Pré-escola nos EUA tem poema sobre como agir em tiroteios
Com média de um tiroteio por semana em escolas americanas desde o início de 2018, os pais de alunos estadunidenses compreendem o porquê de as escolas precisarem preparar os alunos para um ataque destes. Mas eles encaram isso com tristeza e indignação em relação aos rumos que o país está tomando.
Os pais Rick Healey e Georgy Cohen estavam visitando a escola em que a filha de cinco anos do casal vai estudar, e se depararam com o cartaz com o poema:
Lockdown. Lockdown
tranque a porta
Apague as luzes
Não diga mais nada
Fique atrás da carteira
e se esconda
Espere até que esteja seguro aqui dentro
Lockdown. Lockdown
terminou
Agora é hora de se
divertir
Lockdown em inglês significa confinamento, e é um dos termos usado em escolas norte-americanas para se referir à situação em que há uma pessoa perigosa dentro da escola ou ao redor do prédio. Neste caso, que é anunciado pelo sistema de som da escola ou percebido espontaneamente por alunos e professores, todos devem trancar as portas, apagar as luzes, ficar longe das portas e se esconder até que a polícia chegue e libere o grupo.
Há também o termo lockout, que é uma situação menos urgente e normalmente envolve uma pessoa suspeita nas imediações da escola, que normalmente não tem cercas e muros como as escolas brasileiras. Por lá, muitas escolas (principalmente as de subúrbios) são como parques abertos, cercadas por gramados e árvores e com uma entrada principal e várias entradas e saídas secundárias – também usadas como saídas de emergência – nas laterais e fundos. Neste caso, todas as portas e janelas externas devem ser trancadas. As atividades externas como educação física ou recreio são suspensas e todos devem ficar dentro da escola, mas as atividades internas continuam normalmente.
As escolas costumam realizar treinamentos mensais ou trimestrais para esses dois tipos de emergência, além de treinamento para evacuação ou para proteção em caso de terremotos ou tempestades. Nesses últimos dois casos, os alunos devem se esconder embaixo das carteiras, que em muitas escolas têm tampo de metal reforçado para atuar como um pequeno bunker.
A escola visitada pelo casal fica na cidade de Somerville em Massachusetts.
“Eu reconheço a necessidade disso, sei que é necessário. Mas me deixa chateado e me enoja que isso é necessário”, diz o pai da criança para a CNN.
Foi a mãe quem registrou a foto do cartaz e a compartilhou no Twitter com a legenda: “isso não deveria estar pendurado na futura sala de pré-escola da minha filha”.
Esse tipo de ação da escola para tentar salvar os alunos de um possível ataque não é incomum. Uma escola de ensino fundamental II da Pensilvânia distribuiu placas à prova de balas do tamanho de livros para os alunos colocarem na mochila, para que suas costas fiquem protegidas caso haja um tiroteio, ou que a placa seja posicionada pelo aluno conforme necessário.
Na Califórnia, alunos cansados da falta de ação de políticos criaram eles mesmos um projeto de lei para controle da venda de armas.
O prefeito de Somerville elogiou a ação da escola. “Um de nossos educadores usou uma rima para ajudar nossos jovens alunos a ficarem calmos e se lembrarem dos passos que devem ser tomados durante um treinamento ou em uma emergência real”, afirmou. “Por mais que preferíssemos que os lockdowns de escolas não fossem uma parte da experiência educacional, infelizmente este é o mundo em que vivemos. É terrível. É terrível para alunos, para educadores e para as famílias”, complementou ele ao canal de notícias americano.
A mãe da criança conta que esta não é a primeira experiência da filha com esse tipo de treinamento. Ela relata que há algumas semanas a menina chegou em casa entusiasmada, descrevendo um “divertido jogo” em que as crianças tinham que tentar ficar em silêncio por um minuto inteiro, como se estivessem em um lockdown. “Isso não é algo que deveríamos estar acostumados. Nós precisamos ficar horrorizados, chateados e abalados”, defende a mãe. [CNN]