Um “espelho” do nosso universo pode ter existido antes do Big Bang

Por , em 23.01.2019

Como o reflexo invertido de uma montanha em um lago calmo, parece que o universo pode ter tido uma imagem espelhada perfeita antes do Big Bang.

Essa é a proposta de um novo estudo do Instituto Perimeter de Física Teórica (Canadá): um universo invertido que explicaria a simetria do nosso atual.

Espelho

Os físicos têm uma boa ideia da estrutura do universo alguns segundos após o Big Bang, avançando até hoje.

No entanto, o que aconteceu naquele primeiro momento – quando um minúsculo grão de matéria, infinitamente denso, se expandiu e se tornou tudo que existe – é altamente debatido.

Os cientistas frequentemente presumem que a física fundamental foi de alguma forma alterada logo após a explosão.

Agora, os pesquisadores Latham Boyle, Kieran Finn e Neil Turok decidiram abandonar essa ideia. Ao invés disso, eles assumiram que o universo sempre foi fundamentalmente simétrico e simples, e matematicamente o extrapolaram daquele primeiro momento após o Big Bang.

Universo invertido

Isso os levou a propor um universo anterior que era uma imagem espelhada do nosso atual, com tudo invertido. O tempo andava para trás e as partículas eram antipartículas.

“Em vez de dizer que havia um universo diferente antes do Big Bang, estamos dizendo que o universo antes do Big Bang era, de fato, em algum sentido, uma imagem-espelho do universo depois do Big Bang. É como se nosso universo hoje fosse refletido através do Big Bang”, disseram os pesquisadores ao portal Live Science.

Para entender melhor o conceito, imagine quebrar um ovo nesse antiuniverso. A partir de nossa perspectiva no tempo, ele parece passar de uma poça de clara e gema a um ovo rachado a um ovo não rachado dentro de uma galinha.

Dicotomia

Visto de outra maneira, ambos os universos teriam sido criados no Big Bang e explodido simultaneamente para trás e para frente no tempo.

Essa dicotomia permite algumas explicações criativas para problemas que intrigam os físicos há anos.

Por um lado, tornaria o primeiro segundo do universo bastante simples, eliminando a necessidade dos bizarros multiversos e dimensões que os especialistas vêm usando há três décadas para explicar alguns dos aspectos mais excêntricos da física quântica e do Modelo Padrão, que descreve as partículas subatômicas que compõem o nosso universo.

“Teóricos inventaram grandes proposições unificadas, com centenas de novas partículas que nunca foram observadas – supersimetria, teoria das cordas com dimensões extras, teorias de multiversos. As pessoas basicamente continuaram inventando coisas. Nenhuma evidência observacional surgiu de nada disso”, argumenta Turok.

Matéria escura

Da mesma forma, esta hipótese ofereceria uma explicação muito mais simples para a matéria escura.

“Repentinamente, quando você adota essa visão estendida e simétrica de espaço/tempo, uma das partículas que já pensamos existir – chamada neutrino inerte – torna-se um excelente candidato a matéria escura, e você não precisa invocar outras partículas mais especulativas”.

O neutrino inerte é uma partícula teórica que passaria através da matéria comum sem interagir com ela.

O atual candidato favorito à matéria escura – partícula massiva de interação fraca, ou WIMP – não foi detectado ainda, o que significa que talvez seja hora de considerar outras opções, incluindo neutrinos inertes.

Confirmação

Os cientistas dizem que essa nova teoria surgiu de uma insatisfação com as hipóteses complicadas e não comprovadas propostas pelos físicos nos últimos anos. O próprio Turok ajudou a desenvolver tais explicações, mas desejava uma elucidação mais simples do universo e do Big Bang.

Apesar de ainda ser abstrata, a nova teoria tem o benefício de ser testável. “Se alguém pode encontrar uma versão mais simples da história do universo do que a existente, então isso é um passo à frente. Não significa que é a certa, mas sim que vale a pena pesquisá-la”, disse Sean Carroll, cosmologista do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA) que não esteve envolvido na pesquisa.

A equipe canadense pretende usar seu modelo para propor elementos mensuráveis e testáveis a fim de descobrir se ele é válido.

Por exemplo, os cientistas preveem que os neutrinos mais leves devam ser totalmente desprovidos de massa. Se estiverem certos, isso pode mudar a forma como vemos o universo. [LiveScience]

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