Plantas que gritam: O intrigante fenômeno dos sons emitidos sob estresse

Por , em 1.09.2023

A intrigante ideia de Roald Dahl parece ter alguma validade: quando as plantas sofrem danos, elas emitem sons.

No entanto, esses sons são distintos dos gritos humanos e se assemelham mais a estalos ou cliques em frequências ultrassônicas que estão além do alcance da percepção auditiva humana. Esse fenômeno se intensifica quando a planta passa por estresse.

Um estudo recente propõe que essa poderia ser uma das formas pelas quais as plantas comunicam sua angústia ao seu entorno. Lilach Hadany, uma bióloga evolutiva da Universidade de Tel Aviv em Israel, sugere que, mesmo em ambientes silenciosos, sons inaudíveis carregam informações que certos animais podem perceber. Dado que diversos organismos utilizam o som para comunicação, é razoável supor que as plantas não ignorariam tal possibilidade.

Ao contrário da percepção comum de vegetação passiva, plantas estressadas exibem transformações significativas, incluindo a liberação de aromas potentes, alterações de cor e forma, e possivelmente até a emissão de sons.

Essas mudanças têm um propósito funcional. Elas servem como sinais para plantas próximas, desencadeando nelas a intensificação de suas defesas ou atraindo animais capazes de lidar com ameaças relacionadas a pragas.

No entanto, a exploração de se as plantas emitem diversos tipos de sinais, como sons, não foi exaustivamente investigada. Alguns anos atrás, Hadany e seus colegas identificaram que as plantas podem perceber sons. Posteriormente, surgiu a pergunta: elas também podem gerar sons?

Para responder a essa pergunta, os pesquisadores conduziram gravações em plantas de tomate e tabaco em diferentes condições. Inicialmente, eles gravaram os sons de plantas não estressadas como base. Em seguida, capturaram os sons de plantas desidratadas e daquelas com caules cortados. Essas gravações foram realizadas tanto em câmaras acústicas à prova de som quanto em ambientes normais de estufa.

Eles então treinaram um algoritmo de aprendizado de máquina para diferenciar entre os sons produzidos por plantas em condições distintas. Os próprios sons eram semelhantes a estalos ou cliques, muito agudos para os ouvidos humanos discernirem, detectáveis a mais de um metro de distância. Plantas não estressadas permaneceram relativamente silenciosas, enquanto plantas estressadas emitiram cerca de 40 cliques por hora, variando de acordo com a espécie. Plantas desidratadas exibiram um padrão crescente de cliques, atingindo o pico antes dos sinais visíveis de desidratação e diminuindo à medida que a planta murchava.

O algoritmo mostrou proficiência em distinguir esses sons e até mesmo em identificar as espécies de plantas que os emitiam. Esse fenômeno se estendeu além de tomates e tabaco, englobando outras plantas como trigo, milho, uvas, cactos e erva-moura.

No entanto, diversos mistérios permanecem. O mecanismo exato por trás da produção de som ainda não está claro. Pesquisas anteriores associaram plantas desidratadas a um processo semelhante à cavitação, onde bolhas de ar nos caules se expandem e se colapsam, emitindo um som distinto, semelhante ao estalo dos nós dos dedos humanos. O potencial de outras condições de estresse, como ataques de patógenos, exposição a raios UV e extremos de temperatura, induzirem a emissão de som também requer investigações adicionais.

Ainda não está claro se a produção de som é uma característica adaptativa nas plantas ou um subproduto. A pesquisa indica que algoritmos podem discernir e diferenciar entre os sons das plantas, levantando a possibilidade de outros organismos possuírem uma habilidade similar. Esses organismos poderiam potencialmente responder aos sons das plantas em situação de angústia de diversas maneiras, auxiliando em decisões como depositar ovos ou se alimentar.

Para os seres humanos, as implicações são evidentes: a capacidade de detectar os sinais de angústia de plantas sedentas poderia facilitar a rega oportuna. No entanto, se outras plantas conseguem perceber e reagir de maneira semelhante, permanece um enigma. Pesquisas anteriores sugerem que plantas podem aumentar sua tolerância à seca em resposta ao som, o que reforça a probabilidade desse cenário. Os pesquisadores agora têm como objetivo explorar as respostas de animais e plantas a esses sons e estudar sua interpretação em ambientes naturais. [Science Alert]

Deixe seu comentário!