NASA: rover detecta uma nuvem de gás que indica a possibilidade de vida em Marte
O veículo Curiosity da NASA descobriu quantidades surpreendentemente altas de metano no ar de Marte, um gás que na Terra é normalmente produzido por seres vivos.
A medição foi realizada na quarta-feira (19) e os dados chegaram à Terra na quinta. No entanto, são preliminares e os cientistas ainda estão investigando a situação mais a fundo.
Os controladores da missão na Terra enviaram novas instruções ao rover na sexta-feira (21) para acompanhar as leituras.
A NASA reconheceu a detecção em um comunicado no sábado à tarde (22), mas a chamou de um “resultado precoce”. O porta-voz da agência acrescentou: “Para manter a integridade científica, a equipe do projeto continuará a analisar os dados antes de confirmar” os dados.
Significado do metano
Na Terra, micróbios conhecidos como metanogênicos prosperam em lugares sem oxigênio, como rochas subterrâneas profundas e tratos digestivos de animais, liberando metano como resíduo. No entanto, reações geotérmicas desprovidas de biologia também podem gerar o gás.
A possibilidade de vida em Marte nos fascina há décadas. As primeiras missões da NASA nos anos 1970 fotografaram uma paisagem desolada. Duas décadas depois, cientistas planetários pensaram que Marte poderia ter sido mais quente, mais úmido e mais habitável em sua juventude, cerca de 4 bilhões de anos atrás. Agora, eles pensam que, se a vida alguma vez surgiu em Marte, seus descendentes microbianos poderiam ter migrado para o subsolo e persistido.
O metano, se estiver mesmo no fino ar de Marte, é significativo, porque a luz solar e as reações químicas quebrariam as moléculas dentro de alguns séculos. Assim, qualquer metano detectado agora deve ter sido lançado recentemente.
Mas também é possível que o metano seja antigo, preso dentro de Marte por milhões de anos, e esteja escapando intermitentemente através de rachaduras.
Histórico complicado
Os cientistas relataram pela primeira vez detecções de metano em Marte há uma década e meia usando medições da Mars Express, uma espaçonave orbital construída pela Agência Espacial Europeia e ainda em operação, assim como de telescópios na Terra.
No entanto, essas descobertas estavam no limite do poder de detecção dessas ferramentas, e muitos pesquisadores acreditavam que o metano poderia ser apenas uma “miragem” de dados equivocados.
Quando a sonda Curiosity chegou a Marte em 2012, ela procurou por metano e não encontrou nada, ou menos de 1 parte por bilhão na atmosfera. Então, em 2013, detectou um pico repentino, de até 7 partes por bilhão, que durou pelo menos dois meses. A medição desta semana encontrou 21 partes por bilhão de metano, ou três vezes o pico de 2013.
Mesmo antes da descoberta desta semana, o mistério do metano marciano vinha se aprofundando.
Os cientistas da Curiosity desenvolveram uma técnica que permite ao rover detectar quantidades ainda menores de metano com suas ferramentas existentes. O gás parece subir e descer com as estações do Planeta Vermelho. Uma nova análise das antigas leituras da Mars Express confirmou as descobertas da Curiosity em 2013.
Mas o Trace Gas Orbiter, uma nova espaçonave europeia lançada em 2016 com instrumentos mais sensíveis, não detectou nenhum metano em sua primeira ronda de observações científicas no ano passado.
Será que os cientistas vão conseguir juntar todas essas peças do quebra-cabeça e resolver este enigma? As próximas semanas deverão nos trazer algumas respostas. [NYTimes]