O particular e o geral – Dedução x Indução

UM POUCO MAIS SOBRE O MÉTODO CIENTÍFICO
Como prometido no artigo “Qual é o pior inimigo da Verdade?” estou trazendo à pauta o problema da indução no pensamento científico, como o proposto por Hume e resolvido, pelo menos em parte, por Karl Popper.
Evidentemente, iniciamos esse espinhoso caminho pela conceituação chave dos dois métodos célebres: método dedutivo e o método indutivo.
MÉTODO DEDUTIVO – DEDUÇÃO
Podemos conceituar o método dedutivo como sendo uma modalidade de raciocínio lógico que, como seu próprio nome diz, faz uso da dedução para obter uma conclusão a respeito de uma ou mais premissas.
Partindo de princípios reconhecidos como verdadeiros o pesquisador estabelece relações lógicas entre tais premissas com o objetivo de chegar a alguma conclusão.
Por exemplo, para uma questão ilustrativa do tipo:
Qual é a nacionalidade do professor Mustafá?
Buscamos os seguintes dados confirmados (considerados premissas verdadeiras):
a) o professor Mustafá é natural de Curitiba
b) Curitiba é uma cidade do Paraná
c) Paraná é um estado brasileiro
Dedução: Se Mustafá nasceu em Curitiba, que é uma cidade do Paraná, que é um estado brasileiro — logo Mustafá nasceu no Brasil.
Conclusão: a nacionalidade do professor Mustafá é brasileira.
Como vimos, um raciocínio dedutivo se caracteriza por apresentar conclusões que devem ser verdadeiras caso todas as premissas sejam verdadeiras e, evidentemente, se o raciocínio respeitar uma forma lógica válida.
Assim podemos afirmar que a dedução é uma técnica argumentativa na qual a forma lógica válida garante a verdade da conclusão sempre que as premissas forem verdadeiras.
Outro exemplo partindo dos seguintes dados (premissas verdadeiras):
a) todo o ser humano é mortal
b) Mustafá é um ser humano (embora alguns de seus alunos duvidem)
Logo Mustafá é mortal.
Nesse segundo exemplo, observamos um caminho dedutivo indo do geral (todo o ser humano é mortal) e chegando ao particular, ao individual, (Mustafá é mortal), por essa razão é muito comum muitos divulgadores do método científico caracterizarem que o método dedutivo parte do geral para chegar ao particular, e isso não é de todo correto.
Como o ilustrado, no primeiro exemplo, existem deduções cujas premissas maiores são iniciadas por condicionais e não partem necessariamente de premissas gerais.
Algo que poderia ser encadeado assim:
Premissa 1: Se Mustafá nasceu em Curitiba, nasceu no Paraná
Premissa 2: Se Mustafá nasceu no Paraná, nasceu no Brasil
Conclusão: Logo, Mustafá nasceu no Brasil.
Como pode ser observado nem sempre a dedução parte do geral para chegar ao particular.
MÉTODO INDUTIVO – INDUÇÃO
A Indução em filosofia é considerada como um método de raciocínio com o qual se extraem pela observação de fatos conhecidos alguma conclusão geral que não se acha rigorosamente relacionada com eles.
Francis Bacon preconiza em seus esboços do método científico que o cientista deve observar e descrever fatos empíricos, organizar e transpor em uma linguagem matemática a fim de encontrar nesses dados os “princípios” que regem seu comportamento, buscando sempre uma generalização.
Em outras palavras fundamenta-se na ideia de Aristóteles de que se pode afirmar acerca de todos aquilo que foi possível observar em alguns.
Em resumo a indução faz a generalização, isto é, cria proposições universais a partir de proposições particulares.
É, portanto, uma forma de raciocínio pouco credível e muito mais susceptível de refutação.
Exemplo:
A galinha tem bico é uma ave. O faisão tem bico e é uma ave. O avestruz tem bico e é uma ave.
Portanto todos os seres com bico são aves.
Como vimos nesse exemplo foi feita uma enumeração de vários casos particulares para chegar a uma síntese geral ou proposição geral.
Quanto maior o número de experiências (ou observações de aves e seus respectivos bicos) menor será a incerteza de tal conclusão e que todos os seres com bicos são aves.
Quando o número de experiências e observações for muito grande torna-se possível formular leis ou princípios, entretanto a indução nunca deixa de ser um raciocínio provável por isso devemos ter muito cuidado, pois esse é um campo minado.
É esse tipo de pensamento emprestado da ciência — que ao ser tratado sem o mesmo rigor —sustenta muitas afirmações errôneas da pseudociência.
Sem contar que a generalização invariavelmente é um dos mais poderosos motores de disseminação dessa praga moral que afeta a humanidade há milênios — o preconceito.
Mas, esse é um assunto para os próximos artigos. Não perca!
4 comentários
Muito bom !
Legal o artigo. Bem o problema da indução tal como formulado por David Hume nas Dúvidas Céticas sobre as Operações do Entendimento, é ainda um problema sem solução. Neste artigo, ele recusa à indução o estatuto de método científico. Talvez seja este um tema interessante pra ser abordado, Um abraço
Ótima matéria, gostei!
Ótimo texto, eu acho uma vergonha pessoas que nem conhecem gays já acharem que todos são péssimas pessoas, mesmo sem fazer indução ou dedução sequer