Revolução Alimentar: A Inovação da Zya na Transformação do Açúcar em Fibra

Por , em 24.02.2024

O consumo excessivo de açúcar é reconhecido como prejudicial à saúde, podendo levar a problemas como ganho de peso, obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Esse desafio é particularmente acentuado nos Estados Unidos, onde cerca de 75% dos alimentos processados disponíveis nos supermercados contêm açúcar adicionado. Curiosamente, até produtos considerados saudáveis, como iogurtes, frequentemente apresentam altos níveis de açúcar. Em média, os adultos americanos consomem duas a três vezes a quantidade diária recomendada de açúcares adicionados.

Diante dessa realidade, uma startup de tecnologia alimentar do Reino Unido, a Zya, propõe uma solução inovadora para reduzir os impactos do açúcar na saúde sem comprometer o sabor. A empresa, com sede em Londres e que recentemente saiu de sua fase inicial de desenvolvimento, desenvolveu uma enzima capaz de transformar açúcar em fibra. O processo ocorre dentro do sistema digestivo humano após a ingestão do alimento.

Joshua Sauer, CEO e cofundador da Zya, destaca a missão da empresa de transformar a maneira como o corpo humano processa os alimentos através do uso de enzimas. Enzimas são catalisadores naturais que aceleram reações químicas e são essenciais na digestão. Para pessoas com deficiência de certas enzimas digestivas, suplementos como Lactaid, para a lactose, ou Beano, para redução de gases, são comuns.

Entretanto, o foco da Zya não está na produção de suplementos. A empresa busca parcerias com fabricantes de alimentos para incluir sua enzima diretamente em produtos alimentícios, como cereais e doces, aprimorando sua qualidade nutricional desde a fabricação.

Os açúcares são carboidratos que o corpo converte em glicose, uma fonte vital de energia. Ao contrário dos açúcares naturalmente presentes nas frutas, que vêm acompanhados de fibras e nutrientes, os açúcares adicionados em bebidas adoçadas e sobremesas são frequentemente desnecessários e podem levar a aumentos nos níveis de glicose no sangue, pressão arterial e inflamação crônica.

A fibra, essencial para a saúde digestiva e para regular os níveis de colesterol e glicose no sangue, é encontrada principalmente em vegetais, grãos integrais e leguminosas. Contudo, apenas uma pequena porcentagem de americanos consome a quantidade recomendada de fibra diariamente, cerca de 30 gramas.

A enzima desenvolvida pela Zya pertence à família das inulosucrases, produzida naturalmente por certas bactérias do microbioma humano, capaz de converter açúcar em fibra. Esta enzima, não suficientemente presente no intestino humano, foi aprimorada pela empresa para maior estabilidade e eficácia no trato gastrointestinal.

Em experimentos de laboratório, a enzima conseguiu converter uma parte do açúcar em fibra em ambientes simulados do intestino humano e em produtos alimentícios reais. Testes adicionais em animais, como porcos, cujo sistema digestivo é semelhante ao dos humanos, mostraram resultados promissores na conversão de açúcar em fibra. A Zya planeja realizar testes em humanos para validar esses resultados.

Até o momento, a Zya arrecadou mais de £4.1 milhões através de capital de risco, com planos de lançar seu produto, Convero, no mercado americano até 2026, inicialmente focando em produtos alimentícios secos. No entanto, a aprovação da FDA dos EUA é necessária antes do lançamento no mercado.

Wendelyn Jones, do Instituto para o Avanço da Ciência Alimentar e Nutricional, ressalta os desafios regulatórios, especialmente no que diz respeito à rotulagem e listagem de ingredientes dos alimentos que contenham tais enzimas. Empresas como a Zya devem navegar por essas regulamentações, especialmente ao fazer reivindicações de saúde sobre seus produtos.

A Zya não é a única empresa a explorar essa tecnologia. Outras, como a Kraft Heinz em colaboração com o Instituto Wyss da Universidade de Harvard, também estão desenvolvendo enzimas similares. Especialistas em ciência alimentar, como Taylor Wallace do Think Healthy Group, reconhecem o potencial dessas enzimas na abordagem de questões relacionadas à dieta, embora alertem que não devem ser vistas como soluções únicas para a obesidade. Mark Haub, professor da Universidade Estadual do Kansas, também vê mérito em tecnologias que tornam os alimentos do dia a dia mais saudáveis. [Wired]

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