Ritalina e o Cérebro: Estudo Revela Diferenças Cruciais entre Ingestão Oral e Injetável

Por , em 11.11.2023

Uma pesquisa recente revelou que áreas específicas do cérebro são estimuladas de maneiras distintas, dependendo se um medicamento é injetado ou tomado via oral. Esse aumento na atividade cerebral está associado a uma sensação intensificada de prazer, o que pode abrir caminhos para novos tratamentos de dependência química.

A forma de ingestão do medicamento influencia a rapidez com que ele chega ao cérebro, afetando assim seu potencial de vício. Até o momento desta pesquisa, os processos cerebrais subjacentes a este fenômeno não eram completamente compreendidos.

O estudo foi conduzido por especialistas do Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas e do Instituto Nacional sobre o Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA, ambos parte dos Institutos Nacionais de Saúde. O objetivo era entender como o método de ingestão do medicamento afeta as reações cerebrais.

Nora Volkow, pesquisadora-chave no estudo, mencionou: “Sabemos há muito tempo que quanto mais rápido um medicamento entra no cérebro, mais viciante ele é – mas não sabíamos exatamente por quê”. Ela ressaltou a importância desse entendimento no desenvolvimento de estratégias de prevenção, novos métodos de tratamento para abuso de substâncias e na luta contra a crise de overdose.

Na pesquisa, 20 adultos saudáveis foram submetidos a três sessões nas quais receberam ou um placebo ou uma pequena dose do estimulante metilfenidato (conhecido como Ritalina), seja por via oral ou injetável. A Ritalina, comumente prescrita para TDAH, é segura e eficaz, sendo usada em pesquisas para examinar como os medicamentos afetam o cérebro e a experiência do usuário.

Após a administração, a equipe usou imagens de PET e fMRI para estudar os níveis de dopamina e a atividade cerebral dos participantes. Os exames de PET mostraram que os níveis de dopamina aumentavam mais rapidamente com a ingestão intravenosa do medicamento. Os exames de fMRI revelaram que o córtex pré-frontal ventromedial era menos ativo tanto com o uso oral quanto intravenoso do medicamento. No entanto, o córtex cingulado anterior dorsal e a ínsula, partes da “rede de saliência” do cérebro, só eram ativados pela administração intravenosa. Esse padrão foi consistente em todos os participantes.

A rede de saliência ajuda a focar a atenção e a avaliar a importância dos estímulos ambientais, incluindo sensações internas como os efeitos das drogas. Danos à ínsula foram associados à remissão da dependência, destacando a importância da rede de saliência no uso de substâncias e na dependência.

Os participantes também relataram suas sensações de euforia em tempo real após as doses orais e intravenosas de metilfenidato. Os pesquisadores observaram uma forte correlação entre a atividade da rede de saliência e a sensação de euforia dos participantes com a administração intravenosa. Isso sugere o papel da rede não apenas na ação química do medicamento, mas também na experiência consciente do prazer proporcionado pela droga.

Peter Manza, autor principal do estudo, destacou a excepcional consistência e clareza dos resultados de fMRI, reforçando o potencial da rede de saliência como alvo para o desenvolvimento de terapias contra o vício.

O próximo passo da equipe é investigar se a inibição da rede de saliência pode bloquear os efeitos eufóricos do uso de medicamentos, apoiando sua viabilidade como um alvo de tratamento para distúrbios de uso de substâncias. [New Atlas]

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