredo do governo americano até pouco tempo atrás, quando alguns documentos sobre suas características e metas foram divulgados.
Aparentemente, o sistema pretende ser uma ferramenta de análise que pode interpretar dados de todos os tipos dando sentido a não apenas imagens de satélite, mas tudo que tiver um “carimbo” de tempo e data, revelando o presente e antecipando o futuro.
Explicamos: usando “dicas” de alguma fonte, o programa pode direcionar um satélite para um ponto em particular, ou usar essa informação em algum de seus instrumentos. Em uma versão automatizada ideal, ao recolher todos esses dados, sintetizá-los em informações sensíveis e reincorporar essas informações a sua coleção, o programa vai se tornando cada vez mais inteligente e capaz de chegar a melhores conclusões. Com o tempo, terá criado um arsenal poderoso de conhecimento sobre o passado capaz de compreender o presente e prever o futuro.
Supersecreto
O programa está sendo desenvolvido desde 2010, mas as agências de inteligência americanas não querem comentar nada sobre seu atual estado. Os detalhes são propositalmente escassos.
“A prática padrão do Escritório Nacional de Reconhecimento e da comunidade de inteligência é NÃO divulgar fontes e métodos sensíveis, pois tal divulgação introduz um alto risco de nações adversárias criarem respostas”, explicou Karen Furgerson, vice-diretora de relações públicas do Escritório, por e-mail ao The Verge. “Isso prejudica nossa nação e seus aliados; diminui a vantagem da informação nos EUA e a segurança nacional. Por essas razões, os detalhes sobre o Senciente permanecem confidenciais e o que podemos dizer sobre ele é limitado”.
O que sabemos
Tal cérebro artificial “ingere grandes volumes de dados e os processa”, de acordo com Furgerson.
“O Senciente cataloga padrões normais, detecta anomalias e ajuda a prever e modelar os possíveis cursos de ação dos adversários. Senciente é um sistema que pensa”, complementa.
Obviamente, a vice-diretora não esclareceu que padrões e anomalias seriam esses, mas se o programa está aí para analisar o presente e prever o futuro, pode ser que ele tome decisões autônomas como lançar ou não um míssil dependendo das informações que coleta e analisa.
Os documentos que foram divulgados até agora também indicam que o Senciente pode tornar os satélites mais eficazes e permitir que os humanos se concentrem em análises mais profundas ao invés de ficar apenas vasculhando dados.
O sistema que tudo vê
Dos mais de 150 satélites americanos militares conhecidos, o Escritório Nacional de Reconhecimento opera cerca de 50.
Isso sem contar os contratos que possui com empresas de satélite privadas, obtendo dados de praticamente toda a Terra. Um desses contratos é com a BlackSky, que coleta informações de 25 satélites incluindo mais de 40.000 fontes de notícias, 100 milhões de dispositivos móveis, 70.000 navios e aviões, 8 redes sociais, 5.000 sensores ambientais e milhares de outros aparelhos com internet.
É aqui que entra o Senciente: todas essos dados e imagens que chegam ao Escritório, além de outras informações geoespaciais (qualquer coisa que tenha um carimbo de tempo e localização), representam uma piscina gigantesca de informações que simples seres humanos não poderiam entender e interpretar com rapidez e precisão.
“O Sencient visa ajudar os analistas a ‘conectar os pontos’ em um grande volume de dados”, disse Furgerson, sem dizer quais pontos seriam esses – podem ser qualquer coisa, de interceptações eletrônicas a recursos humanos a dados financeiros e climáticos a buscas no Google e muito mais.
Perigos
Obviamente, todo o segredo em torno do programa faz com que seus possíveis lados negativos não sejam debatidos – embora as pessoas já estejam fazendo perguntas.
Por exemplo, será que ele pode chegar a conclusões dúbias, ou ser propenso a vieses? Isso é bem possível. Softwares de reconhecimento facial atuais, por exemplo, já se mostraram propensos a vieses preconceituosos contra minores étnicas.
Outra questão importante é a da liberdade civil. Os EUA tecnicamente não podem espionar seus próprios cidadãos, mas as empresas privadas podem e qualquer um pode comprar seus dados. O “olho que tudo vê” é ético, neste sentido?
Em último caso, tanto sigilo pode até significar que o programa seja utilizado sem que o público jamais perceba que está em ação. Por exemplo, poderia direcionar conflitos militares em breve sem que o resto de nós esteja sequer consciente disso. [Futurism, TheVerge]