O particular e o geral – Dedução x Indução

Por , em 8.06.2014

UM POUCO MAIS SOBRE O MÉTODO CIENTÍFICO

Como prometido no artigo “Qual é o pior inimigo da Verdade?” estou trazendo à pauta o problema da indução no pensamento científico, como o proposto por Hume e resolvido, pelo menos em parte, por Karl Popper.

Evidentemente, iniciamos esse espinhoso caminho pela conceituação chave dos dois métodos célebres: método dedutivo e o método indutivo.

MÉTODO DEDUTIVO – DEDUÇÃO

Podemos conceituar o método dedutivo como sendo uma modalidade de raciocínio lógico que, como seu próprio nome diz, faz uso da dedução para obter uma conclusão a respeito de uma ou mais premissas.

Partindo de princípios reconhecidos como verdadeiros o pesquisador estabelece relações lógicas entre tais premissas com o objetivo de chegar a alguma conclusão.

Por exemplo, para uma questão ilustrativa do tipo:

Qual é a nacionalidade do professor Mustafá?

Buscamos os seguintes dados confirmados (considerados premissas verdadeiras):

a) o professor Mustafá é natural de Curitiba

b) Curitiba é uma cidade do Paraná

c) Paraná é um estado brasileiro

Dedução: Se Mustafá nasceu em Curitiba, que é uma cidade do Paraná, que é um estado brasileiro — logo Mustafá nasceu no Brasil.

Conclusão: a nacionalidade do professor Mustafá é brasileira.

Como vimos, um raciocínio dedutivo se caracteriza por apresentar conclusões que devem ser verdadeiras caso todas as premissas sejam verdadeiras e, evidentemente, se o raciocínio respeitar uma forma lógica válida.

Assim podemos afirmar que a dedução é uma técnica argumentativa na qual a forma lógica válida garante a verdade da conclusão sempre que as premissas forem verdadeiras.

Outro exemplo partindo dos seguintes dados (premissas verdadeiras):

a) todo o ser humano é mortal

b) Mustafá é um ser humano (embora alguns de seus alunos duvidem)

Logo Mustafá é mortal.

Nesse segundo exemplo, observamos um caminho dedutivo indo do geral (todo o ser humano é mortal) e chegando ao particular, ao individual, (Mustafá é mortal), por essa razão é muito comum muitos divulgadores do método científico caracterizarem que o método dedutivo parte do geral para chegar ao particular, e isso não é de todo correto.

Como o ilustrado, no primeiro exemplo, existem deduções cujas premissas maiores são iniciadas por condicionais e não partem necessariamente de premissas gerais.

Algo que poderia ser encadeado assim:

Premissa 1: Se Mustafá nasceu em Curitiba, nasceu no Paraná

Premissa 2: Se Mustafá nasceu no Paraná, nasceu no Brasil

Conclusão: Logo, Mustafá nasceu no Brasil.

Como pode ser observado nem sempre a dedução parte do geral para chegar ao particular.

MÉTODO INDUTIVO – INDUÇÃO

A Indução em filosofia é considerada como um método de raciocínio com o qual se extraem pela observação de fatos conhecidos alguma conclusão geral que não se acha rigorosamente relacionada com eles.

Francis Bacon preconiza em seus esboços do método científico que o cientista deve observar e descrever fatos empíricos, organizar e transpor em uma linguagem matemática a fim de encontrar nesses dados os “princípios” que regem seu comportamento, buscando sempre uma generalização.

Em outras palavras fundamenta-se na ideia de Aristóteles de que se pode afirmar acerca de todos aquilo que foi possível observar em alguns.

Em resumo a indução faz a generalização, isto é, cria proposições universais a partir de proposições particulares.

É, portanto, uma forma de raciocínio pouco credível e muito mais susceptível de refutação.

Exemplo:

A galinha tem bico é uma ave. O faisão tem bico e é uma ave. O avestruz tem bico e é uma ave.

Portanto todos os seres com bico são aves.

Como vimos nesse exemplo foi feita uma enumeração de vários casos particulares para chegar a uma síntese geral ou proposição geral.

Quanto maior o número de experiências (ou observações de aves e seus respectivos bicos) menor será a incerteza de tal conclusão e que todos os seres com bicos são aves.

Quando o número de experiências e observações for muito grande torna-se possível formular leis ou princípios, entretanto a indução nunca deixa de ser um raciocínio provável por isso devemos ter muito cuidado, pois esse é um campo minado.

É esse tipo de pensamento emprestado da ciência — que ao ser tratado sem o mesmo rigor —sustenta muitas afirmações errôneas da pseudociência.

Sem contar que a generalização invariavelmente é um dos mais poderosos motores de disseminação dessa praga moral que afeta a humanidade há milênios — o preconceito.

Mas, esse é um assunto para os próximos artigos. Não perca!

4 comentários

  • Veronica Santos:

    Muito bom !

  • Fred Max:

    Legal o artigo. Bem o problema da indução tal como formulado por David Hume nas Dúvidas Céticas sobre as Operações do Entendimento, é ainda um problema sem solução. Neste artigo, ele recusa à indução o estatuto de método científico. Talvez seja este um tema interessante pra ser abordado, Um abraço

  • Pedro Arigoni:

    Ótima matéria, gostei!

  • Alexandre Lima:

    Ótimo texto, eu acho uma vergonha pessoas que nem conhecem gays já acharem que todos são péssimas pessoas, mesmo sem fazer indução ou dedução sequer

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