Proteína humana bloqueia a replicação do Zika e evita a morte celular

Por , em 16.06.2016

Os cientistas finalmente descobriram o que vírus Zika faz para o corpo humano e isso explica por que seus efeitos podem ser tão devastadores, mas as infecções podem passar meses sem detecção. Um novo estudo mostrou que não apenas ele ataca diretamente as células progenitoras do cérebro, impedindo que cerca de 20% delas formem novos neurônios, mas faz isso sem alertar o sistema imunológico do corpo, por isso pode continuar replicando a si mesmo no cérebro durante semanas.

A boa notícia é que, tendo uma melhor compreensão de como o Zika é tão bem-sucedido em se espalhar por todo o corpo humano, os cientistas do Centro Médico da Universidade de Texas (EUA) encontraram uma maneira de combatê-lo.

Tem sido demonstrado que a proteína transmembranar induzida por interferon 3 (IFITM3), produzida naturalmente no corpo, reduz a capacidade do Zika de infectar células cerebrais em seres humanos e ratos e pode até mesmo impedir a mortandade celular associada ao vírus. “Este trabalho representa um primeiro olhar em como as nossas células se defendem contra o ataque do vírus Zika”, diz um membro da equipe, Abraham Brass, professor assistente de sistemas microbiológicos e fisiológicos, em entrevista ao Science Daily. “Nossos resultados mostram que o vírus Zika tem uma fraqueza que poderá ser explorada para prevenir ou impedir a infecção”.

Vírus ameaçador

Desde o último verão, a propagação do Zika tem sido lenta, mas constante, e agora temos um total de 52 países onde as infecções surgiram localmente, incluindo o Brasil, Cuba, Papua Nova Guiné e Filipinas. Lugares como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália têm casos notificados após as pessoas voltarem de viagem e os EUA tiveram recentemente seu segundo nascimento confirmado de um bebê infectado pelo vírus.

A notícia é grave porque os cientistas finalmente encontraram o mecanismo biológico que liga o Zika à microcefalia – uma desordem neurológica rara e devastadora que faz com que recém-nascidos desenvolvam crânios e cérebros anormalmente pequenos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou oficialmente em abril que o vírus é o culpado pelos números exorbitantes de defeitos de nascimento nos países afetados.

Arma secreta

Mas agora podemos finalmente ter encontrado uma resposta para a epidemia que tem varrido as Américas e o Pacífico durante o último ano – e a solução estaria se escondendo em nossos corpos o tempo todo.

Brass e sua equipe estavam pesquisando a atividade da proteína IFITM3 em relação a infecções virais emergentes, porque descobriram que as pessoas que têm uma variante genética (alelo) do gene IFITM3 são mais suscetíveis ao desenvolvimento de influenza grave. Esta variante parece ser bastante rara em pessoas de ascendência europeia, mas é mais comum na Ásia e Micronésia – a região do Oceano Pacífico ocidental localizada entre as Filipinas a oeste, a Indonésia a sudoeste, a Nova Guiné e a Melanésia a sul e a Polinésia a sudeste e leste.

Depois de trabalhar com o vírus da dengue e outros vírus relacionados ao Zika, a equipe encontrou evidências de que a IFITM3 pode bloquear a replicação dentro de células saudáveis. Então, os cientistas aumentaram os níveis da proteína dentro de células humanas e de ratos para ver como uma infecção Zika iria responder.

Em ambos os casos, os pesquisadores descobriram que aumentar os níveis IFITM3 realmente alterou a membrana celular, deixando-a mais dura, de maneira que o vírus tinha dificuldade em rompê-la. Se as células tinham níveis menores de IFITM3 do que o habitual, os vírus rompiam as defesas das células e se replicavam dentro dela mais facilmente.

Proteína IFITM3

“De fato, vemos que a IFITM3 permite que nossas células engulam e coloquem o vírus em quarentena parando, assim, a sua própria infecção e também a infecção de células vizinhas”, explicou o principal autor do estudo, George Savidis. “Acreditamos que isso também reduz os níveis de morte celular causada pelo vírus Zika”.

“A IFITM3 praticamente mantém o vírus Zika preso em terra de ninguém, onde não pode fazer nada para nos prejudicar”, acrescentou.

Os efeitos da proteína só foram testados em células extraídas de seres humanos e camundongos e cultivadas em laboratório, por isso eles ainda terão de ser testados in situ (no exato local onde esse processo aconteceria naturalmente) antes de podermos ficar muito animados com o potencial de um novo tratamento ou vacina para Zika.

A equipe pretende testar suas descobertas em ratos que têm deficiência de IFITM3 para ver se eles são mais suscetíveis aos efeitos do vírus. Os pesquisadores também vão procurar moléculas que podem aumentar os níveis de IFITM3 no corpo, o que poderia levar ao desenvolvimento de uma nova droga que não só combate Zika, mas muitos outros vírus relacionados. Neste momento, não há tratamento, cura ou prevenção do Zika.

“Uma grande quantidade de dados por nós e outros [pesquisadores] do campo mostraram que IFITM3 tem um grande impacto no bloqueio de muitos vírus emergentes, como dengue, Zika e ebola”, conta Brass. “Dado os nossos resultados recentes, agora é ainda mais importante que trabalhemos para descobrir como a IFITM3 está bloqueando esses vírus e usemos esse conhecimento para prevenir e tratar infecções”. [Science Alert, Science Daily]

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