A dificuldade de explorar as profundezas da Terra

Por , em 3.01.2016
Caverna Voronya a 1.980 metros

Caverna Voronya a 1.980 metros

O explorador de cavernas Bill Stone anunciou que, em 2017, vai liderar uma expedição ao sistema de cavernas Cheve, um complexo subterrâneo na região de Oaxaca no México, que pode ter cerca de 2,57 quilômetros de profundidade.

Se isso for verdade, Cheve iria ganhar o título de caverna mais profunda do mundo, batendo o recorde atualmente detido pela Caverna Voronya nas montanhas do Cáucaso Ocidental, na Geórgia, com cerca de 2,09 quilômetros de profundidade.

Recorde evasivo

Mesmo se Cheve estabelecer um novo recorde, ele pode não durar. Dados geológicos nos levam a acreditar que existem inúmeras cavernas profundas desconhecidas em todo o mundo.

Tendo em conta os limites da tecnologia utilizada para sua detecção, porém, encontrar essas cavernas é um grande desafio, e explorá-las um ainda maior.

O que há debaixo da Terra

Terrenos conhecidos como relevos cársticos, em que a água pode infiltrar-se para esculpir cavernas, cobrem 20 a 25% da superfície terrestre do planeta. “Há provavelmente dezenas de milhares de cavernas desconhecidas lá fora”, explica George Veni, diretor-executivo da Caverna Nacional e Instituto de Pesquisa Carste nos EUA.

Pelo menos em teoria, algumas dessas cavernas podem atingir profundidades maiores do que quaisquer seres humanos já exploraram. “O único limite é quão longe as águas subterrâneas podem circular no calcário até que a pressão se torne muito grande”, disse o hidrólogo Lewis Land. “E parece que [esse limite é] muito mais profundo do que se pensava”.

O Poço Superprofundo de Kola, um experimento da era soviética para perfurar profundamente a Terra que durou de 1970 até 1994, encontrou circulação de água a uma penetração de quase 7 quilômetros.

Na década de 1980, um projeto de exploração de petróleo em Oklahoma, nos EUA, alcançou uma caverna pelo menos 3,5 quilômetros abaixo da superfície da Terra. No entanto, esse tipo de câmara subterrânea, que não tem entrada em qualquer lugar perto do nível de superfície, é difícil, se não impossível de se explorar.

Melhorar a tecnologia de detecção

Outras cavernas superprofundas podem ser acessíveis, no entanto – os pesquisadores só precisam conseguir localizá-las. Neste momento, os meios para fazer isso são restritos.

A tecnologia de detecção mais disponível para exploradores é a resistividade elétrica, em que um instrumento mede como a eletricidade se move através do solo, e procura por flutuações sutis que indicam uma caverna abaixo da superfície.

Mas esse método só é útil a uma profundidade de cerca de 240 metros. Sísmica de reflexão, uma tecnologia usada por empresas de prospecção de petróleo e gás, pode chegar mais fundo, mas não tem a resolução para detectar uma passagem que pode ser de apenas alguns metros de largura.

E enquanto os cientistas espaciais podem estudar mundos distantes com satélites incríveis, as tecnologias de sensoriamento remoto são muito limitadas com cavernas. Em algumas circunstâncias, imagens térmicas podem revelar entradas de cavernas com fluxo de ar frio ou quente em comparação com as temperaturas de superfície.

Nem a tecnologia, nem o homem chega

A única forma real de determinar a profundidade de uma caverna é quando os seres humanos chegam ao fundo dela, e não há nenhuma garantia de que seremos capazes de sondar profundamente o sistema Cheve, por exemplo, para definir o recorde.

A Caverna Voronya, mencionada no início desse texto, pode ser pelo menos tão profunda quanto o tamanho projetado de Cheve. De acordo com Alexander Klimchouk, pesquisador do Instituto de Ciências Geológicas, ela também ainda permanece inexplorada em certas partes.

Aplicações interessantes

Independentemente de qual caverna acabar por ser a mais profunda, a ciência vai ganhar. Estes espaços contém uma quantidade potencialmente grande de informação. Por exemplos, são cheios de organismos vivos, incluindo insetos e micróbios que podem ajudar os cientistas a descobrir novos antibióticos e outros medicamentos.

As cavernas fundas também preservam evidências de ciclos climáticos do passado, que os pesquisadores podem usar para ajustar seus modelos para tendências futuras.

Além disso, a NASA está interessada em estudar cavernas na Terra para desenvolver tecnologia para explorá-las em Marte ou outros mundos. [LiveScience]

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