Neurocientistas descobrem “botão de reset” para o cérebro: cogumelos mágicos

Por , em 16.04.2020

Uma equipe internacional liderada por pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) utilizou modelos cerebrais para entender como substâncias psicodélicas em certos cogumelos podem “reformatar” ou “reequilibrar” nossos neurônios.  

O uso de cogumelos mágicos tem sido sugerido para tratar condições como depressão e vício, e o objetivo dos pesquisadores era entender melhor como seus produtos químicos agem no cérebro.

Psilocibina

Os cientistas construíram um modelo do cérebro humano sob a influência da psilocibina, uma substância popular presente em cogumelos mágicos. O modelo mostrou que, nesta condição, o órgão cria um “feedback” de atividade neural e liberação de neurotransmissores, mensageiros químicos que os neurônios utilizam para se comunicar.

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Essa dinâmica pode permitir que o cérebro tire proveito de estados de outra forma inacessíveis, incluindo a “desestabilização” de redes cerebrais individuais e a criação de uma rede mais “global” em todo o cérebro.

Enquanto isso pode explicar por que os cogumelos mágicos causam experiências psicodélicas, também poderia ressaltar o potencial dessas substâncias para tratar distúrbios como a depressão.

“Usar esse modelo será crucial para compreendermos completamente como a psilocibina pode reequilibrar distúrbios neuropsiquiátricos como depressão resistente a tratamentos e vício, disse o principal autor do estudo, Morten Kringlebach, da Universidade de Oxford (Reino Unido), ao portal Inverse.

Novas redes

O modelo foi montado a partir de imagens dos cérebros de nove participantes que tomaram injeções de psilocibina ou de placebo. Em seguida, os cientistas criaram um “mapa” com todos os neurônios e atividade de neurotransmissores observados.

Normalmente, neurônios são ativados e neurotransmissores percorrem caminhos “conhecidos” pelo cérebro, como carros em uma rodovia. Sob a influência de cogumelos mágicos, no entanto, essas redes são “desestabilizadas” – como se novos caminhos surgissem e os carros passassem a circular mais livremente, fora das rodovias.

Os cientistas já sabiam que a psilocibina (como outros psicodélicos) imita a serotonina, um neurotransmissor relacionado a sentimentos de felicidade e amor. O modelo indicou, porém, que a substância vai além, combinando os efeitos de atividade neuronal com a liberação de neurotransmissores como a serotonina.

Quando os pesquisadores ajustaram seu modelo para fazer os dois processos trabalharem de forma independente – a ativação de neurônios e a liberação de neurotransmissores -, a “desestabilização” da rede cerebral não ocorreu. O padrão também se quebrou quando os cientistas trocaram o receptor de serotonina utilizado pela psilocibina por outros tipos.

Esses achados, em conjunto, sugerem que o receptor certo e determinados padrões de atividade neuronal são ambos necessários para a psilocibina funcionar.

Acionando o hardware para rodar o software certo

Os pesquisadores esperam que seu modelo nos ajude a visualizar melhor alguns mistérios do cérebro, bem como pensar formas de usar as substâncias psicodélicas como terapia.

Sabemos que o cérebro tem um arsenal anatômico – uma espécie de “hardware” – fixo. Ainda assim, ele pode rodar vários “softwares”, dando origem a muitos estados radicalmente diferentes, da vigília regular (consciência) ao sono profundo (sonhos) a estados psicodélicos alterados.

Para Kringlebach, os cogumelos mágicos demonstram que o cérebro pode aprender a usar seu hardware fixo de maneiras muito diferentes, se os ingredientes certos são envolvidos. O truque é entender que ferramentas o órgão precisa para rodar diferentes tipos de software.

“Este novo modelo nos fornecerá as ferramentas causais muito necessárias para potencialmente projetar novas intervenções para aliviar o sofrimento humano em distúrbios neuropsiquiátricos”, concluiu Kringlebach.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. [Inverse]

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