Estudo mede honestidade em 15 países. Veja como o Brasil se saiu

Por , em 18.11.2015

Uma pesquisa da Universidade de East Anglia (Reino Unido) testou o nível de honestidade das pessoas em quinze países, incluindo o Brasil.

O objetivo era descobrir se a integridade era importante para o crescimento econômico, e a conclusão foi de que, hoje em dia, não é. No entanto, foi mais útil em períodos anteriores da história, por exemplo, até 1950.

Os quinze

O estudo examinou se pessoas de diferentes países eram mais ou menos honestas, e como isso se relacionava com o desenvolvimento econômico de um país. As nações estudadas foram Brasil, China, Grécia, Japão, Rússia, Suíça, Turquia, Estados Unidos, Argentina, Dinamarca, Reino Unido, Índia, Portugal, África do Sul e Coréia do Sul.

Elas foram escolhidas para fornecer uma mistura de regiões, diferentes níveis de desenvolvimento e diferentes níveis de confiança social.

Mais de 1.500 participantes fizeram parte de uma pesquisa online envolvendo dois experimentos incentivados (com prêmios em dinheiro), projetados para medir o comportamento honesto.

De acordo com o principal autor do estudo, Dr. David Hugh-Jones, houve evidências de desonestidade em todos os países, mas os níveis variaram significativamente entre eles. Por exemplo, a desonestidade estimada em um dos experimentos variou de 3,4% no Reino Unido para 70% na China.

O experimento da moeda

Primeiro, as pessoas foram convidadas a lançar uma moeda e indicar se tiraram “cara” ou “coroa”. No caso de ser “cara”, seriam recompensadas com US$ 3 ou US$ 5.

Os pesquisadores saberiam se um país fosse desonesto caso a proporção de relatos de “cara” fosse maior do que o acaso, ou seja, 50%.
Neste experimento, o Reino Unido se saiu melhor – menos desonestidade entre os quinze países – e a China foi a pior. Os outros três países menos honestos foram Japão, Coreia do Sul e Índia. Em quinto lugar no pódio da desonestidade, apareceu o Brasil. Somos piores que dez outros países, mas melhores que outros quatro.

A média de desonestidade brasileira foi parecida com a Rússia, que veio logo em seguida, e não muito distante dos próximos países menos honestos: Argentina, Estados Unidos, Turquia, Dinamarca, Suíça, Grécia e Portugal. Os realmente bastante honestos, além do pessoal do Reino Unido, foram os da África do Sul.

O quiz

Os mesmos participantes foram em seguida convidados a responder um quiz sobre música, novamente envolvendo recompensa financeira dependendo dos acertos. Eles foram orientados a não procurar as respostas na internet, e tinham que confirmar que haviam respondido por conta própria antes de passar para a próxima pergunta.

Três das perguntas eram deliberadamente difíceis (por exemplo, “Em que ano Claude Debussy nasceu?”) para que fosse altamente improvável que os participantes soubessem a resposta. Assim, mais uma vez, os pesquisadores saberiam se um país fosse desonesto ao ver quantas pessoas além da probabilidade haviam acertado as perguntas difíceis.

No questionário, os entrevistados do Japão foram os mais honestos. Os menos honestos foram os da Turquia, seguidos dos chineses e indianos.

Os países asiáticos, predominante mais desonestos do que os outros no primeiro experimento, ficaram bem distribuídos no segundo experimento, onde ocuparam o primeiro lugar em honestidade e ficaram em posições intermediárias, exceto por China e Índia.

Segundo o Dr. Hugh-Jones, essa diferença dos países asiáticos nos dois experimentos pode ser explicada por visões culturais específicas, como atitudes em relação a jogos de azar, ao invés de diferenças na honestidade em si.

O Brasil se manteve na quinta posição de menos honesto. O ranking foi, do mais ao menos honesto: Japão, Reino Unido, Estados Unidos, Dinamarca, Suíça, África do Sul, Coreia do Sul, Grécia, Argentina, Rússia, Brasil, Portugal, Índia, China e Turquia.

Gráficos sobre os dois experimentos, mostrando os países mais (no começo) e menos honestos (no final). Os riscos em cada barra que representa os países mostra o intervalo de desonestidade, com 95% de precisão

Gráficos sobre os dois experimentos, mostrando os países mais (no começo) e menos honestos (no final). Os riscos em cada barra que representa os países mostra o intervalo de desonestidade, com 95% de precisão

Por aqui, é pior

Os participantes também foram convidados a prever a honestidade média das pessoas de outros países, ao tentar adivinhar quantos entrevistados a partir de um determinado país mentiriam.

O estudo revelou que as crenças dos participantes não refletiam a realidade.

“As crenças sobre a honestidade parecem ser conduzidas por características psicológicas, tais como autoprojeção. Surpreendentemente, os participantes eram mais pessimistas sobre a honestidade das pessoas no seu próprio país. Uma explicação para isso poderia ser que as pessoas estão mais expostas a notícias sobre a desonestidade ocorrendo em seu próprio país do que em outros”, afirmou o Dr. Hugh-Jones.

Quem aí está pensando na síndrome do vira-lata brasileiro, que acha que nosso país é o pior de todos, em tudo, sempre?

No estudo, as pessoas esperavam que a Grécia fosse o país menos honesto, o que não aconteceu nunca. No experimento da moeda, foi um dos países mais honestos, enquanto no quiz ficou em uma posição intermediária.

Dos entrevistados que esperavam menos honestidade em seu próprio país, os da Grécia e China foram os mais pessimistas.

Honestidade e economia

O Dr. Hugh-Jones tinha um interesse nas raízes culturais e comportamentais dos países e sua influência no desenvolvimento econômico destes.

Ele concluiu que, enquanto a honestidade dos países se relaciona com sua economia – os mais pobres foram menos honestos do que os mais ricos -, essa relação foi mais forte para o crescimento econômico que teve lugar antes de 1950.

“Eu acho que a relação entre honestidade e crescimento econômico tem sido mais fraca ao longo dos últimos 60 anos e há pouca evidência de uma ligação entre crescimento atual e honestidade”, disse. “Uma explicação é que quando as instituições e tecnologia são subdesenvolvidas, a honestidade é importante como um substituto para a execução formal de contratos. Os países com culturas que colocam um valor alto em honestidade são capazes de colher os ganhos econômicos. Mais tarde, esse crescimento econômico melhora as instituições e tecnologia, tornando os contratos mais fáceis de acompanhar e cumprir, de modo que uma cultura de honestidade não é mais necessária”.

Outra lição importante da pesquisa é que as crenças das pessoas sobre a honestidade dos seus conterrâneos ou de cidadãos de outros países não é sempre precisa, e precisamos saber como isso afeta a forma com que interagem. Por exemplo, a vontade de uma nação de apoiar a dívida de outra pode ser afetada por estereótipos sobre as pessoas que precisam de ajuda. “É importante entender como essas crenças são formadas”, explica Hugh-Jones. [Phys, UEA]

2 comentários

  • Vagner Pereira da luz:

    Acho que no teste da moeda não levaram em conta a maior necessidade dos chineses, pois para eles 3 dólares é um dia de trabalho duro.

  • Rodrigo Andrade de Oliveira:

    Eu acho que um teste online não é o mais recomendável com países em desenvolvimento, como o Brasil.

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